Não é inédita a característica desse ciclo de 12 anos de PT no Planalto, em que, no período Lula, houve crescimento, a partir do ajuste feito no primeiro mandato, desembocando no excesso de estímulos fiscais e creditícios do fim do segundo governo e durante toda a gestão de Dilma. No final do ciclo, agora em 2014, resta um economia em crise — estagnada, inflação nas alturas, grave déficit fiscal e perigoso desequilíbrio externo.

O desanimador é que este mesmo script o Brasil segue durante todos os 125 anos de República. A começar por Rui Barbosa, primeiro ministro da Fazenda do regime republicano, no governo provisório do marechal Deodoro da Fonseca (1889-91). Aquele que seria a Águia de Haia manteve uma política expansionista que vinha sendo executada nos estertores da Monarquia e, assim, produziu uma bolha especulativa que entrou para a história como o "Encilhamento", gerado por emissões sem medidas. Dessa forma, os atuais "desenvolvimentistas" têm como patrono Rui Barbosa, gostem ou não. Já havia adeptos no Brasil, portanto, da ideia de que o Estado pode e deve induzir o desenvolvimento com políticas voluntaristas.

A política de Rui produziu rápido crescimento, euforia — como em 2010, quando a expansão a 7% foi posto a serviço da candidata Dilma — e, na virada da curva, quebradeira.

Algum tempo depois, já no governo Campos Sales (1898-1902), chegou a hora de Joaquim Murtinho, ministro da Fazenda, fazer o ajuste, depois da farra do começo da República. Desde então, o Brasil evolui numa gangorra, ou montanha-russa, entre "ruis" e "murtinhos".

De Joaquim I descende Joaquim II , o Levy, prestes a tomar posse no mesmo cargo dos antecessores ilustres, já personagens da história brasileira. Como Murtinho, Levy precisa arrumar as contas públicas.

Com Dilma, as finanças públicas foram novamente desarrumadas, no padrão brasileiro de altos e baixos, de políticas ditas desenvolvimentistas que soltam as forças da inflação, produzem crescimento efêmero, para tudo acabar em inflação e déficits estrondosos. Nesses 125 anos de República, outro legítimo descendente de Rui Barbosa foi Juscelino Kubitschek, com seus gastos em Brasília, abertura frenética de estradas. E por aí fomos, enquanto se cevava a inflação que estaria no pano de fundo do Golpe de 64.

O último capítulo deste enredo é o "novo marco macroeconômico", do primeiro governo Dilma. Como se vê, nada há de novidade. Trata-se do velho e bem brasileiro voluntarismo que acha possível alcançar-se o desenvolvimento perene por meio de canetadas dos poderosos de turno. Tudo dependeria só de "vontade política".

Mais de século depois de Rui Barbosa e sua experiência como ministro da Fazenda, já era tempo de se pactuar no Brasil que há leis na economia que não podem ser desrespeitadas por qualquer corrente ideológica, à direita ou à esquerda.