Passados seis anos da morte da menina Isabella Nardoni, de 5 anos, uma funcionária do sistema prisional de São Paulo, que diz ter conversado com Anna Carolina Jatobá, madrasta da menina, prestou depoimento ao Ministério Público (MP) na última terça-feira. Segundo reportagem neste domingo pelo “Fantástico”, a testemunha contou detalhes de conversas que teve com Anna Jatobá, em que ela teria afirmado que o sogro, Antônio Nardoni, também teve envolvimento no crime. E que não o denunciou porque ele sustenta a família e manda presentes para ela na cadeia.
— Ela falou que o sogro mandou, orientou os dois a simular um acidente. Eu ouvi da boca dela, olho no olho — disse a funcionária, que teve sigilo garantido pelo MP.
Em 2010, o casal Alexandre Nardoni e Anna Jatobá foi condenado pela morte de Isabella. A menina morreu ao ser jogada pela janela do sexto andar de um apartamento na Zona Norte de São Paulo. Alexandre foi sentenciado a 31 anos de prisão em regime fechado. Por ser o pai, praticou crime contra descendente e teve pena maior do que a da mulher. Anna foi condenada a 26 anos.
‘Ela não parava de encher o saco’
Segundo a funcionária, a madrasta de Isabella assumiu ter batido na menina com violência dentro do carro que a família usou para ir ao supermercado, pouco antes do crime, e que, em seguida, o marido jogou a filha pela janela. Anna disse ter batido em Isabella porque “ela não parava de encher o saco”.
— Eles foram no supermercado, fizeram uma compra com as crianças. O cartão não passou, deu algum problema. Aí, estavam nervosos — contou a funcionária, reproduzindo a fala de Anna: — Ela falou que bateu na menina porque ela não parava de encher o saco. Que não era para ser tão grave. Pensou que matou, pensou que a menina estivesse morta.
Na época do crime, o Instituto de Criminalística fez um vídeo mostrando as conclusões da polícia e do MP. A acusação concluiu que Isabella realmente foi agredida dentro do carro por um anel ou chave, que feriram a menina na testa. Segundo as investigações, ao chegarem no apartamento do casal, Alexandre jogou a filha no chão, e Anna asfixiou a menina.
Segundo a testemunha ouvida na semana passada, a madrasta de Isabella nega que tenha asfixiado a criança. Disse ainda que, ao pensar que a menina estava morta, ligou para o sogro, que teria encorajado o casal a “simular um acidente”:
— Ela fala que não estrangulou a menina, que ele colocou a menina no chão, acreditando que estivesse morta, enquanto ela ligava para o sogro. Falou para o sogro que matou a menina e ele falou: ‘Simula um acidente, senão vocês vão ser presos’. Aí, tiveram a ideia de jogar a menina pela janela. Que o Alexandre só jogou a filha porque acreditava que ela estivesse morta e que entrou em choque depois que jogou. Desceu, e a menina estava viva.
Em 2008, quando o crime aconteceu, o casal teve o sigilo telefônico quebrado. Na época, ficou comprovado que Anna e o sogro conversaram por 32 segundos na noite da morte de Isabella.
Diante do novo depoimento, Francisco Cembranelli, promotor de Justiça do caso, afirmou ao “Fantástico” que, apesar de a investigação ter apontado que a ligação foi feita após a menina ter sido jogada pela janela, seria preciso investigar se o casal usou outro celular:
— Temos que apurar se havia outro telefone. Teríamos que ver agora de que maneira isso foi feito.
A funcionária afirmou que Anna não denunciou o envolvimento do sogro porque estaria “pagando por seu silêncio”:
— Ele sustenta ela, a família toda, os filhos dela. Com certeza, é pelo silêncio dela. Ela recebe muita coisa de fora. Vários tipos de queijos, brincos. O colchão que ela dorme é especial. Foi presente do seu Nardoni para ela.
Cuidados com nora a pedido do filho
O depoimento da funcionária será analisado esta semana por uma promotora do Fórum de Santana, responsável pelo caso. Depois, a polícia deve ouvir Anna Jatobá, Antônio Nardoni e a nova testemunha.
Procurado pelo “Fantástico”, o avô de Isabella disse que recebeu ligação de Anna dizendo que a menina tinha caído, mas, segundo ele, não entendeu que havia sido uma queda da janela:
Antônio Nardoni admitiu enviar mimos à nora na prisão, mas disse que cuida de Anna a pedido do filho. Ele afirmou que o casal é inocente:
— O que eu faço por ela é uma coisa que, primeiro, é permitido. Segundo, é um pedido do Alexandre. Para não deixar faltar nada para ela nem para os filhos. E a gente realmente não deixa faltar. Ela tem um problema de coluna, e a diretoria, mediante relatório médico, autorizou a entrada do colchão. Vou defendê-los enquanto eu viver, tá certo? Porque tenho absoluta convicção de que eles não fizeram nada. E eu também não fiz nada.