SÃO PAULO - Uma planilha apreendida no escritório do doleiro Alberto Youssef, que lista 747 obras de infraestrutura de 170 empresas, a maioria empreiteiras, é um dos principais indícios que levam o juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal do Paraná, a suspeitar que o esquema criminoso que desviou recursos de obras da Petrobras alcança outros setores da administração pública. Usada pelo doleiro para acompanhar suas negociações e projetos em andamento, a planilha lista valores que, somados, chegam a R$ 11,5 bilhões — 59% das obras têm a Petrobras como cliente final.

Num despacho em que negou a revogação da prisão preventiva do executivo Erton Medeiros Fonseca, presidente da Divisão de Engenharia Industrial da Galvão Engenharia, Moro afirma que a apreensão da planilha é “perturbadora” e diz que “o esquema criminoso de fraude à licitação, sobrepreço e propina vai muito além da Petrobras”.

 

A lista de Youssef, a qual O GLOBO teve acesso, é formada basicamente por empreiteiras citadas e investigadas na Operação Lava-Jato por obras com a Petrobras. Os projetos pertencem a setores como aeroportos, irrigação, energia, mineração, transporte e saneamento básico, a maioria feita com recursos federais e, em muitos casos, tocada por governos estaduais. O juiz frisa que é necessária uma “profunda investigação” para que se confirmem as suspeitas de novas irregularidades.

Além de obras no Brasil, a planilha lista obras realizadas no exterior por construtoras brasileiras, incluindo o Porto de Mariel, em Cuba, que recebeu financiamento do BNDES de cerca de R$ 1 bilhão. O valor anotado em relação a esse projeto é de R$ 3,6 milhões.

O nome de uma empreiteira brasileira, investigada na Lava-Jato, também aparece vinculado a obras no Uruguai e na Argentina. Na lista há ainda outras duas empresas, uma de engenharia, associada a uma unidade de gás no Equador; e outra citada por uma obra em Angola.

A planilha não é o único documento que levanta suspeita sobre financiamentos a obras no exterior. A Polícia Federal identificou visitas do advogado Alexandre Portela Barbosa, da construtora OAS, ao escritório do doleiro Alberto Youssef logo após ter retornado de viagens a países da América Latina. No dia 16 de setembro de 2013, Barbosa esteve no escritório do doleiro, onde ficou por cerca de 50 minutos. No dia seguinte, ele embarcou num voo com destino a Lima, a capital peruana. No dia 16 de janeiro passado, Barbosa chegou ao Brasil, vindo de Lima, e, no dia seguinte, foi até o escritório de Youssef: chegou às 14h02m e saiu às 15h31m. Preso temporariamente, Barbosa foi libertado, e não há informação de que tenha colaborado com a investigação. A suspeita é que as viagens estejam ligadas a pagamentos de propinas no exterior.

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Presidente da Transpetro, Sérgio Machado, permanece de licença por mais 30 dias

Ele foi afastado do cargo após consultoria condicionar auditoria no balanço da Petrobras à saída dele

POR RAMONA ORDOÑEZ

 

RIO - O presidente da Transpetro, Sérgio Machado, teve sua licença do cargo prorrogada por 30 dias. Machado estava de licença desde o dia 3 de novembro último. A Petrobras informou nesta sexta-feira que o Conselho de Administração da Transpetro, subsidiária da área de transportes marítimos, aprovou a prorrogação da licença não remunerada de Machado, que continuará sendo substituído pelo diretor Cláudio Ribeiro Teixeira Campos.

A permanência no cargo de Sérgio Machado se tornou insustentável devido à pressão da PriceWaterhouseCopers (PWC), que no início do mês passado, condicionou a realização da auditoria no balanço da Petrobras do terceiro trimestre deste ano à saída de Machado.

Desde os depoimentos à Justiça do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Yousseff, no âmbito da delação premiada na Operação lava a Jato, da Polícia Federal, a PWC, que audita os balanços da Petrobras desde 2012 vem exigindo da estatal o aprofundamento da estatal.

Paulo Roberto Costa disse, em um de seus depoimentos, ter recebido de Sérgio machado R$ 500 mil referentes a relativos à participação em um esquema de desvio de recursos envolvendo aluguel de embarcações.

Por conta das denúncias dos desvios ocorridos ao longo dos últimos anos na companhia, a Petrobras não conseguiu ainda publicar seu balanço financeiro do terceiro trimestre do ano. A empresa disse que espera divulgar o documento no próximo dia 12, mesmo sem a aprovação da PWC.

A Petrobras está tentando dar baixa de seus ativos os valores relativos aos desvios ocorridos nos últimos anos, e conseguir a aprovação de seu balanço até fins de janeiro próximo. Isso é fundamental para a companhia voltar a ter acesso a financiamentos no mercado internacional.