Há razões para otimismo moderado em relação à Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 20) em curso em Lima, Peru. Otimismo porque, às vésperas do encontro, os dois maiores poluidores, EUA e China, se comprometeram com metas ambiciosas de corte das emissões de gases estufa. A Alemanha, por sua vez, apresentou um plano a fim de viabilizar a meta de redução para 2020, adotada há sete anos, mas comprometida principalmente pela queima de carvão com a finalidade de compensar o fechamento de usinas nucleares depois da tragédia de Fukushima, no Japão.

E moderado porque, até hoje, ainda não se conseguiu um acordo para deter o aquecimento global, que ameaça o futuro do planeta, devido aos enormes interesses em jogo. A esperança é que, da COP 20, que termina no dia 12, saia o arcabouço desse acordo, a ser assinado na COP 21, em Paris, no final de 2015. Dele depende a meta de limitar em, no máximo, 2 graus centígrados o aumento da temperatura até 2100. Este é considerado pelos cientistas o limite para manter viável a vida na Terra.

Os EUA se comprometeram a reduzir de 26% a 28% suas emissões até 2025, em comparação com 2005. A China prometeu que o pico de suas emissões ocorrerá até 2030 e terá 20% de energia de fontes não fósseis no mesmo ano. A Alemanha planeja reduzir as emissões de dióxido de carbono para um terço dos níveis atuais. A União Europeia já assumira a meta de diminuí-las em 40% até 2030, comparado à década de 90. O Japão deve se engajar no esforço.

O sucesso da empreitada depende também do compromisso firme dos países emergentes e em desenvolvimento. O Brasil precisa de fato aceitar metas compulsórias e reverter o aumento das emissões, que cresceram 7,8% em 2013, principalmente pela elevação do desmatamento da Amazônia e Cerrado, do consumo de gasolina e diesel e da geração de energia a partir de termelétricas a combustível fóssil. A produção de gases estufa no país vinha em quedas sucessivas nos últimos oito anos. Índia e Rússia precisam também fazer a sua parte.

Os desastres climáticos que não param de ocorrer, como a seca no Sudeste brasileiro, não deixam mais espaço para questionamentos sobre as advertências da maior parte da comunidade científica quanto aos riscos do aquecimento global. Não cabe mais, também, a discussão sobre se há países menos ou mais responsáveis pelas emissões do passado. Todos estão no mesmo barco e há um iceberg à frente. Um dos grandes problemas é o financiamento, pelos países ricos, do Fundo Verde, que ajudará nações mais pobres a se adequarem às exigências ambientais. Apenas US$ 9,7 bilhões foram levantados até agora. A meta para 2020 é de US$ 100 bilhões.

Segundo a ONU, 2014 deve ser o ano mais quente desde que começaram as medições, em 1850. Soa como o último aviso.