RIO E BRASÍLIA — O ano de 2015 também deverá ser um período de riscos inflacionários e investimentos arredios por causa de diversas mudanças legais no país. Armando Castelar, coordenador de Economia Aplicada do Ibre/FGV e professor do Instituto de Economia da UFRJ, diz que há uma inflação reprimida no país:

— Estamos com alguns preços deprimidos internacionalmente, como o petróleo e a gasolina, que terão de ser corrigidos depois das eleições. Por isso, 2015 deverá ser o ano das maldades.

Ele lembra que algumas isenções tributárias terão de acabar no fim do governo, o que pode afetar mais a inflação do primeiro ano do novo mandato presidencial. Técnicos do governo garantem, porém, que os esforços do Banco Central (BC) para conter a alta de preços surtirão efeito.

Castelar lembra que os investimentos estão patinando:

— Todo o pacote bilionário do governo em infraestrutura logística, além de ainda não ter saído do papel, traz uma questão complicada: grande parte deste investimento, apesar de ser chamado de privado, depende do BNDES, da garantia de retorno do governo, ou seja, está atrelado ao gasto público.

Um empresário do setor de infraestrutura, que pediu para não ser identificado, lembrou que este governo alterou muito “as regras do jogo”. As mudanças atingiram petróleo, energia, estradas, ferrovias, portos, telefonia e chegarão à mineração:

— Nenhum governo mexe ao mesmo tempo em todos os marcos da economia de maneira incólume — disse.

O advogado Fernando Facury Scaff, sócio do Silveira, Athias, Soriano de Mello, Guimarães, Pinheiro & Scaff Advogados concorda que sente esta dificuldade entre seus clientes, por causa da mudança legal:

— Primeiro pela insegurança que traz ao empresário e, em um segundo momento, pelo aumento dos litígios, do número de processos, para garantir direitos adquiridos e que foram alterados por problemas causados com a interpretação das novas regras.

Ele afirma que estes problemas de adaptação, que leva a uma suspensão — ao menos temporária — de investimentos, ocorre mesmo quando as mudanças legais são positivas. Mas outros fatores corroboram para a incerteza, como os rumores sobre o novo marco regulatório da mineração, gestado há dois anos pelo governo. Muitos dizem que ele vai criar uma estatal com o monopólio da pesquisa mineral do país, o que travaria os investimentos.

— Parte dessa insegurança que afeta os investimentos irá para depois de 2015, ainda mais se o governo, de fato, apresentar sua proposta para a mineração nas próximas semanas — disse.

O especialista em contas públicas Mansueto Almeida destaca que, além de solidez fiscal, os investidores precisam de regras claras. Ele destaca que a equipe econômica precisa mostrar que os investimentos terão retorno, independentemente de quem ganhe a disputa presidencial.