O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, afirmou, em seminário no Chile sobre perspectivas de crescimento da América Latina, que a ocorrência de volatilidade nos mercados com as mudanças das condições financeiras globais em 2015 é inevitável e que a primeira linha de defesa do Brasil para superá-la é o câmbio flexível. Isso indica que, mesmo com a persistência da inflação alta, o governo brasileiro não buscará segurar a cotação do dólar frente ao real no próximo ano.

Segundo Tombini, a livre flutuação do dólar absorve a mudança dos preços dos ativos na carona da normalização da política monetária expansionista dos EUA e ajuda no ajuste das contas externas, mantendo a sustentabilidade do balanço de pagamentos. O câmbio flexível deve ser complementado com medidas prudenciais, o emprego de amortecedores de choques (por exemplo, reservas internacionais) e sólidas políticas monetária e, sobretudo, destacou, fiscal. Um arcabouço macroeconômico robusto - com aperto dos juros para combater a inflação e arrumação das contas públicas - "será importante para permitir que as mudanças na taxa de câmbio sejam mais permanentes e atenuar as novas condições financeiras", afirmou Tombini:

- Medidas macroprudenciais são políticas cíclicas que complementam todas as políticas macro, como monetária e fiscal, que acho que é a mais importante. E, no caso do Brasil, o câmbio flexível, que é a primeira linha de defesa para mudanças de condições financeiras globais e deve ser, neste momento, assegurada a confiança de que não teremos descasamento na economia ao lidar com um dólar mais forte, como tem sido o caso.

DEFESA PARA SETOR PRIVADO

Segundo Tombini, o compromisso com o câmbio flutuante não impede, porém, que sejam oferecidos ao setor privado e aos investidores de forma geral linhas para aquisição de dólar e mecanismos de proteção à oscilação da moeda americana. O presidente do BC defendeu que o Brasil ofereceu este tipo de hedge em 2013, quando houve forte turbulência em antecipação ao fim do programa de estímulos monetários americanos, e foi bemsucedido. Desde maio daquele ano, o real acumula depreciação de 20%, segundo o BC.

Tombini destacou ainda que, para prevenir descasamentos na economia provocados por depreciação do real, o BC tem monitorado com lupa a exposição do setor privado não-financeiro brasileiro em moeda estrangeira. Se houver fuga de capitais em 2015, e subida acentuada do dólar, o endividamento das empresas pode dar um salto. O FMI tem alertado que, embora a situação não seja crítica, Brasil e outros países latinos devem estar atentos a este indicador:

- A questão é ter as medidas microprudenciais para evitar não só problemas e volatilidades no mercado de câmbio, mas na economia como um todo. Temos prestado bastante atenção ao setor não-financeiro privado.