Título: Descaso é geral
Autor: Caprioli, Gabriel ; Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 27/06/2011, Economia, p. 7

A parcela de recursos que o Brasil destina à construção de estradas e a outras obras de infraestrutura é uma das mais baixas do mundo: 18,4% do Produto Interno Bruto (PIB), de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) relativos a 2010. A maior parte dessa taxa de investimento é aplicada pelo setor privado. O poder público ¿ União, estados e municípios ¿ contribui somente com 5,1%, uma das menores taxas do mundo.

A China investe, no total, 45,6% do PIB; o Vietnã, 34,5%; a Índia, 30,8%; e a Rússia, 21,4%. Na América Latina, o Brasil aplica menos no setor produtivo do que Equador (24,1%), México (21,8%), Chile (21,4%) e Argentina (20,9%). "O produto brasileiro, de forma geral, acaba perdendo competitividade em função da infraestrutura deficiente, principalmente o de menor valor agregado", afirma presidente da seção de Transporte de Cargas da Confederação Nacional de Transporte (CNT), Flávio Benatti. Ele ressalta que mais de 60% das mercadorias passam pelas rodovias, das quais mais de 50% precisam de reparos. Apenas 20% das cargas circulam pelas ferrovias e 13% pelos rios.

"O fato é que o governo deveria controlar os gastos correntes para sobrar dinheiro e aumentar o investimento público. Em vez de comprar clipes, deveria construir estradas", resume o economista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani. O economista Fábio Giambiagi, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também aponta a necessidade de corte nos gastos do governo com o custeio da máquina e a folha de pessoal.

"Tenho defendido um maior esforço de poupança pública mediante a contenção do gasto corrente, para que cresça abaixo da alta do PIB", diz Giambiagi. Ele lembra que o aumento expressivo do salário mínimo previsto para 2012, de 7,5% reais, pressionará as contas públicas. Por isso, diz, a taxa de investimento do governo federal, que está baixa neste ano, não mudará muito no ano que vem.

O economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Cláudio Hamilton, considera a baixa oferta de financiamentos de longo prazo como principal entrave à continuidade do crescimento a taxas mais altas. Segundo ele, os investimentos privados, bem maiores que os públicos, são custeados por um banco público, o BNDES, o único a oferecer crédito de longo prazo mais barato. (AD)