A nomeação do baiano Juca Ferreira para o Ministério da Cultura (MinC) agradou boa parte dos setores artísticos e culturais do país, mas levou à ira a ex-ministra Marta Suplicy, que deixou a pasta em novembro. Ao comentar a escolha de seu substituto, por meio do Facebook, a petista partiu para o ataque:

— A população brasileira não faz ideia dos desmandos que esse senhor promoveu à frente da cultura brasileira. O povo da cultura, que tão bem o conhece, saberá dizer o que representa — declarou a petista, sobre seu colega de partido.

Marta foi além. Usou seu comentário para atacar o ex-ministro da Saúde e ex-candidato ao governo de São Paulo, Alexandre Padilha (PT), um dos primeiros a anunciar a nomeação de Juca para o ministério.

— Nada mais sintomático do que Alexandre Padilha, aquele que foi rejeitado pelo povo paulista, nas últimas eleições, para anunciar Juca Ferreira no Ministério da Cultura — afirmou a ex-ministra.

Minutos depois, Padilha usou o Twitter para responder:

— Custo a acreditar que tal deselegância tenha saído diretamente da companheira Marta Suplicy, que me acompanhou na campanha em 2014. Aos que perguntaram: minha felicidade de ver Juca Ferreira como ministro da Cultura supera qualquer incômodo de outros fatos.

Na classe artística, no entanto, o anúncio levou a um tom de comemoração.

— Agora teremos diálogos e vamos participar, sem dúvida, da reconstrução dos avanços da gestão Gil-Juca. Será um retrocesso? Não. As duas últimas gestões (de Ana de Hollanda e Marta Suplicy) fracassaram. Tínhamos conquistado 1,2% do orçamento e caímos ao patamar de 0,11%. Queremos chegar a 2%. Juca é uma escolha do setor. Acredito que, pela primeira vez, aclasse dos fazedores de cultura foi ouvida — disse Adailton Medeiros, criador e diretor do Pontocine.

O cineasta Luiz Carlos Barreto concorda:

— A volta do Juca não representa um retrocesso. Tenho a esperança de que ele promova as reformas necessárias. Ele tem instrumental para isso.

O diretor teatral Amir Haddad também fez elogios:

— Foi tudo muito difícil na outra gestão da Dilma. Ela acertou. Ele (Juca) conhece a cultura brasileira, as realidades de dentro e de fora do mercado. E é preciso avançar muito. Não temos outra saída senão avançar. Entro em 2015 mais esperançoso.

Diretor do Circo Crescer e Viver, Junior Perim acredita que a nomeação é um reparo feito ao setor, segundo ele, "o mais desprestigiado do primeiro governo" da presidente:

— O setor cultural foi um dos que mais sofreram com cortes orçamentários e com a descontinuidade de uma política de Estado. Agora é esperar que ela acredite que a cultura tem um papel na agenda do desenvolvimento.

MERCADO EDITORIAL

Produtor teatral, Eduardo Barata lembrou que, apesar de sofrer divergências, na gestão anterior, Juca posicionou o ministério no Congresso:

— Ele foi o melhor gestor da pasta. Juca posicionou o MinC no parlamento, onde várias questões foram conduzidas de forma democrática e discutida com o setor. Juca coloca o ministério num espaço político importante.

Advogada e especialista em políticas culturais, Cristiane Olivieri reforça o argumento de Barata. Para ela, Juca tem a vantagem de conhecer o ministério.

— Normalmente, demora dois anos para entender como a máquina funciona, e ele já entra com esse entendimento. Não é apenas uma indicação política, mas de alguém que é da área. O MinC é quase uma exceção nesse sentido. E o posto está sendo dado para alguém que quer o cargo e vai investir suas fichas para aprovar o Procultura (que reforma a Lei Rouanet).

A agente literária Lucia Ryff se preocupa com a reforma da Lei de Direitos Autorais.

— Alguns pontos desse projeto são equívocos. Ele precisa ser muito mudado, porque como está é um desastre.

Consultor do mercado editorial, Carlo Carrenho reforça suas esperanças para o setor:

— Espero que a ideia de um "instituto de cultura", nos moldes do Instituto Camões e Cervantes, saia do papel. Os franceses têm uma política agressiva de apoio à literatura, a Inglaterra tem o British Council, e o Brasil ainda não tem nada. Faz muita falta.