Em um verdadeiro clima de investigação, funcionários da Petros, o fundo de pensão da Petrobras, da Transpetro e da BR Distribuidora, ambas subsidiárias da estatal, receberam orientações para "preservar documentos online e impressos"! Entre os tais "documentos" estão cartões de visita, registros de mensagens telefônicas e até mensagens via WhatsApp, aplicativo que permite a troca de mensagens de texto e de voz pelo celular. Um dos emails de orientação enviados aos funcionários da Petros, ao qual O GLOBO teve acesso, revela que o objetivo é fazer uma auditoria interna, a exemplo do que ocorre na própria estatal. O trabalho está sendo liderado pelos escritórios de advocacia Trench, Rossi e Watanabe Advogados e Gibson, Dunn & Crutcher LLP. Em uma das ordens do email, a mensagem é não destruir, eliminar, descartar ou apagar qualquer tipo de informação.

Se de um lado há quem compare o clima atual nas empresas ao de um filme policial de Hollywood, do outro a estratégia adotada pela estatal é classificada, de acordo com uma fonte na Petrobras, como o primeiro passo para mostrar ao mercado uma "mudança de postura" em relação aos casos de corrupção que vieram à tona com a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal. Uma medida importante nesse sentido foi a proibição das 23 empresas acusadas de formação de cartel participarem de licitações da Petrobras.

— O anúncio foi bem recebido por acionistas e pelo Conselho de Administração. A empresa mostra para o mercado que mudou sua postura e o seu comportamento — destacou essa fonte, lembrando que o Conselho de Administração da estatal se reúne no próximo dia 12 de janeiro. — As investigações internas estão em curso e vão poder ajudar no processo enquanto a empresa contabiliza a baixa em seus ativos para poder publicar seu balanço.

PETROS INSPECIONA PLANOS PATROCINADOS

Na busca pela melhoria de sua imagem, a Petrobras solicitou auditoria nas empresas que fazem parte de sua estrutura. No caso da Petros, a mensagem sobre auditoria interna foi enviada aos funcionários no dia 19 de dezembro. No comunicado eletrônico, assinado pela diretoria executiva, o texto começa dizendo que "a exemplo do que ocorre em outras empresas do sistema Petrobras, o Conselho Deliberativo da Petros autorizou que a auditoria interna que está sendo realizada pela patrocinadora seja também estendida ao fundo de pensão"." O objetivo é fazer uma inspeção nos dois planos patrocinados pela Petrobras, a fim de identificar possíveis impactos da atuação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Ao todo, a Petros administra 47 planos.

Segundo o e-mail, a Petros informa que a inspeção em algumas empresas relacionadas à Petrobras é uma condição para aprovação do balanço da estatal. E a Petros, apesar de não ser subsidiária da Petrobras, faz parte do balanço da patrocinadora. Por isso, prossegue o e-mail, os documentos devem ser mantidos e preservados. O fundo de pensão lista uma série de recomendações da auditoria que, segundo o e-mail, "devem ser seguidas à risca". O comunicado orienta os funcionários com dúvidas a consultar o gerente executivo Jurídico da Petros, Igor Souto. E, em caso de dificuldades técnicas para o cumprimento das obrigações, devem procurar Marta Rosatelli, gerente-executiva de TI.

O e-mail pede para que os funcionários não destruam nenhum tipo de documento e que os dados sejam preservados independente do formato ou conteúdo, como desktop, computadores portáteis, servidores, dispositivos de armazenamento em nuvem, pen drives e disquetes, além de celulares. "Você deverá preservar tais documentos, dados ou arquivos, independente de sua localização, incluindo arquivos que estejam armazenados ou guardados fisicamente nos escritórios ou instalações da Petros, em arquivos externos, em sua residência ou em qualquer outro lugar"," orienta o e-mail.

A mensagem lista 65 tipos de documentos que devem ser guardados por tempo "indeterminado" Na lista, além de mensagens de WhastApp, estão fotografias, anotações, calendários, telegramas, fax, gráficos e materiais de pesquisa. "Devemos evitar decisões que possam resultar na destruição de documentos, dados ou arquivos relevantes" sugere o email.

Na Transpetro, que já teve seu presidente Sérgio Machado afastado por uma exigência da consultoria PwC, que se recusou a assinar o balanço financeiro da Petrobras referente ao terceiro trimestre deste ano, o clima também é de apreensão entre os colaboradores. Segundo uma fonte na empresa, os funcionários também receberam e-mail com recomendações para que nenhum documento seja eliminado. Além disso, ressalta um dos colaboradores, o acesso a alguns contratos passou a ser restrito.

— Antes, os funcionários tinham acesso a diversos documentos da Transpetro, como contratos. Agora, muita coisa está bloqueada. Internamente, também foi pedida atenção redobrada com documentos e com a prestação de contas, pois a avaliação é que, com as investigações em curso, a Transpetro pode ter de prestar esclarecimentos a qualquer momento — disse essa fonte.

SUBSIDIÁRIAS SEGUEM ORIENTAÇÕES DA PETROBRAS

Na BR Distribuidora, que em março destituiu Nestor Cerveró do cargo de diretor financeiro, após os escândalos da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, processo semelhante de auditoria também foi iniciado.

Em nota, a Transpetro e a BR informaram que seguem as orientações do Sistema Petrobras e que participam das iniciativas também no que se refere a mecanismos de avaliação e controle. A Petros esclareceu que a inspeção solicitada pela Petrobras não significa que haja alguma irregularidade ou suspeita de irregularidade relacionada à Fundação. Disse ainda que a medida reforça a transparência com os mais de 150 mil participantes do fundo de pensão. "Os escritórios orientaram os empregados a preservarem documentos online e impressos, o que é praxe nesse tipo de procedimento", disse a Petros.

Opinião: Mais emoções

A INFORMAÇÃO de que a auditoria externa contratada pela Petrobras detectou na Petros vestígios do esquema de corrupção montado na estatal indica que poderá haver novas emoções no escândalo do petrolão.

BILIONÁRIA FUNDAÇÃO de seguridade dos funcionários da Petrobras, a Petros é uma das portas pelas quais o braço sindical lulopetista, a CUT, entrou no mundo dos altos negócios.

COM UM detalhe: o já conhecido João Vaccari Neto, tesoureiro petista, citado na Operação Lava-Jato e em outros casos pelo menos nebulosos, se notabiliza por transitar com facilidade no universo de fundos de pensão de empresas estatais.

 

Órgãos de controle divergem sobre Pasadena

 

A Controladoria Geral da União (CGU) precisa explicar, em cinco dias úteis, por que apontou um prejuízo na compra da refinaria de Pasadena, no Texas, inferior ao indicado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A decisão de pedir explicações à CGU, vinculada à Presidência da República, foi do novo presidente do TCU, Aroldo Cedraz.

Em despacho assinado ontem, Cedraz determinou que a CGU justifique o fato de ter orientado a Petrobras sobre a necessidade de um ressarcimento de US$ 659,4 milhões, e não de US$ 792,3 milhões, que é o tamanho do prejuízo expresso na auditoria do TCU e aprovado em plenário. A diferença, portanto, é de US$ 132,9 milhões.

Além disso, a CGU precisa informar quais são as medidas "eventualmente já adotadas ou em andamento" em relação à compra da refinaria. O órgão, ainda, deve apresentar os motivos para o encaminhamento da auditoria à Petrobras, "desconsiderando o fato de que o TCU já conduz a necessária tomada de contas especial".

As explicações já devem ser dadas pelo novo ministro da CGU, Valdir Simão. Ele substitui Jorge Hage no dia 1°. A secretaria executiva da Controladoria foi notificada ontem. A CGU e o TCU são dois órgãos de controle de gastos públicos. O primeiro está vinculado à Presidência e o segundo assessora o Congresso auditando gastos de órgãos federais, inclusive a própria CGU.

Os dois concluíram auditorias distintas sobre a compra da refinaria de Pasadena. A CGU
excluiu a presidente da Petrobras, Graça Foster, de qualquer responsabilidade e apontou um prejuízo US$ 132,9 milhões menor. O trabalho foi concluído no último dia 16. O TCU, por sua vez, aprovou a auditoria em Pasadena em julho e já abriu as primeiras tomadas de contas especiais para buscar o ressarcimento do dinheiro aos cofres da estatal. A CGU informou, por intermédio da assessoria, que ainda não tinha recebido a cobrança do TCU e não poderia se pronunciar.

O TCU indicou diretores na ativa, além de ex-diretores, entre os responsáveis pelo prejuízo. São os casos de Graça Foster e de Almir Barbassa, diretor financeiro. Graça terá de responder a uma tomada de conta especial e explicar suposta participação em uma fatia do prejuízo de US$ 792,3 milhões.