A Polícia Federal prendeu ontem de manhã o superintendente regional do Incra no Maranhão, Antônio César Carneiro de Souza, e mais 22 pessoas, entre servidores do Ibama e da Secretaria estadual do Meio Ambiente. Ex-subsecretário da Secretaria de Meio Ambiente, nomeado pela governadora Roseana Sarney (PMDB), Souza, que ainda é funcionário do governo do estado, estava há cerca de dois meses na superintendência. Foi nomeado no dia 8 de outubro por indicação do PT, logo após o primeiro turno das eleições presidenciais.

Segundo a PF, Souza é suspeito de comandar um grupo de servidores públicos da área ambiental do estado que arrecadava cerca de R$ 2,5 milhões por mês em propinas pagas por madeireiras ilegais que atuam no corte clandestino de madeira das reservas indígenas do Alto Turiaçu, Awa-Guaja e Caru, onde ainda há aldeias isoladas.

A quadrilha também atuava na Reserva Biológica do Gurupi, que vem sofrendo grande devastação, a ponto de só contar atualmente com 20% de sua área de floresta primária.

O chefe da reserva biológica, Evane Alves Lisboa, que denunciava a ação das madeireiras e dos servidores públicos desde o início do ano, está desde ontem sob proteção da PF, depois de ser ameaçado de morte por empresários que foram alvos de operação. Há um conflito violento envolvendo índios e fazendeiros.

- Passei a receber recados com ameaças há alguns meses. Hoje (ontem), fui informado de que já havia um pistoleiro contratado para me matar. Não vou deixar de denunciar a extração ilegal de madeiras da reserva e nem das áreas indígenas, que estão sendo devastadas - disse Lisboa ao GLOBO.

Souza foi preso durante a Operação Ferro e Fogo, deflagrada pela PF em cidades maranhenses. Ao todo, 23 pessoas tiveram a prisão decretada pela 2ª Vara Criminal Federal - dois mandados são de prisão preventiva e 21, de temporária. Seis conduções coercitivas e 28 mandados de busca e apreensão também foram cumpridos. Segundo a PF, os envolvidos são acusados de ter condutas reiteradas de corrupção no desempenho de suas funções.

O delegado Felipe Soares Cardoso, que comandou a operação, informou que servidores públicos cobravam de R$ 8 mil a R$ 12 mil de propina para autorizar o corte de madeiras em áreas indígenas, além de fraudar notas para "esquentar" a madeira extraída ilegalmente. Também avisavam quando seriam realizadas operações de fiscalização.

- Ao combatermos a corrupção nos órgãos ambientais, damos passo importante para a preservação da Floresta Amazônica maranhense - afirmou Alexandre Saraiva, superintendente da PF no Maranhão.

Em nota, o Incra informou que Souza foi exonerado ontem. "O Incra reitera que a nomeação do servidor, que pertence aos quadros do governo do MA e foi cedido ao governo federal, seguiu os trâmites legais para esse tipo de função comissionada, e nada foi apontado que desabonasse a conduta do servidor e sua consequente condução ao cargo".