A concentração de riquezas no Brasil diminui em ritmo lento. A participação das capitais em tudo o que é produzido no país caiu apenas 0,4 ponto percentual em 2012, para 33,4%, na comparação com o ano imediatamente anterior. Esse é o menor resultado desde o início da série histórica, em 1999, quando as 27 cidades geravam 38,7% de toda a renda nacional. O município de São Paulo (SP) e Brasília (DF) acumularam as maiores perdas de participação no Produto Interno Bruto (PIB). O primeiro caiu de 11,6% para 11,4% e o segundo de 4,0% para 3,9%, conforme os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 
Na capital paulista, a queda no desempenho da indústria de transformação pesou negativamente. Já em Brasília, foi a redução de gastos do setor público que pesou no desempenho. Sem a criação de políticas públicas que incentivem investimentos no Norte e no Nordeste — as regiões mais pobres do país —, somente os municípios interioranos do Sul, do Sudeste e do Centro-Oeste ganharam relevância econômica. É o caso de Campos dos Goy-tacazes (RJ), que avançou de 0,7% do PIB brasileiro em 2010, para 0,9% em 2011 e chegou em 2012 com participação de 1,03% na geração de toda a riqueza do Brasil. 

Toda essa pujança se deve à produção de petróleo na cidade e ao preço do barril do produto, que superou os US$ 100 naquele ano. Enquanto alguns municípios se destacaram como produtores de commodities, outros mantêm a sina de sofrer com a falta de infraestrutura, a escassez de recursos hídricos e a dependência de recursos federais. Com todas essas mazelas, Santo Antônio dos Milagres (PI) amarga o menor PIB do Brasil, acompanhada por outras seis cidades piauienses.
A gerente da pesquisa do IBGE, Sheila Zani, explicou que as cidades piauienses estão entre os 1.334 municípios do país que geram apenas 1% do PIB. A concentração de riquezas no Brasil fica clara quando se constata que as 556 maiores cidades — 10% do total — produzem 117 vezes mais renda do que as 50% mais pobres. “Para piorar, 76% das cidades do Piauí estão entre as mais pobres, na Paraíba a taxa chega a 61%, no Tocantins a 53% e no Rio Grande no Norte a 51%”, comentou.
Apesar dos extremos, os resultados apurados no Centro-Oeste mostram que a produção agrícola é uma alternativa para o crescimento. Em Sorriso (MT), que gera 0,5% do PIB do país, a tecnologia usada nas lavouras levou o município ao posto de maior produtor de soja e milho. Em 2012, o aumento no valor de produção foi de 124,6%. Em Rio Verde, que também responde por 0,5% de toda a riqueza do país, a agropecuária está integrada às agroindústrias do ramo alimentício, com destaque para milho e sorgo.

Para o professor do departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Newton Marques, os resultados são coerentes com a desaceleração da economia brasileira. Ele comentou que os programas de transferência de renda são importantes para diminuir os abismos sociais, mas não têm grande impacto na geração de riquezas. “Temos um país de proporções continentais, com grande concentração de riquezas no Sudeste e no Sul. Políticas públicas precisam ser criadas para diminuir esses abismos”, destacou. 
Na avaliação do economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) Fabio Bentes, o Centro-Oeste é o melhor exemplo de que descentralizar a produção de riquezas é possível. Segundo ele, o PIB da região nos últimos 10 anos cresceu 55,7%, com base na produção agrícola. 
Para o membro do Conselho Federal de Economia Júlio Miragaya, existe a tendência de que as cidades médias do interior ganhem maior participação no PIB, mas, para que isso ocorra, é necessário suporte do governo.