O Banco Central embarcou com tudo no lema da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff: "governo novo, ideias novas". Depois de acumular uma série de decepções na área fiscal, de acreditar em promessas não cumpridas, voltou a comprar o discurso de que, desta vez, o setor público fará o superavit primário necessário para ajudar no combate à inflação. 

Tanto na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), justificando a alta dos juros de 11,25% para 11,75% ao ano, quanto no discurso do presidente da instituição, Alexandre Tombini, ficou claro que o BC encurtará o processo de arrocho na taxa Selic porque acredita que o futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, realmente representa uma mudança, uma nova ideia. Quer dizer: porá fim à gastança desenfreada e economizará ao menos 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 para o pagamento de encargos de dívida. 

Nos últimos quatro anos, a diretoria do BC se fiou no discurso do secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, de que o esforço fiscal seria consistente, o que permitiria ao Copom manter uma política de juros menos austera. O time de Tombini não só embarcou nessa canoa, como levou a Selic para 7,25% ao ano em outubro de 2012, mesmo com a carestia resistente, acima do centro da meta de 4,5%. Além de não entregar o que prometeu, Augustin zombou da autoridade monetária ao abusar dos truques contábeis para mostrar uma saúde que as contas públicas não tinham. 

O auge da zombaria do secretário do Tesouro se deu neste ano. A cada número ruim na área fiscal, ele afirmava que o governo entregaria a meta prometida. Mesmo com as contas se deteriorando e Augustin mentindo, o BC continuou afirmando, em seus documentos, que o cumprimento do superavit estava a caminho. Insistiu tanto nesse discurso que viu o restante de sua credibilidade ir para o ralo. 

É verdade que não dá para comparar Arno Augustin com Joaquim Levy. Um fosso enorme separa os dois quando os temas são competência e responsabilidade fiscal. O futuro ministro da Fazenda não é afeito a maquiagens, nem a mentiras. Sendo assim, Tombini acredita que, desta vez, não será traído, pois a política fiscal realmente andará em sintonia fina com a política monetária. 

O presidente do BC preferiu, no entanto, estender o horizonte para que a inflação convirja para o centro da meta. Como bem ressalta o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros, na ata do Copom divulgada ontem, o trecho que dizia que "as decisões futuras de política monetária serão tomadas com vistas a assegurar a convergência tempestiva da inflação para a trajetória de metas" foi complementado pela ressalva de "que, na visão do Comitê, (isso) tende a ocorrer em 2016". 

Entre os analistas, o ceticismo em relação aos rumos da política fiscal é grande. Todos concordam que o BC não pode desconsiderar, em suas projeções, a perspectiva de Levy entregar a meta de 1,2% de superavit primário. Hoje, isso é bem factível, dado o histórico do sucessor de Guido Mantega. A confiança, porém, só será resgatada à medida que o Tesouro for entregando o que prometeu. Enquanto isso não vem, as atenções se concentram na inflação de curto prazo, que não dará trégua. 

É ela, a carestia, que prevalecerá na reunião de janeiro do Copom. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de dezembro virá bem ruim, entre 0,75% e ,080%. Em janeiro de 2015, é possível que a taxa crave até 1%, com o acumulado em 12 meses encostando nos 7%. Confirmados esses números, será difícil para o BC justificar uma redução no ritmo do aperto monetário, de 0,50 para 0,25 ponto percentual. 

Não à toa, a aposta majoritária é de que, em 20 de janeiro, a Selic passe para 12,25% ao ano, com o BC encerrando o ciclo em março, com mais uma alta de 0,25 ponto. Daí em diante, os juros de 12,50% permaneceriam estáveis até meados de 2016, quando, então, Tombini e equipe estariam mais confortáveis para pensar em reduzir a taxa básica. 

Preparem-se para o pior 

A orientação dentro do Banco Central é para enfatizar que a inflação subirá nos próximos meses. Alexandre Tombini fez esse alerta duas vezes nesta semana, certo de que precisa preparar a população para números piores do custo de vida. Ele também quer esvaziar a gritaria da oposição, que vem ressaltando a leniência da instituição no combate à carestia. O dólar será apontado como um dos principais responsáveis pelo IPCA bem acima do limite de tolerância, de 6,5%. 

Banqueiros 
pessimistas 

» Tombini, por sinal, deu o tom do almoço de confraternização dos banqueiros promovido pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Todos avaliaram o discurso do presidente do BC como pessimista, visão que ganhou força diante das preocupações com os rumos das denúncias de corrupção na Petrobras e com o futuro das empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato. 

Rivotril 
fez efeito 

» O governo acredita que reduziu a ansiedade dos investidores em relação aos nomes que comporão as equipe de Joaquim Levy, na Fazenda, e de Nelson Barbosa, no Planejamento. Assim, é possível que a presidente Dilma espere até o início de janeiro para dar posse aos dois ministros e, logo em seguida, anunciar o secretário do Tesouro e os presidentes dos bancos públicos.