A espingarda do Exército Brasileiro usada na segurança presidencial continua em poder de criminosos. Desde que foi levada de um soldado de plantão na Residência Oficial da Granja do Torto, na madrugada da última terça-feira, a arma calibre 12 não foi localizada. A Polícia Civil e o Exército investigam o sumiço. Ontem, o ministro Gilberto Carvalho classificou a ação dos bandidos como “ousada” e definiu o desaparecimento como “gravíssimo”. Para especialista, o caso deve ser apurado com muita cautela.

Utilizada pelos guardas que fazem a vigilância da residência oficial, a espingarda tem como características principais a leveza e o fácil manuseio. Tem ainda o cano maior do que as de mesmo porte, além de muito utilizadas para inibir a ação de suspeitos em atividades públicas e rondas. Não é considerada de uso restrito das Forças Armadas.

Durante um evento do Plano Brasil sem Miséria, na manhã de ontem, na Asa Sul, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República afirmou desconhecer o caso. Ao ser informado pela imprensa, Gilberto Carvalho disse que os assaltantes foram ousados. A Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) só vai se pronunciar quando as investigações avançarem. O Batalhão da Guarda Presidencial (BGP) abriu um inquérito policial militar para apurar as circunstâncias do crime e tem até 30 dias para concluí-lo.

Ao Correio, na última quarta-feira, o coronel Gilberto Breviliere, assessor de Comunicação do Comando Militar do Planalto, informou que a situação aconteceu na parte externa da residência da Granja do Torto (veja Área de segurança). O oficial acrescentou que a segurança no local ganhou reforçou após o roubo. Apesar disso, garantiu ontem, por meio de nota, que “o evento não ofereceu qualquer risco à segurança da Residência Oficial, em função do dispositivo planejado e disposto, de modo a proporcionar várias linhas de defesa, com recobrimento entre os postos.”

 

Cautela

À Polícia Civil, o soldado Danilo Marques garantiu que fazia a guarda no Posto 4, quando, por volta das 3h30 de terça-feira, ouviu um barulho no matagal próximo à guarita onde ele estava. Ao se aproximar, teria sido abordado por três homens armados e encapuzados, segundo o primeiro depoimento dado aos agentes civis. Danilo detalhou ainda que não reagiu, mas ficou em poder dos bandidos por cerca de uma hora e meia. Contou aos policiais que foi abandonado pelos assaltantes às 5h, na região do Lago Oeste, e, então, procurou ajuda. O militar foi afastado do trabalho para que o Exército siga com a apuração.

Para o coronel José Vicente, consultor de segurança e ex-secretário Nacional de Segurança Pública, o caso exige esclarecimentos. “Sabemos que a segurança da presidência é primorosa. Então, há duas hipóteses: uma falha da supervisão, pois não há falha isolada, ou conivência do soldado com os bandidos, de ter passado a arma e alegado a ação criminosa. É uma história que precisa ser bem apurada.”

O especialista em segurança afirma que é muito difícil um bandido entrar no circuito de segurança sem ser detectado pelo sistema. Para ele, o sumiço da espingarda do Exército é um ganho para os assaltantes. “Uma arma dessa vale muito no meio criminoso. E elas estão em grande quantidade com os bandidos. Essa é mais uma para eles”, complementou.