O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, sugeriu, na manhã de ontem, durante abertura da Conferência Internacional de Combate à Corrupção, a demissão de toda a diretoria da Petrobras, o que inclui a presidente da estatal, Graça Foster. Procuradores da força-tarefa do Paraná vão denunciar hoje 11 executivos de seis empreiteiras por, provavelmente, cinco crimes cometidos, entres eles, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e fraudes em licitação. Citando um “cenário desastroso na gestão da companhia”, Janot afirmou que o Brasil “não tolera mais” a corrupção e a “desfaçatez” de alguns servidores públicos e empresários. Voltou a pedir a punição de todos os envolvidos. 

Ontem, a Polícia Federal indiciou os diretores e executivos presos na sétima fase da Operação Lava-Jato por crimes de corrupção ativa, lavagem de dinheiro, fraude à licitação, falsificação de documentos e falsidade ideológica. Das construtoras Queiroz Galvão e Galvão Engenharia, são citados pelos investigadores Ildefonso Colares Filho, Erton Medeiros Fonseca e Othon Zanoide de Moraes Filho. Da cúpula da OAS, foram indiciados Agenor Magalhães Medeiros, José Aldemário Filho, Léo Pinheiro, Mateus de Sá Oliveira, Alexandre Portela Barbosa e José Nogueira Breghirolli. O lobista Fernando Falcão Soares também foi acusado.

Poucas horas depois do pronunciamento do procurador-geral, veio a reação oficial. Escalado pelo Planalto, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, superior hierárquico da Polícia Federal, à frente das investigações da Lava-Jato, convocou uma entrevista coletiva e saiu em defesa da atual diretoria da petroleira. Afirmou que não há informações de que eles tenham cometido ilícitos e, por isso, devem permanecer nos cargos. “Não estou dando recado, mas uma posição do governo a partir de uma sugestão do procurador-geral da República. Estou dizendo que não há indício contra a atual diretoria.”

“Fortes indícios”
O ministro afirmou ainda que, de certa forma, isso é reconhecido por Janot, “quando no pronunciamento, ele diz que ‘esperam-se as reformulações cabíveis, inclusive, sem expiar ou imputar previamente culpa’”. Para Cardozo, “o próprio procurador-geral diz claramente que não está imputando qualquer culpa prévia a essas pessoas", argumentou. No mesmo evento, o petista classificou de “fortes indícios de corrupção” o farto material probatório produzido pela PF e pelo MPF até o momento.

O procurador-geral lembrou que a sociedade brasileira cobra punição dura aos envolvidos no maior escândalo de corrupção da história do país. “Diante de um cenário tão desastroso na gestão da companhia, o que a sociedade brasileira espera é a mais completa e profunda apuração dos ilícitos perpetrados, com a punição de todos, todos os envolvidos”, disse.

Ele cobrou mais transparência na estatal. “Em se tratando de uma sociedade de economia mista, com a presença de capital majoritário da União — e, pois, do povo brasileiro — é necessário maior rigor e transparência na sua forma de atuar”, afirmou.

Durante entrevista, Cardozo acrescentou também que os diretores têm colaborado intensamente com as investigações e defendeu a atuação da presidente da estatal. Segundo ele, às vezes, na nossa casa, não observamos que alguém faz algum ilícito, o mesmo pode ocorrer na Petrobras. “Tenho absoluta convicção de que a presidente Graça Foster tem tomado as medidas necessárias para a apuração do caso”, pontuou.

Consulta a Dilma
Cardozo chegou a conversar com o procurador-geral após o evento em que participaram pela manhã, na sede da Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo ele, Janot disse que não tinha nenhuma informação nova ou que incluísse Graça Foster. Antes de falar com a imprensa, o ministro consultou a Petrobras e falou com a presidente Dilma Rousseff. 

Questionado sobre a manutenção do presidente da Transpetro, Sergio Machado, e do diretor de Abastecimento, José Carlos Cosenza, evitou se manifestar nominalmente. “Acho que a pior coisa que existe é prejulgar as pessoas. Não vou nominá-las. Estou me atendo à sugestão que o procurador-geral da República fez. Ele falou de Diretori-Geral e foi claro quando disse que não estava imputando culpa”, justificou.

No fim de semana, acusado por advogados de tentar proteger o Palácio do Planalto dos reflexos da Operação Lava-Jato em acordo com empreiteiros, Janot afirmou que vai até o fim nas investigações de todos os personagens do esquema criminoso. “Prosseguirei e farei o que for necessário para a punição de todos os envolvidos”, garantiu. “Jamais aceitarei qualquer acordo que implique exclusão de condutas criminosas ou impunidade de qualquer delinquente”, salientou.

O Ministério Público Federal deve receber hoje a delação premiada do doleiro Alberto Youssef. Ele acrescentou novos nomes de políticos suspeitos. Em depoimento na CPI da Petrobras, o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa afirmou que “há dezenas de políticos” envolvidos no esquema criminoso entranhado na petroleira.



Análise da notícia

Erros de uma pré-temporada

» LEONARDO CAVALCANTI
É no mínimo estranho que o ministro escalado para rebater as declarações do procurador-geral da República seja, em última instância, o chefe da Polícia Federal. Ao mesmo tempo que tem sob o comando os investigadores responsáveis por remover a lama da Petrobras, José Eduardo Cardozo, o nosso intrépido comandante da Justiça, convoca uma coletiva de imprensa para defender a diretoria da estatal, criticada por Rodrigo Janot de forma legítima, em evento público.
Assim, o segundo mandato da presidente Dilma Rousseff ainda nem mesmo começou, mas os erros primários da pré-temporada são evidentes. Poderiam ter mandado qualquer outro ministro rebater as críticas de Janot, afinal Dilma, seria possível argumentar, é quem manda. Se é legítimo o procurador pedir a “eventual” saída da diretoria, a presidente também tem legitimidade de mantê-la, seja lá qual for o desgaste sofrido com a decisão. Mas escalar Cardozo é fragilizar ainda mais a defesa.


Quem é quem
Confira os principais executivos da Petrobras

Maria das Graças Foster, presidente
Eleita em fevereiro de 2012, tem mais de 30 anos de experiência na empresa. É integrante do Conselho de Administração e diretora da Área de Negócio Internacional da companhia. Já foi presidente da Petrobras Química S.A. (Petroquisa) e presidente e diretora financeira da Petrobras Distribuidora S.A..
Quem indicou: Dilma Rousseff


Almir Guilherme Barbassa, diretor Financeiro e de Relações com os Investidores
Ocupa o cargo desde 2005. Foi gerente executivo de Finanças de 1999 a 2005. Atuou como gerente financeiro da subsidiária Petrobras América em Houston por três anos. É integrante do Conselho de Administração da Braskem S.A. desde 2010.
Quem indicou: José Sérgio Gabrielli, petista e ex-presidente da Petrobras


José Miranda Formigli Filho, diretor de Exploração e Produção
Está no cargo desde 2012. Em 2008, foi nomeado gerente executivo da área criada para o planejamento e desenvolvimento das descobertas do pré-sal. Ingressou na Petrobras em 1983 e fez o curso de formação em Engenharia de Petróleo. É integrante do Conselho de Administração da Petrobras Gás S.A. (Gaspetro).
Quem indicou: Maria das Graças Foster


José Alcides Santoro Martins, diretor de Gás e Energia
Responde pela diretoria desde 2012 e tem mais de 30 anos na empresa. Também é presidente da Petrobras Gás S.A.(Gaspetro). Foi gerente executivo de Operações e Participações em Energia, diretor presidente das termelétricas Celso Furtado, Termoceará e Mário Lago e diretor da Sociedade Fluminense de Energia. É integrante do Conselho de Administração da Petrobras Gás S.A., da Petrobras Transporte S.A.(Transpetro) e da Braskem S.A..
Quem indicou: Maria das Graças Foster


José Carlos Consenza, diretor de Abastecimento
Em 2012, assumiu a diretoria após a demissão de Paulo Roberto Costa. Tem mais de 30 anos de companhia. Antes de assumir a Diretoria de Abastecimento, foi gerente executivo de Refino. Cosenza atuou também como gerente geral das refinarias Presidente Getúlio Vargas (Repar) e Paulínia (Replan) e como presidente da Petrobras Argentina e da Petrobras Uruguai, além de diretor da Área Comercial (Retail) da Petrobras Energia S.A. (Pesa).
Quem indicou: indicação conjunta do PT, do PMDB e do PP da Câmara


José Antônio de Figueiredo, diretor de Engenharia, Tecnologia e Materiais 
Assumiu o cargo em 2012. É engenheiro, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1978 e ingressou na Petrobras um ano depois. Na companhia, exerceu diversas funções gerenciais, entre as quais a de gerente executivo de E&P Sul-Sudeste e gerente executivo de Serviços de E&P. 
Quem indicou: Maria das Graças Foster


José Eduardo de Barros Dutra, diretor Corporativo e de Serviços
Também assumiu o cargo em 2012. Presidiu a Petrobras de 2003 a 2005 e fez parte do Conselho de Administração da companhia e da Petrobras Distribuidora S.A. Foi ainda presidente da Petrobras Distribuidora S.A. Presidiu os conselhos de administração da Petrobras Gás S.A.(Gaspetro), Petrobras Transporte S.A.(Transpetro), Petrobras Química S.A. (Petroquisa), Petrobras Energia (Pesa) e Liquigás. Exerceu mandato de senador pelo estado de Sergipe.
Quem indicou: PT