BRASÍLIA- A balança comercial apresentou um déficit de US$2,35 bilhões em novembro, o pior para o mês em toda a história do comércio exterior brasileiro. O resultado levou o governo a admitir ontem, pela primeira vez, que após 14 anos de superávits anuais, a balança fechará no vermelho em 2014. A última vez em que a balança fechou com saldo negativo foi em 2000, quando as importações superaram as exportações em US$ 732 milhões.— O resultado de novembro é o divisor de águas para nossa expectativa. Embora, tradicionalmente, o número de dezembro seja superavitário, ainda assim não esperamos mais um resultado positivo. Houve mudança de expectativa de superávit, mesmo pequeno, para déficit — disse o diretor do departamento de Estatística e Apoio à Exportação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Roberto Dantas.

Um fator determinante para a revisão nas projeções foi o déficit de US$ 4,221 bilhões acumulado de janeiro a novembro de 2014, o maior desde1998, período em que o saldo ficou negativo em US$ 6,112bilhões. As vendas externas totalizaram US$ 207,611 bilhões e as importações, US$ 211,832 bilhões no período. Nos últimos doze meses, a balança ficou deficitária em US$ 1,572bilhão.As exportações de novembro somaram US$ 15,646 bilhões.Sem os embarques da safra de grãos e fortemente afetada pela queda dos preços das commodities no mercado internacional, as vendas externas caíram 25% ante o mesmo mês do ano passado. As receitas com soja diminuíram 76,6%; minério de ferro, 47,5%; fumo em folhas, 43,2%; e milho em grão, 32,4%.

— O preço do minério de ferro não se recuperou como esperávamos, e houve redução nas exportações de carnes e dos preços da conta petróleo, o que acabou afetando as exportações — observou Dantas.O cenário externo é outro fator determinante para o desempenho ruim das exportações, principalmente de produtos industrializados, que ainda enfrentam perda de competitividade em terceiros mercados por causa do real ainda valorizado frente ao dólar . As vendas de manufaturados caíram 31,7% e de semimanufaturados, 6,2%. As maiores baixas ocorreram com óleos combustíveis (55,3%),veículos de carga (46,8%), açúcar refinado (40,4%) e automóveis (39,8%). No caso dos automóveis, a crise argentina teve forte influência nessa queda.

COMPRAS EXTERNAS CAEM 5,9%

As importações totalizaram US$ 17,996 bilhões no mês passado. Como reflexo do baixo aquecimento da atividade econômica, as compras externas tiveram uma queda de 5,9% em novembro, com reduções em todas as categorias, à exceção de combustíveis e lubrificantes, que apresentaram uma alta de 9,8% ante o mesmo mês de 2013. As compras de bens de consumo diminuíram 9,3%; de matérias-primas e intermediários, 8,3%; e de bens de capital, 8,1%. Em ter mos de países, os principais mercados compradores de produtos brasileiros foram, em ordem decrescente, Estados Unidos, China, Argentina, Holanda e Alemanha. Do lado dos maiores fornecedores ao Brasil, lideraram o ranking China, EUA, Argentina, Alemanha e Nigéria.