Com uma queda de 21,5% acumulada no ano e de 37,5% em 12 meses, as ações preferenciais da Petrobras têm um futuro bastante incerto aos olhos de analistas e gestores que acompanham a empresa. Diante de preocupações com os fundamentos da companhia, o atraso na divulgação do balanço do terceiro trimestre e a Operação Lava-Jato, que investiga o escândalo de corrupção na empresa, resta ao investidor a grande dúvida: o que fazer com os papéis já em carteira?

 

Gestoras e corretoras têm adotado uma postura cautelosa e, mesmo após a extensa teleconferência feita ontem com o mercado, a Petrobras não conseguiu amenizar o peso dos acontecimentos mais recentes sobre seu futuro. Há quem veja espaço para queda adicional das ações, que ontem fecharam a R$ 12,60, menor cotação desde 19 de março (R$ 12,54) e próxima da mínima do ano (R$ 11,81), e um grupo que considera que o piso já está próximo. Não há uma resposta única entre vender ou manter os papéis no portfólio, e há até algumas poucas casas que seguem com recomendação de compra das ações, como a Votorantim Corretora.

 

Instituições como Goldman Sachs, Santander e BTG Pactual estão com recomendação neutra ou de manutenção. Desde o fim das eleições, as casas têm ajustado suas recomendações.

 

 

O gestor da 3R Investimentos Tomás Awad assinala que as variáveis sobre a situação da Petrobras tendem a continuar fora de controle e, sem visibilidade, o cenário não se mostra atrativo para o investidor. “A relação entre risco e retorno não parece ajustada”, diz.

 

Ainda que acredite numa eventual melhora da empresa, Awad ressalta que o potencial de valorização das ações não parece convidativo em um contexto de alta alavancagem e de falta de foco do governo em termos de retorno para os acionistas, diz. A gestora de recursos chegou a ter papéis da empresa durante as eleições, mas se desfez das posições, que não eram de longo prazo, antes mesmo do fim da disputa.

 

Roberto Indech, da área de estratégia da Rico Corretora, hoje não recomenda comprar as ações da Petrobras, mesmo com a forte baixa dos papéis, nem indica a venda, por não enxergar ainda mudanças no cenário de curto prazo que justifiquem esse movimento – o que sugere uma posição neutra. A instituição entrou o mês com recomendação de compra para os papéis na carteira de novembro.

 

Para tomar uma decisão, Indech assinala que é preciso antes analisar os resultados auditados do terceiro trimestre deste ano, a fim de verificar se haverá de fato um impacto do escândalo de corrupção nos números da companhia.

 

Ontem, em teleconferência, o diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras, Almir Barbassa, disse que a empresa tem o compromisso de entregar as demonstrações financeiras revisadas até o fim de janeiro. Segundo o diretor, se confirmadas as informações divulgadas pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato, a companhia terá de fazer ajustes no balanço do terceiro trimestre para que reflitam os preços justos dos bens e serviços contratados pela companhia sob suspeita de superfaturamento.

 

Indech também ressalta que é preciso saber se a empresa vai alterar a presidente. Graça Foster, atualmente no comando da companhia, disse ontem que não recebeu nenhuma informação sobre possíveis alterações na diretoria da companhia. “Essas são as duas razões pelas quais ainda mantemos uma visão neutra sobre a empresa”, diz Indech. “Ainda não há razão suficiente para realizar prejuízo. Até pela elevação do dólar, temos que entender qual o nível de endividamento da empresa, porque devem crescer os rumores da possibilidade de uma capitalização.”

 

Na visão do sócio de uma gestora que pediu para não ser identificado, a Petrobras tem três caminhos possíveis para enfrentar a atual situação de caixa: fazer um aumento relevante nos preços dos derivados, cortar o plano de investimentos ou realizar uma nova capitalização.

 

O primeiro caso, diz, esbarra no impacto sobre a inflação, atualmente próxima ao teto da meta. “Além disso, o governo está numa situação fiscal muito delicada e, entre voltar com a Cide [Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico] e aumentar o preço dos derivados, a primeira opção é mais provável”, acredita. Por ora, o governo tem dito que um aumento da alíquota da Cide, para incidir sobre a importação e a comercialização de petróleo e derivados, não está na pauta.

 

O corte dos investimentos também seria uma medida drástica, dada a participação relevante sobre o total do país. Por isso, o sócio da gestora avalia ser mais fácil e provável realizar um novo processo de capitalização, “às custas de novo do investidor minoritário”. Mas se o plano for levado adiante, ele deve sair com um preço muito abaixo do valor de mercado.

 

“Para resolver o problema da Petrobras, a capitalização teria que ser grande. Fala-se mais ou menos em R$ 35 bilhões para fechar o balanço de dois anos. A empresa sairia de um círculo vicioso que está hoje e entraria num círculo virtuoso”, afirma.

 

Em relatório do dia 7 de novembro, o BTG Pactual afirmou que novas condições o levaram a enxergar 80% de chance para um aumento de capital em 24 meses. Não se pode, entretanto, deixar de lado o sentimento negativo do investidor com relação à situação da estatal e a própria limitação fiscal do governo para acompanhar um novo aumento de capital.

 

No contexto atual, o sócio da gestora afirma que a tendência estrutural para os papéis é de baixa e que o investidor deveria realizar o prejuízo, vendendo as ações.

 

Outro gestor que também não quis ser identificado concorda e enxerga um risco razoável de não apenas a pessoa física sair de Petrobras, como também os institucionais. Desde a cotação mínima do ano, em março, a situação da Petrobras piorou muito, e o valor atual está bem próximo daquele patamar. Isso quer dizer que há mais espaço de queda dos papéis, ressalta.

 

Para esse gestor, antes de uma capitalização ser formalizada, a Petrobras poderá redimensionar seus investimentos. O processo, segundo ele, vai depender em grande medida do nível de preço do petróleo. E há ainda dúvidas sobre o impacto da suspensão de investimentos na curva de crescimento da produção da companhia.

 

“Com o petróleo a US$ 75,00, o investidor começa a colocar em xeque se os investimentos da Petrobras seriam rentáveis”, diz o chefe da área de análise de uma corretora, que também preferiu não ser identificado. Ele ainda destaca que não se pode comprar um ativo sem saber o lastro. Nesse caso, o desconhecimento sobre os números do terceiro trimestre representam um risco que não vale a pena correr. Para o acionista da empresa, contudo, sua recomendação é de manter as ações, pois ele não enxerga tanto espaço adicional de queda. É preciso, entretanto, ter paciência para aguentar essa eventual recuperação.