Sem aceitar o acordo proposto pelas empreiteiras para se livrarem de punições na Operação Lava-Jato, investigadores do considerado “maior escândalo de corrupção” da história brasileira miram em outros esquemas e desmandos. Tanto no Ministério Púbico quando na Polícia Federal, a ordem é terminar de apurar os desvios na Petrobras e preparar novas frentes de apuração em obras de setores como energia, aeroportos e hidrelétricas.

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa no Paraná, reitera o que afirmou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no sábado: é impossível aceitar o acordo proposto pelas empreiteiras, que consiste em pagar multas e se livrar da cadeia e do encerramento dos contratos com a administração pública, que, na prática, levaria as empresas à falência. Ele está de olho em novos esquemas.

Na prática, só seria possível um acordo se, além de serem mantidas penas de prisão, multas bilionárias e sanções administrativas, os executivos entregassem “novos fatos criminosos” ainda ignorados pelo Ministério Público Federal. Isso porque já existem provas para condenar os corruptores em relação aos desvios na estatal. Nessa possibilidade, considerada bastante remota, eles poderiam obter prisões domiciliares, a exemplo do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

“Eu não dependo de provas para a Petrobras”, disse Carlos Fernando ao Correio no fim de semana. “Não adianta ele (o empreiteiro) vir me confessar porque, agora, eu já tenho provas da maior parte dos ilícitos”, completou. O presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio Ribeiro, entende que a Lava-Jato está “na fase final” e vai gerar seus filhotes. “A questão também é que é uma operação que já está chegando ao fim e vai dar origem a várias outras”, explicou. “O objetivo da operação em si está esgotado.” Ele diz que vários novos inquéritos serão abertos. Provavelmente até quarta-feira, o Ministério Público oferece denúncia contra seis empreiteiras, 11 executivos e o ex-diretor da petrolífera Paulo Roberto Costa.

Leôncio destaca que o processo penal da Petrobras em andamento está prestes a ser sentenciado pelo juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba, Sérgio Moro. Nele, foi denunciado apenas um embrião do esquema, mostrando que dinheiro desviado da Petrobras foi lavado por meio da Camargo Corrêa, da fornecedora de tubos Sanko Sider, do empresário Márcio Bonilho, e de uma rede empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef, considerado um dos líderes do esquema.

Planilha
Como mostrou o Correio, foi Bonilho quem produziu a lista de 747 obras, apreendida com Youssef, e que mostra prospecção de negócios em várias partes do Brasil e do mundo. A relação inclui empreendimentos privados e públicos, a exemplo do Aeroporto de Manaus e do Porto de Mariel, em Cuba. Nos interrogatórios das delações premiadas dos executivos da Toyo Setal Augusto Mendonça e Júlio Camargo, os policiais já questionaram sobre eventual envolvimento deles em obras como da Infraero e da usina de Belo Monte, no Pará. O Correio revelou que um laranja de Youssef contou que o doleiro utilizou um esquema de créditos tributários para desviar R$ 6 milhões para uma empresa controlada por ele. No mesmo esquema, a Petrobras é investigada por injetar R$ 180 milhões na conta de construtoras que, suspeita-se, receberam em duplicidade com um financiamento do BNDES ao governo de Mato Grosso.

Todos esses esquemas vão ficar “na fila”, incluindo a lista de obras, segundo um delegado da Lava-Jato. Carlos Fernando diz que a planilha dos empreendimentos fez parte dos questionamentos na delação de Youssef, mas que só será analisada depois que voltar do Supremo Tribunal Federal (STF), onde está sob análise por conter também acusações a parlamentares. “Vamos ouvir o delator e analisar a contabilidade e movimentação financeira dele. Só a palavra dele é suspeita. E esse documento também me parece suspeito. Tem que achar mais provas”, finaliza o procurador.