Emocionado e sem conter o choro, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) se despediu ontem do parlamento. Após 60 anos de vida pública, sendo 32 deles de mandato parlamentar, o senador gaúcho ressaltou nas quatro horas e meia em que ficou na tribuna que ainda sonha com a reforma política e com a ética na política. Prestes a completar 85 anos, Simon foi aplaudido de pé pelos colegas e, no fim, ganhou o microfone que usou por anos na Casa. 

Na frente de toda a família, como a mulher, Ivete, dois filhos e a neta, o peemedebista tentou, sem sucesso, segurar o choro. Com um lenço, secou as lágrimas ao ouvir as dezenas de homenagens dos colegas senadores. Depois, citou palavras de São Francisco e dos poetas Mário Quintana e Pablo Neruda para defender "dois abnegados na luta de combate à corrupção". Simon ressaltou a atuação do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa na condução do julgamento do mensalão e também destacou o trabalho do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato. 

"Bem-aventurado, Joaquim Barbosa! Bem-aventurado, Sérgio Moro! Bem-aventurados todos aqueles que, abnegados, gritam e lutam contra a corrupção e contra a impunidade! Bem-aventurados os que, apostolados, empunham a bandeira da ética na política. Bem-aventurados sejam todos os que, por meio de assinaturas e da pressão sobre o Congresso Nacional, alcançaram êxito na aprovação da Lei da Ficha Limpa", esbravejou Simon, considerando o julgamento do mensalão "um divisor de águas" na Justiça brasileira. 

Antes de ser derrotado nas urnas, em outubro, o senador já havia desistido de concorrer às eleições. Pedro Simon chegou a anunciar que, por recomendações médicas, abandonaria a vida pública. Porém, acabou herdando a vaga deixada pelo deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), que substituiu o presidenciável Eduardo Campos (PSB), morto em um acidente aéreo em 13 de agosto passado. À época, Simon afirmou que o apelo partidário e a crença no projeto da candidata à Presidência de Marina Silva (PSB) o convenceram a concorrer. 

A derrota 

Aos 84 anos, Simon conhecia a possibilidade da derrota nas urnas devido ao pleito polarizado pelas candidaturas de Lasier Martins (PDT) e de Olívio Dutra (PT). "As possibilidades de perder existem. Eu não sei como será a repercussão, se vou cair no ridículo. Mas fiz o que tinha que fazer. Fiz a minha parte", disse, antes de disputar o quinto mandato. 

Em junho, quando anunciou de deixaria a política, Simon havia reforçado seus planos de palestrar pelo país, falando sobre sua extensa trajetória pública. Sempre que tinha oportunidade, o peemedebista recebia estudantes e interessados em seu gabinete para explanações sobre a conjuntura nacional, desde a ditadura até a contemporaneidade. E esse deve ser o próximo passo do gaúcho, que deixará o Congresso em 1° de fevereiro de 2015. 

"Vou caminhar por este imenso país e semear minhas ideias nos campos fecundos do saber de uma juventude que clama por mudanças. Não mais uma juventude de palavras silenciadas pela repressão. Agora, elas são impelidas pela indignação. A indignação com a impunidade que alimenta a corrupção. A mesma corrupção responsável pelas nossas maiores mazelas", frisou ontem sobre os seus planos.