Diante das denúncias de corrupção e dos processos na Justiça, a Petrobras já perdeu um terço do valor de mercado este ano. Ontem, as ações preferenciais (PN) caíram mais 4,67%, e as ordinárias (ON), 4,17%, abalando a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), que fechou em queda de 1,29%. O pregão registrou 49.555 pontos, menor patamar desde 26 de março, quando chegou a 47.966 pontos. Os investidores estão fugindo dos papéis da petroleira, com medo de que as indenizações cobradas nos tribunais sejam altas demais e pressionem o combalido caixa da estatal. 
Ontem, a Força Sindical informou que ingressará na próxima semana com ação coletiva contra a Petrobras, exigindo ressarcimento de perdas geradas a pelo menos 300 mil trabalhadores que investiram recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) na compra de ações da estatal. Miguel Torres, presidente da Força, afirmou que técnicos da central vão calcular as perdas aos acionistas decorrentes da corrupção na petroleira, que excedem ao risco próprio do mercado de capitais, seguindo o argumento dos investidores norte-americanos. 

Para piorar, a Petrobras planeja captar R$ 45 bilhões no mercado em 2015 para levar adiante o seu ambicioso plano de investimentos no pré-sal. A intenção era levantar 70% do valor no primeiro trimestre, período em que, normalmente, se faz um esforço para vender títulos de dívida a investidores estrangeiros. As atuais condições tornarão a tarefa difícil e cara. 

Até agora, pelo menos seis grupos de investidores protocolaram ações civis públicas contra a estatal nos Estados Unidos. Dois escritórios de advocacia, um norte-americano e outro brasileiro, representam acionistas que compraram papéis da Petrobras na Bolsa de Nova York, os chamados ADRs, de maio de 2010 a novembro de 2014. Ambos sugerem que qualquer investidor, pessoa física ou empresa, que tenha comprado o título se junte ao processo, o que pode levar a indenizações bilionárias. O prazo para a adesão é 6 de fevereiro próximo. 

Com a imagem bastante arranhada e correndo o risco de pagar bilhões aos investidores lesados pela falta de informações claras, não resta muita alternativa à Petrobras para se capitalizar. O mercado financeiro internacional está fechado para a empresa, que ainda não publicou o balanço do terceiro trimestre. Na avaliação de Demetrius Borel Lucindo, economista da DMBL Investimentos, as contas não fecham. "É impossível a Petrobras investir agora. Terá que rever investimentos e apelar para a venda de novas ações", assinalou. 

Saídas 

Para Clodoir Vieira, economista da Compliance, é normal que os investidores estejam correndo dos papéis da Petrobras, derrubando assim o seu valor. "Com os processos em Nova York depois de tanta corrupção, não há perspectiva no curto prazo", esclareceu. Em um ano, as ações PN se desvalorizaram 34,51% e as ON, 32,52%. Os papéis valem pouco mais de R$ 10, e a companhia tem o maior endividamento do setor, acima de R$ 300 bilhões. "Acredito que uma saída seria emitir debêntures, porque não é o melhor momento para a companhia no mercado acionário. O único problema é que terá que pagar prêmios (remunerações) muito altos", pontuou. 

No entender do consultor Robson Pacheco, as investidas judiciais nos EUA terão, no curto prazo, efeito nulo sobre o caixa da Petrobras. "Este tipo de processo demora muito e afeta mais a imagem", ressaltou. Segundo ele, ainda há a chance de funcionários-acionistas entrarem com ação contra os processos de estrangeiros. "Não se pode prejudicar uma empresa inteira, com mais de 50 mil funcionários, também acionistas, em razão de meia dúzia de responsáveis pela corrupção", observou.

 

 

Petróleo fecha abaixo de US$ 65

 

As cotações internacionais do petróleo ampliaram ontem as suas perdas. Nos Estados Unidos, o barril fechou cotado a US$ 61, queda de 4,42%. Na Europa, o barril tipo Brent ficou em US$ 64,09, uma baixa de 4,12%. Trata-se do primeiro patamar abaixo de US$ 65 em mais de cinco anos, após a Organização dos Países Exportadores de petróleo (Opep) ter cortado sua previsão da demanda em 2015 para o menor nível desde 2003. Os preços em queda também foram influenciados pela previsão do Irã de que o barril pode chegar a US$ 40, caso os países- membros da Opep não consigam estabelecer um consenso. 
Mas o recuo foi mais acentuado logo após a divulgação dos estoques dos Estados Unidos na semana passada. Houve crescimento de 1,45 milhão de barris, para 380,8 milhões, ante a expectativa de queda de 2,7 milhões de barris. As perdas acumuladas no valor do Brent já chegaram a 41%. O declínio prolongado dos preços do petróleo deixa países como Rússia e Venezuela em situação difícil.

Para a Petrobras, que atravessa turbulências no mercado, esse cenário também preocupa. Mesmo sem a estatal informar o valor ideal do barril em suas vendas, para compensar o custo do investimento na exploração, analistas estimam que esse piso seja em torno de US$ 60. Segundo cálculos do banco Goldman Sachs, a geração de caixa anual da estatal cai perto de R$ 5 bilhões toda vez que o preço do barril desvaloriza US$ 10. 

Cartel dividido 

A produção média diária do grupo de países exportadores de petróleo, reunidos no cartel da Opep, ficou em 30,05 milhões de barris em novembro, acima do estabelecido entre eles nas últimas reuniões. Mas a perspectiva ainda é que a procura recue em 2015 para a média de 28,9 milhões de barris por dia. Cortes iguais ou superiores a esses são considerados fundamentais para evitar o aprofundamento da queda nas cotações do barril. A produção da Opep era de 39 milhões de barris diários em outubro. Mas a organização havia estabelecido um teto de produção para o grupo de 30 milhões de barris por dia. Alguns membros, como a Venezuela, tentaram abaixar esse teto, preocupados com as fortes quedas recentes nos preços. Mas a Arábia Saudita não deu o sinal verde.

 

Sem sucessor para Graça

Mesmo com a imagem da diretoria da Petrobras abalada por sucessivos escândalos, o mercado tem dificuldades em apontar um nome para suceder Graça Foster na presidência da estatal, caso seja demitida. Parece não haver ninguém qualificado tecnicamente e, ao mesmo tempo, capaz de limpar os focos de corrupção entranhados na maior companhia do país. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu ontem a permanência de Graça e demais diretores. Cardozo disse que não há indícios ou suspeitas do envolvimento deles no esquema investigado pela Operação Lava-Jato. A defesa do ministro foi uma resposta ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que, mais cedo, havia sugerido a substituição de toda a diretoria da Petrobras. 
Para o economista Demetrius Borel Lucindo, da DMBL Investimentos, a funcionária de carreira Graça já deveria ter saído do comando da Petrobras. "Em qualquer outro lugar do mundo, ela estaria na cadeia. Não cai porque pode resolver falar o que sabe", destacou. Segundo Lucindo, não adianta um eventual novo presidente ter perfil técnico. "A Graça é técnica e veja no que deu. Até o marido dela tem contrato com a Petrobras", lembrou. 

O consultor Robson Pacheco não acredita que seja necessária a substituição da presidente. "Não imagino um nome para sucedê-la, mas teria que ser alguém capaz de apagar os efeitos negativos dos escândalos. Também não acho que ela tenha que sair. Os funcionários dizem que ela é autoritária, mas ninguém duvida da sua capacidade de gestão", ponderou. 

Na opinião do economista da Compliance Clodoir Vieira, quem entrar na Petrobras vai assumir uma bomba-relógio. "E o estopim já está aceso", disse. Para Vieira, Graça, está envolvida nos escândalos e a melhor opção, neste momento, seria a saída de toda a diretoria. "O momento é difícil para a sucessão, mas o correto seria todo mundo deixar seus cargos", afirmou.