A desvalorização do real frente ao dólar já contribui para a melhora das receitas de vendas ao exterior dos exportadores. A expectativa de dólar mais forte também amplia planos de exportação das empresas para 2015.

A WEG, fabricante de motores e equipamentos elétricos, diz que o real mais depreciado frente ao dólar colocou no radar de exportação da empresa o Leste Europeu, região com preços relativamente mais baixos e que pode se tornar mais viável com a desvalorização cambial. A fabricante de compressores Metalplan quer aproveitar a competitividade do novo patamar cambial para manter os atuais mercados e intensificar esforços em novas regiões, como o mercado russo. A ideia é, com câmbio mais favorável, fazer a receita de exportação avançar de 10% para 20% do faturamento total da empresa. "Estamos vendo que agora podemos dobrar o peso da exportação no faturamento total sem muitas dificuldades. Já tivemos essa proporção, de 20%, nos nossos melhores anos, em 2003 e 2004. Acho que conseguiremos isso, se o câmbio estiver entre R$ 2,50 e R$ 2,70", diz Edgard Dutra, diretor da Metalplan.

Na Romi, fabricante de bens de capital, já no segundo semestre os embarques começaram a se recuperar. De janeiro a junho a receita de exportação da Romi cresceu, em moeda nacional, 11% em relação a igual período do ano passado. No segundo semestre os embarques deslancharam e, de janeiro a setembro, a receita de exportação aumentou 20%, contra iguais meses do ano passado. A conta leva em consideração somente a receita de exportação da produção brasileira.

A calçadista Priority, dona das marcas West Coast e Cravo & Canela, diz que o dólar mais caro irá permitir à empresa voltar a trabalhar com mais intensidade em parte dos produtos vendidos ao exterior que havia perdido competitividade. Entre eles, botas masculinas para o mercado europeu e chinelos e sandálias masculinas para o Oriente Médio. A empresa quer aumentar em 20% a receita de exportação para o ano que vem.

"Certamente teremos reflexo positivo da desvalorização. Alguns mercados nos quais não estávamos pensando em aumentar a presença foram reavaliados, como alguns países europeus", diz Heitor Klein, presidente da Abicalçados, que reúne a indústria calçadista.

Livaldo Aguiar dos Santos, presidente da Romi, diz que o crescimento da receita de exportação em reais este ano não se deve somente à desvalorização da moeda nacional frente ao dólar, mas principalmente ao aumento no volume de vendas. A alta de embarques, diz Santos, é resultado de uma estratégia intensificada nos últimos trimestres de reforçar a estrutura de vendas em diferentes destinos, mantendo profissionais brasileiros em trabalho conjunto com representantes locais.

A expectativa é que a receita de exportação da Romi feche este ano com crescimento de 20% em reais, segundo Santos. O aumento até agora, diz, foi puxado principalmente por encomendas de países latino-americanos e da Europa. Argentina e Estados Unidos, lembra, tiveram desempenho aquém da expectativa e a avaliação é de que ao menos os americanos ajudem a elevar as vendas em 2015. A estimativa, diz, é de que o câmbio tenha evolução mais favorável a partir de agora. "A percepção dos empresários é de que o governo entendeu que o câmbio é importante não só para a indústria, mas também para o agronegócio e as commodities metálicas".

O governo, acredita o presidente da Romi, seguirá controlando o câmbio. "Mas sem colocar a mão de ferro", avalia. Ele cita cálculos de economistas que sinalizam para um câmbio ainda sobrevalorizado em cerca de 20%. "Essa conta não é minha, mas indica que há ainda bastante espaço para se trabalhar". Para ele, o controle do câmbio, antes centrado na preocupação com a inflação, deve ser deslocado para medidas de ajuste fiscal.

A Metalplan, empresa que fabrica maquinário industrial, já havia previsto em seus planos de final de ano a alta do dólar. A percepção da empresa, diz Dutra, é que as encomendas da indústria estavam "congeladas" nos últimos dois meses em função da indefinição no cenário político do país. Agora, as vendas devem ajudar a fazer um final de ano menos pior do que foi observado de janeiro até o mês passado, quando o faturamento caiu 20%, acompanhando a forte retração da indústria de máquinas e equipamentos neste ano, que está com média de 25%.

Em um ano adverso, a exportação conseguiu se manter como boa fonte de recursos. Em 2014, o tamanho da receita com a venda ao exterior em relação ao faturamento total deve subir dois pontos percentuais em relação a 2013, para 10%. Com o novo câmbio, conta Dutra, a perspectiva é de um 2015 muito mais promissor para o comércio exterior da empresa.

Por se tratar de produtos de maior complexidade e com menos concorrentes do que outros industrializados menos complexos de se produzir, como têxteis, por exemplo, as máquinas e os equipamentos da empresa possuem clientela mais cativa. Um aumento de margem de 10% a 20% - calculado com a desvalorização do real desde o início do segundo semestre - amplia, diz o diretor, a possibilidade de futuros clientes e de maior volume de venda aos antigos compradores.

"Temos lançado produtos importantes no último ano e com o câmbio mais favorável algumas empresas que não compravam por causa do preço estão repensando a decisão. Estamos tentando fechar acordo com a Rússia, por exemplo", afirma Dutra.

Gustavo Iensen, diretor internacional da WEG, conta que, atualmente, cerca de 60% das exportações da companhia têm como destino a América do Norte e a Europa. Alguns países do Leste Europeu, porém, segundo ele, devem entrar mais fortemente no radar dos embarques da empresa. Apesar da volatilidade da cotação do câmbio, a expectativa de maior desvalorização do real permite experimentar mercados novos, diz.

O Leste Europeu é um dos alvos, porque, segundo Iensen, há muita produção local, numa região em que os preços são relativamente mais baixos e para o qual o câmbio pode tornar o industrializado brasileiro mais competitivo. Além disso, a empresa, ao mesmo tempo em que reduz custos, pode também trabalhar com as produções que mantém fora do país, em unidades na China e na Índia.

Iensen lembra, porém, que a apreciação do dólar é um fenômeno geral no mundo, o que também dá vantagem aos concorrentes internacionais. Portanto, a desvalorização cambial não deve resultar em imediata redução dos preços de exportação. "A manutenção de mercados no exterior requer competitividade, oferta de serviços e coerência. Não é possível mudar o preço conforme o câmbio."

De qualquer forma, diz o executivo, o real mais depreciado ajuda na consolidação dos números da empresa em reais, já que gera maior receita em moeda nacional. O desempenho da WEG no mercado internacional, avalia Iensen, deve ficar aquém do previsto inicialmente para este ano. Até o terceiro trimestre a receita de exportação, em moeda nacional, cresceu em torno de 12% em relação a igual período de 2013. Em dólares, porém, ressalta, o crescimento não passou dos dois dígitos. Para este ano, a empresa projetava inicialmente o dólar médio a R$ 2,30. O valor foi revisto para média de R$ 2,35. Para 2015, diz ele, a empresa ainda não fechou estimativa.

 

Calçadistas esperam a retomada de embarques em 2015

 

A mudança de patamar do dólar ao redor de R$ 2,50 para o fim deste ano permitiu para o setor calçadista um planejamento mais agressivo para o programa de exportações em 2015, segundo Heitor Klein, presidente da Abicalçados, que reúne os fabricantes do setor.

A magnitude do impacto favorável do câmbio ainda não foi quantificada pela indústria calçadista. A Abicalçados trabalha com comparação ao observado neste ano, que deve terminar com as exportações de calçados no mesmo patamar registrado em 2013, ao redor de US$ 800 milhões. "Esse valor, assim como o volume, deverão ter um desempenho melhor em 2015. Já é um alento, pois o setor vem enfrentando dificuldades há dois anos para aumentar as vendas ao exterior", diz.

A desvalorização do real frente ao dólar irá possibilitar à fabricante de calçados Priority, dona das marcas West Coast e Cravo & Canela, ampliação de mercados e reforço nos produtos que voltam a ganhar competitividade no mercado internacional. Segundo Eduardo Smaniotto, diretor comercial do grupo, a expectativa é que com o dólar mais forte a partir do ano que vem, destinos que ficaram mais paralisados devem entrar no planejamento de ampliação, como Rússia e Ucrânia. Outro mercado considerado interessante é o Oriente Médio.

A desvalorização, diz ele, pode também proporcionar o retorno com mais força de produtos que foram mantidos no catálogo de exportação da empresa, mas acabaram perdendo vendas por falta de competitividade. Ele dá como exemplo as botas masculinas para a Europa e os chinelos e sandálias masculinos para o Oriente Médio.

Smaniotto explica que os calçados masculinos sofrem menor concorrência dos produtos chineses, o que pode ajudar na tentativa de ganhar mais espaço com a desvalorização do real.

A alta do dólar é interessante para a rentabilidade da exportação e pela possibilidade de tornar o produto mais competitivo, mas o diretor Priority diz que há ainda muita instabilidade, o que dificulta aos calçadistas tomar uma decisão sobre redução de preços de exportação.

A alta do dólar também exerce pressão sobre os custos, por conta dos insumos que seguem preços do mercado internacional. Para este ano, diz Smaniotto, a empresa deve ter desempenho abaixo da meta de 30%. Para o ano que vem, a projeção é elevar as exportações em 20%.