Moscou e Pequim firmaram um acordo de fornecimento de gás do oeste da Sibéria para a China, pelo qual em algum momento mais gás poderá fluir da Rússia para seu vasto vizinho do leste do que para os tradicionais mercados europeus.

Admitindo que detalhes cruciais, como o preço, serão acertados, o negócio representará outro grande passo nos esforços do presidente russo, Vladimir Putin, para construir uma relação mais próxima com a China no setor energético, compensando assim o crescente isolamento a que a Rússia vem sendo submetida pelo Ocidente.

Prejudicada pelas sanções impostas por EUA e União Europeia, devido ao seu apoio aos separatistas russos na Ucrânia, a Rússia há muito tenta reduzir a sua dependência da Europa como cliente e diversificar seus mercados exportadores. Este mais novo acordo representa um passo importante nesse sentido.

Putin e o presidente chinês, Xi Jinping, assinaram o acordo à margem da cúpula da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec, uma associação regional) em Pequim, enquanto o presidente dos EUA, Barack Obama, chegava à capital chinesa para o encontro.

Pelo acordo, a Gazprom, grupo de energia controlado pelo Kremlin, fornecerá à estatal de petróleo chinesa CNPC 30 bilhões de metros cúbicos de gás por ano. Isso, além dos 38 bilhões que a Rússia concordou em vender para a China em um acordo de US$ 400 bilhões firmado em maio.

O negócio de maio envolveu gás de campos que ainda serão desenvolvidos numa região remota de tundra no leste da Sibéria. No entanto, o acordo de ontem, ao qual Moscou se refere como a rota “ocidental”, fornecerá à China gás de campos do oeste da Sibéria, que atualmente suprem a Europa.

“Levando em conta o aumento do fornecimento de gás ao longo da rota ocidental, o volume total de gás exportado para a China poderá superar o fornecimento à Europa no médio prazo”, disse Alexei Miller, presidente da Gazprom.

“O fornecimento sairá de campos do oeste da Sibéria que são a mesma base de recursos hoje usada nas exportações para a Europa”, acrescentou. “A rota ocidental está se tornando um projeto prioritário em nossa cooperação de gás.”

A Sibéria ocidental é mais ou menos equidistante da Europa e da Ásia, de modo que, assim que os dutos necessários estiverem prontos, o gás produzido ali poderá ser encaminhado para o mercado que oferecer condições mais atraentes.

No entanto, autoridades russas e chinesas vêm discutindo a rota ocidental há anos, e especialistas disseram que o modelo acertado ontem é apenas o mais recente estágio de uma longa negociação que poderá não resultar em um acordo comercial.

Além disso, a Europa comprou da Rússia 160 bilhões de metros cúbicos de gás no ano passado, de modo que deverá continuar sendo o maior mercado comprador do gás russo nos próximos anos.

Keun-Wook Paik, pesquisador sênior do Instituto Oxford para Estudos Energéticos, disse que a Rússia está tentando anular as exportações de gás natural liquefeito dos Estados Unidos, que poderão começar a chegar ao mercado chinês no fim desta década.

“O presidente Putin está preocupado com a entrada do GNL americano no mercado asiático”, disse. “Assim, antes que ele comece a chegar à China, a Rússia precisa conquistar uma parcela do mercado chinês de gás encanado.” Para Paik, a China será “o campo de batalha para os EUA e a Rússia à medida que eles se concentram na Ásia”.

Separadamente, a CNPC também anunciou ontem que vai comprar uma participação de 10% na Vankorneft da Rússia, uma subsidária da estatal de petróleo Rosneft.

Um mapa inicial divulgado pela Gazprom para a imprensa russa, indica que o duto ocidental de gás cruzará a estreita e ambientalmente sensível fronteira com a China na província de Xinjiang, que fica no extremo oeste do país. Negociações anteriores abriram a possibilidade de uma rota mais longa, passando pelo Cazaquistão ou a Mongólia.

A rota cazaque teria permitido ao país adquirir quase um terço do gás, resolvendo as preocupações chinesas em encontrar um mercado para todo o gás contratado. No entanto, algumas pessoas no Cazaquistão se opuseram à ideia de o país se tornar dependente da energia de seu vizinho maior do norte. A Rússia já apoiou no passado a construção de dutos para a China passando pela Mongólia, mas a ideia foi vetada pela China.