Temer: vice cancela viagem aos Emirados Árabes para negociar reforma ministerial com a presidente Dilma O vice-presidente Michel Temer cancelou viagem aos Emirados Árabes que faria no dia 28 de novembro para negociar com a presidente Dilma Rousseff a reforma ministerial. Entra na agenda do vice, que também é o presidente nacional do PMDB, não apenas a rediscussão da cota dos senadores do partido no primeiro escalão, mas a volta de uma representação da Câmara dos Deputados. Há nove meses, a bancada liderada por Eduardo Cunha (RJ) abriu mão dos ministérios do Turismo e da Agricultura e declarou-se independente do governo. Agora, no entendimento de deputados ligados ao parlamentar fluminense, não será possível vencer a disputa pela presidência da Câmara fora da base governista. Temer tomou um café da manhã com sete deputados ligados a Cunha, todos confrontados há meses com o governo. O encontro foi pedido pelos deputados, preocupados com o isolamento em que ficaram após as eleições. A volta ao primeiro escalão foi discutida durante o encontro e horas depois, em uma reunião da bancada do PMDB. Os deputados buscam a retirada do veto do governo à candidatura de Cunha à presidência da Câmara e a escolha de um parlamentar com mandato para o ministério, o que exclui a volta de Gastão Vieira (PMDB-MA) para o Turismo ou o ingresso no primeiro escalão de Eliseu Padilha (PMDB-RS) e do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), todos em fim de mandato. O vice, que está no exercício do cargo, disse que discutirá o assunto com a presidente Dilma Rousseff por volta do dia 22. Atualmente o PMDB conta com os ministérios da Previdência e Minas e Energia, ocupados pelos senadores licenciados Garibaldi Alves Filho e Edison Lobão. Também está na pasta do Turismo e da Agricultura, com os técnicos Vinicius Lages e Neri Geller. Ainda conta com a Aviação Civil, sob comando do ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco. A ideia é obter uma sexta pasta. Temer busca retomar influência sobre o partido, reagindo ao avanço de Cunha. No encontro, o vice não limitou-se a ouvir as reinvidicações dos deputados, mas reclamou do tom das críticas da bancada ao governo, reconheceu problemas de interlocução com o Congresso e admitiu que, depois de 24 anos como deputado, era a primeira vez que perdia prestígio com a bancada do PMDB da Câmara. O mandato do diretório nacional do PMDB expira em março de 2015. Não há nomes de oposição a Temer sendo cogitados, mas, na convenção nacional da sigla que homologou sua nova candidatura a vice na chapa de Dilma, em junho, o governismo teve apenas 57% dos votos. Temer ficará equidistante em uma disputa que contraponha PT e PMDB, mas prometeu trabalhar junto ao governo para amenizar as resistências contra Cunha. "Ele afirmou que como a candidatura do Eduardo é pacífica na bancada, vai estar empenhado em elegê-lo, desde que sem oposição ao governo", afirma um deputado pemedebista. Em público, Temer evita qualquer menção à candidatura do pemedebista. "O que eu tinha pra falar eu já falei. Eu não falo mais sobre isso. Esta é uma matéria do Congresso Nacional. E o Congresso - Câmara e Senado - decidirá da melhor maneira, porque é competência do Congresso", disse. Para Temer, "quem for eleito estará harmonizando a atividade do Legislativo com o Executivo". Cunha não conta com o apoio do PT e não tem assegurado o voto da oposição. O PSDB estuda o lançamento de um candidato próprio, o que evita uma aliança com o pemedebista no primeiro turno. Para diminuir seu isolamento, o pemedebista já procura estabelecer diálogo com o PT, que deve formalizar hoje uma candidatura à presidência da Câmara contrária à de Cunha. Houve uma conversa entre o líder do PMDB e o deputado José Guimarães (PT-CE), um dos petistas que buscam disputar a presidência da Câmara. A candidatura de Cunha será lançada no próximo dia 2. "Não é mais uma candidatura em construção, é uma candidatura posta", disse o parlamentar, após a reunião de bancada.