Com o presidente americano, Barack Obama, a presidente Dilma Rousseff quer marcar o descongelamento da relação bilateral e uma reaproximação inclusive comercial. Com a chefe do governo alemão, Angela Merkel, quer discutir condições de garantia de emprego, que considera o item principal da cúpula do G-20. Com o presidente russo, Vladimir Putin, pretende discutir o interesse brasileiro em aumentar mais o comércio bilateral, em meio a sanções sofridas por Moscou.

Ao desembarcar ontem em Brisbane, a presidente Dilma não tinha, porém, nenhuma confirmação de encontros com os líderes dos EUA, da Alemanha, da Rússia, como tampouco com os da China, da Turquia e com o secretário-geral das Nações Unidas. A expectativa do Palácio do Planalto era que tudo fosse confirmado ao longo do dia.

Com Obama, a explicação é de que a Casa Branca deixa a confirmação para a última hora. Mas Obama e Dilma falaram por telefone, depois que ela ganhou a eleição, e ficou combinada a conversa em Brisbane. Além de comércio, um tema que Dilma deverá tomar a iniciativa de abordar é a segurança cibernética.

A avaliação na delegação brasileira é de que Obama se aproximou da posição por Dilma, com o anúncio do presidente americano de defesa da neutralidade da Internet e da necessidade de regulação para proteger uma web aberta - algo que já provocou uma chuva de críticas contra ele.

Com Vladimir Putin, a conversa poderá também ser interessante não só sobre comércio e de destrave para mais frigoríficos brasileiros, mas até pela agitação que ele está causando na Austrália. A imprensa local aborda principalmente a presença de quatro navios de guerra russos que estariam vindo na direção de Brisbane. O jornal "The Courier Mail" publicou foto de Putin na primeira página vestido de marinheiro com o título "Pare os barcos". As relações russo-australianas são tensas também por causa do conflito na Ucrânia.

Antes de chegar à Austrália, a presidente fez uma escala em Cingapura. Aproveitando o abastecimento do avião, ela foi visitar o porto de Cingapura e ficou "muito impressionada" com o nível de eficiência que viu.

Ao mesmo tempo em Brisbane, porém, o Brasil era acusado de não endossar totalmente o Plano de Ação de Eficiência Energética do grupo das 20 principais economias do mundo, apesar de ações voluntárias bastante vagas. O jornal britânico "The Guardian" coloca o Brasil ao lado de China, Rússia e outros que não querem "considerar" promessas de reduzir a energia usada por smartphones e PCs ou desenvolver regras mais duras para emissões de carros.

De fato, boa parte dos países andou torpedeando propostas da Austrália nesse tema ao longo do ano, por achar que a preocupação dos australianos era mais emplacar seus próprios interesses em gás, por exemplo, do qual estão se tornando grandes produtores.

Em todo caso, um relatório da Universidade de Toronto diz que os países do G-20 fazem grandes promessas que depois não cumprem. Na média, só cumprem 71% do total. O Brasil só respeitaria 66% dos compromissos que assume no grupo. O consolo é que é mais do que Argentina e China, ambos com 56%.

Amanhã, a presidente brasileira vai se reunir com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também hospedados no hotel quatro estrelas na cidade australiana, que é relativamente modesto e sem comparação com o luxuoso hotel onda Dilma foi hospedada pelo xeque do Qatar em Doha.