A China caminha aos poucos para atingir um crescimento de 7% ou menos. O desempenho da economia chinesa é um dos principais motivos para o arrefecimento geral dos preços das commodities, ao lado da estagnação na zona do euro e da perda de dinamismo geral dos mercados emergentes, em especial dos Brics, com exceção da Índia. Mantendo a velocidade de expansão de 7,3% do terceiro trimestre, a China estará mais de 3 pontos percentuais abaixo da média de antes da crise financeira de 2008 e exibirá sua menor taxa de expansão desde o início dos anos 1990.

Os dados divulgados ontem indicam arrefecimento das atividades, embora bem próximo do previsto. Os investimentos em ativos fixos cresceram 15,9% nos doze meses encerrados em outubro, o menor avanço desde dezembro de 2001. A produção industrial aumentou 7,7% no mês passado, a segunda menor variação desde 2009. Algum alívio veio do mercado imobiliário, onde as vendas recuaram em outubro 1,2% em relação ao mesmo mês de 2013 - em setembro, haviam caído 10,3%. Nos dez meses de 2014, os investimentos imobiliários subiram 12,4%, os preços caíram 7,9% e as vendas, 9,9%.

Há rumores de que os planejadores chineses reduzirão a meta de crescimento para 2015 - estimada em 7,1% pelo Fundo Monetário Internacional - e o presidente Xi Jinping mencionou recentemente a cifra de 7% como sendo ainda bastante alta. Mas os problemas não estão tanto na desaceleração da economia chinesa, mas na capacidade de o governo controlá-la e de evitar surpresas desagradáveis. Embora o crescimento ainda seja comparativamente invejável, os desafios criados pelos efeitos da enorme injeção de crédito para enfrentar a crise de 2008 e os desequilíbrios acumulados de um longo período de rápida expansão são consideráveis.

O governo enfrenta dificuldades para redirecionar a segunda maior economia do mundo. "Os problemas fundamentais que fizeram soar o sinal de alarme - entre os quais bolhas imobiliárias, dívida dos governos provinciais, crescimento acelerado da atividade bancária paralela e elevação dos coeficientes de alavancagem corporativos - continuam não resolvidos", aponta o ex-membro do Comitê de Política Monetária do Banco do Povo da China, Yu Yongding (Valor, 22-8).

Para colocar o consumo como motor da economia, a taxa de investimento precisa mesmo cair e um sinal de desacerto será dado se o contrário acontecer. Como ela chegou até recentemente a 50% do PIB, isso significa que a China está investindo bem mais para crescer bem menos que antes. Quando estavam no estágio de desenvolvimento que a China tem hoje, Japão, Coreia, por exemplo, investiam 35% do PIB, enquanto que o consumo atingia 52% do PIB, segundo o economista David Dollar, ou seja a China tem um excesso de 18 pontos percentuais (revista F&D, do FMI, julho de 2014). O consumo chinês é de 34% do PIB. O resultado é uma taxa de retorno cada vez menor do capital - o lucro das 500 maiores empresas foi de 2% em 2013 -, enquanto que seus custos financeiros estão em alta. Ao lado disso, imóveis em excesso sem compradores, aeroportos sem uso e fábricas ociosas.

Os juros precisam subir, porque eles foram negativos por longo período, garantindo dinheiro barato para os investimentos estatais e punindo a rentabilidade da grande poupança da população. Fazer isso agora, porém, é muito complicado, pois colocaria em risco o sistema bancário paralelo que empilhou muitos recursos em projetos inviáveis. O BC chinês têm regulado a conta-gotas a liquidez, para evitar que o aumento das taxas leve a uma quebradeira significativa e fugir de um novo programa de estímulos de grande envergadura.

Com o excesso de capacidade, a inflação está caindo na China. O índice de preços ao consumidor em outubro recuou para 1,6%, enquanto que o de preços ao produtor caiu 2,2%, o 32º declínio consecutivo. O indicador positivo para a mudança de modelo são os salários, que estão crescendo a dois dígitos.

Corrigir os desequilíbrios e pôr o consumo no centro da economia exige hoje esforços contraditórios, como segurar as taxas de juros e continuar a beneficiar o investimento e empréstimos que já levaram o endividamento do país a 240% do PIB, ou elevá-las, com risco de falências e crescimento bem abaixo da meta. Ainda que o governo tenha muitos instrumentos de controle, não tem todos eles e pode cometer erros em uma delicada transição. Para a recuperação mundial, é vital que isso não aconteça.