Título: Duas derrotas de Tombini
Autor: Martins, Victor ; Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 28/06/2011, Economia, p. 12

Presidente do Banco Central é preterido no CMN sobre a meta de inflação de 2013. E não consegue reverter apostas contra o dólar

Opresidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já acumula duas grandes derrotas em apenas seis meses no cargo. Na quinta-feira, o Conselho Monetário Nacional (CMN) fixará o centro da meta de inflação de 2013 em 4,5%, prevalecendo as posições dos ministros Guido Mantega, da Fazenda, e Miriam Belchior, do Planejamento. Desde que tomou posse, Tombini sempre defendeu um alvo menor a ser perseguido pelo BC, próximo dos 3% vistos entre os países emergentes (veja quadro). Mas acabou sendo atropelado porque, dentro do governo, entende-se que meta de inflação menor significa taxas de juros maiores, comprometendo o crescimento econômico.

O outro revés de Tombini vem da batalha cambial contra os bancos. Os ganhos obtidos com a mais dura medida anunciada pelo BC em 2011, para conter o derretimento do dólar, retornaram à estaca zero. Em janeiro, a autoridade monetária determinou que os bancos passassem a recolher, sob a forma de depósito compulsório, 60% do valor das apostas na alta do real acima de US$ 3 bilhões. Como as instituições vinham operando sem ter os dólares no caixa, acreditando que, mais à frente, poderiam arrematar a moeda norte-americana mais barata, o BC as obrigou a antecipar as compras. As apostas, então, caíram de cerca de US$ 19 bilhões para US$ 8,8 bilhões em março. Em junho, já voltaram para US$ 13,6 bilhões.

As derrotas do presidente do BC criaram um clima de preocupação no mercado. Teme-se que Tombini esteja enfraquecido demais no governo para fazer vale as posições da autoridade monetária, vitais para manter a estabilidade da economia. Mais do que o câmbio, é a definição da meta de inflação o tema central das desconfianças.

Analistas ouvidos pelo Correio defendem ao menos um corte no teto da meta, como forma de reforçar o compromisso com a continuidade da queda da inflação. "Ao congelar os 4,5%, com intervalos de dois pontos percentuais para baixo ou para cima, o governo dá mau sinal ao mercado ¿ o de que jogou a toalha. Na prática, a meta está indexada e o centro virou piso", disse Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Lamentos O especialista vê forte contradição no BC ao se prometer atingir o centro da meta deste ano em 2012, sem, contudo, apontar uma queda no ano seguinte. "Se o governo não se esforça para conter preços no seu começo, não conseguirá fazer isso no final", ressaltou, lembrando que 2014 é ano eleitoral. Carmo lamentou ainda a perda de tempo que deveria ser usado na "condução dos índices para onde eles deveriam estar". Reduzir a meta do IPCA, acrescentou, levaria a equipe econômica a focar medidas de desindexação da economia, inclusive de títulos da dívida pública. "Isso favorece crescimento maior no longo prazo", afirmou.

Marcelo Kfoury Muinhos, economista-chefe do Citibank, afirmou que o Brasil tem condições para mirar índices de inflação menores no futuro, chegando a 3% na próxima década. Assim como Heron do Carmo, ele defendeu que o teto da meta brasileira recue de 6,5% para 6%.

Ele ressaltou que as altas taxas de juros do país contrastam com a frouxidão geral das políticas monetárias no mundo, "quando muitos países estão aceitando inflação mais alta para gerar empregos". Para ilustrar, Muinhos lembrou que, de 40 países pesquisados, 30 estão com juros reais (descontada a inflação) negativos. E a maioria dos outros 10 tem taxas de até 1% ao ano.

Modelo americano Desde o começo do governo Dilma Rousseff, especialistas têm apontado nova orientação na política monetária, que estaria seguindo, informalmente, o modelo do Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano). Entre as missões do Fed está a de ajudar os índices de emprego. Essa tese, que combina inflação baixa com crescimento, era defendida abertamente pelo ex-vice-presidente José Alencar e, nos bastidores, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega.