O Ministério Público denunciou por corrupção um indicado do PMDB na Petrobras, acusando-o de receber propinas por autorizar compras diretas de R$ 3,22 bilhões em afretamento de navios da Samsung no exterior. O ex-diretor da Área Internacional Nestor Cerveró é suspeito de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, assim como o lobista Fernando "Baiano" Soares, apontado como o operador do partido, de acordo com o executivo Júlio Camargo e com o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa.

Na denúncia, a força-tarefa de procuradores da Operação Lava-Jato pede ainda a condenação de Camargo por corrupção ativa, lavagem de dinheiro e crimes financeiros e do doleiro Alberto Youssef, por lavagem. A Procuradoria-Geral da República cobra ainda o retorno de

R$ 296 milhões aos cofres públicos, por meio do confisco de

R$ 140 milhões já bloqueados em bens e contas e de R$ 156 milhões em ressarcimento por prejuízos causados.

Camargo afirmou, em delação premiada, que bancou propinas para garantir à Samsung a contratação de dois navios-sonda em 2006 e 2007: o Petrobras 1000 e Vitória 10000 custaram US$ 586 milhões e US$ 616 milhões, respectivamente. Ele disse que, a pedido de Baiano, fez os pagamentos em contas no exterior indicadas pelo lobista: US$ 15 milhões e US$ 20 milhões.

Parte do dinheiro seguiu para os bolsos de Cerveró, segundo análise do Ministério Público Federal. Atas da Petrobras mostram que ele propôs a contratação direta da Samsung. No primeiro negócio, Camargo fez 35 pagamentos para contas indicadas, mas "uma era diretamente controlada" por Cerveró, disseram os nove procuradores da força-tarefa. "Não há qualquer dúvida de que Fernando Soares repassou parte desse valor ao então diretor da área internacional, Nestor Cerveró", garante o grupo coordenado por Deltan Dallagnol. O Ministério Público entende que o ex-diretor agiu de maneira ilegal ao contratar a Samsung diretamente, sem abrir concorrência e verificar outros fornecedores com produtos semelhantes e preços mais atrativos.

Além de depósitos no exterior, na segunda contratação, Camargo recorreu ao doleiro Alberto Youssef para pagar os subornos à dupla Baiano e Cerveró, de acordo com os procuradores da República. Para isso, o doleiro fez 17 operações de lavagem utilizando um hotel que possui em Aparecida, em São Paulo.

"Ilações"

O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, disse ao Correio que o Ministério Público exagerou porque Camargo "jamais acusou diretamente" Cerveró. Ele classificou a acusação de "açodada" e negou que seu cliente tenha recebido propinas. "A denúncia espelha, apenas, ilações do Ministério Público Federal despidas de provas", criticou.

Ribeiro admite a contratação direta, mas afirma que foi legal. Diz que havia falta de sondas para águas profundas à época. "A contratação direta foi aprovada, colegiadamente, pela Diretoria da Petrobras." Sozinho, argumenta Ribeiro, Cerveró não contrataria a Samsung.

A advogada de Camargo, Beatriz Catta Preta, afirmou que, como seu cliente fez acordo de delação premiada, é natural ser denunciado. Ela espera que ele obtenha da Justiça o benefício da redução da pena.

Na denúncia, o Ministério Público Federal informa que a Samsung descumpriu contrato com Camargo para pagar integralmente as comissões que, depois, serviriam para também financiar os subornos. O executivo foi à Justiça contra o estaleiro. Procurada em seus escritórios no Rio de Janeiro e fora do país, a Samsung não esclareceu ao jornal qual o valor médio das comissões pagas a seus representantes. Apesar de não ter sido denunciado, o Ministério Público afirma que Camargo avisou a empresa de que precisaria receber mais dinheiro no negócio do navio Vitória 10000 para bancar os supostos subornos a Baiano e Cerveró.

A Petrobras e o advogado de Fernando Baiano não prestaram esclarecimento ao jornal até o fechamento desta edição. Os advogados de Alberto Youssef não foram localizados ontem.

Mais réus

Ontem, o juiz Sérgio Moro aceitou a denúncia do Ministério Público e tornou réus executivos da empreiteira OAS, além de outros acusados. São eles: Youssef, Paulo Roberto, Waldomiro de Oliveira, José "Léo" Aldemário Pinheiro Filho, Agenor Franklin Magalhães Medeiros, Mateus Coutinho de Sá, José Ricardo Breghirolli, Fernando Stremel Andrade e João Lazzari. A maioria deles está presa. Os depoimentos foram marcados para o início de fevereiro. Moro também aceitou denúncia contra quatro executivos da Galvão Engenharia.

Os detalhes

Confira quais são as compras e as acusações de pagamento de propina apresentadas ontem pelo Ministério Público Federal

Produto: Navio-sonda Petrobras 1000

Fornecedor: Samsung Heavy Industries

Contratação: julho de 2006

Valor: US$ 586 milhões (R$ 1,57 bilhão)

Propina: US$ 14,3 milhões (R$ 38,4 milhões)

Produto: Navio-sonda Vitória 10000

Fornecedor: Samsung Heavy Industries

Contratação: março de 2007

Valor: US$ 616 milhões (R$ 1,65 bilhão)

Propina: US$ 20 milhões (R$ 53,7 milhões)

Os denunciados

Nestor Cerveró, ex-diretor de Internacional indicado pelo PMDB: corrupção passiva e lavagem de dinheiro

Fernando "Baiano" Soares, lobista: corrupção passiva e lavagem de dinheiro

Júlio Camargo, executivo e operador: corrupção ativa, lavagem de dinheiro e crimes contra o sistema financeiro

 

 

 

Movimentação mensal de Vaccari é de R$ 33 mil

Correio Braziliense - 16/12/2014

A quebra do sigilo bancário do tesoureiro do PT, João Vaccari, aponta uma movimentação em duas contas bancárias pessoais de R$ 4,18 milhões entre janeiro de 2005 e maio deste ano. As entradas e as saídas representam uma média de R$ 440 mil por ano ou R$ 33 mil por mês. Nos cinco primeiros meses deste ano, por exemplo, Vaccari movimentou R$ 252 mil. Os documentos, já em posse da CPI mista da Petrobras, indicam que, em 2013, as contas do tesoureiro receberam R$ 615 mil e saiu exatamente o mesmo valor.

Os dados revelam ainda que, entre 2005 e 2012, Vaccari repassou R$ 984 mil para a mulher, Giselda Roussie de Lima. Ela é irmã de Marice Correa de Lima. O nome da cunhada de Vaccari aparece numa planilha apreendida pela Polícia Federal no âmbito da Operação Lava-Jato. De acordo com o documento, ela teria recebido R$ 244 mil do doleiro Alberto Youssef, considerado um dos principais operadores do esquema de corrupção na Petrobras. Conforme a investigação, ela também teria recebido R$ 110 mil da construtora OAS.

Nos dados referentes à quebra de sigilo, Marice aparece repassando apenas R$ 15 mil para as contas de Vaccari. A transferência ocorreu em setembro de 2011.

Esquema

O ex-diretor de Refino e Abastecimento Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, em depoimento prestado à Justiça Federal no Paraná, afirmaram que Vaccari seria o arrecadador do PT no esquema de corrupção montado na petroleira. Conforme a denúncia, ele atuava em parceria com o ex-diretor da estatal Renato Duque.

Por participar do conselho de Itaipu Binacional, o tesoureiro do partido recebeu aproximadamente R$ 20 mil. O valor do salário de um integrante da Executiva Nacional do PT gira em torno de R$ 21 mil. No sigilo telefônico, aparecem ligações para advogados e diversos empresários, além de pessoas ligadas à Bancoop, cooperativa habitacional que foi dirigida por Vaccari. O Correio encaminhou alguns questionamentos ao tesoureiro do PT, no entanto, ele não respondeu até o fechamento desta edição. Já o PT informou que não comenta assuntos de ordem pessoal.