Demitido em 2013, o ex-gerente de Comunicação da Diretoria de Abastecimento da Petrobras Geovanne de Morais intermediou o pagamento de R$ 1,795 milhão para a empresa Muranno Brasil Marketing usando o esquema criminoso operado pelo doleiro Alberto Youssef. Morais foi acusado pela ex-gerente-executiva da estatal Venina Velosa Fonseca — que foi demitida depois de ter seu nome incluído no relatório da Comissão Interna de Apuração que investigou irregularidades na Refinaria Abreu e Lima — de ter pago fornecedores por serviços não realizados. De acordo com o jornal "Valor Econômico" ela alertou, em e-mails, a presidente da estatal, Graça Foster, sobre desvios na empresa.

Luciana Mantelmacher e Ricardo Marcelo Vilani, sócios da Muranno, dizem que mantiveram negócios com a estatal, sem a assinatura de contratos, em eventos de marketing da Fórmula Indy. Esses eventos teriam acontecido entre 2004 e 2008.

Vilani afirma que sua empresa teria ficado com um saldo a receber pelos serviços prestados naquele período e que só teria sido pago em 2010, depois de conversar com o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. O doleiro Alberto Youssef teria, por sua vez, ficado encarregado de fazer os pagamentos e entrar em contato com Vilani. Os depósitos para a Muranno — de R$ 815 mil e R$ 980 mil, realizados no dia 22 de dezembro de 2010 — foram feitos pela empresa Sanko Sider.

Os sócios da Sanko Sider já admitiram na Justiça que a empresa foi usada para fazer repasse de dinheiro de propina a pedido do Consórcio Nacional Camargo Corrêa. O nome da Muranno também apareceu nas planilhas da Sanko Sider, que recebia os pagamentos do consórcio e relacionava o que era "repasse" de propina. Aparentemente, a conta da Muranno não era controlada por Alberto Youssef, embora ela tenha recebido depósitos do suposto esquema criminoso.

Os sócios da Muranno entraram com habeas corpus na Justiça mês passado. A Justiça não vê indícios para pedir a prisão dos representantes da empresa.

 

 

Cartel tinha a maioria das obras do Comperj

O Globo - 14/12/2014

Comissão da Petrobras aponta que empresas investigadas respondiam por 58% dos contratos

CURITIBA- Sete das 16 empresas que estão sendo investigadas pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato abocanharam 58% dos valores contratados pela Petrobras para a construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj).

A Toyo Setal tinha 13% dos valores; a Construtora Norberto Odebrecht, 12%; a UTC, 10%; a Queiroz Galvão, 10%; a Andrade Gutierrez, 8%; a Iesa, 4%, e Engevix, 1%. Os números constam no documento final que foi elaborado pela Comissão Interna de Apuração da Petrobras, depois que o grupo avaliou 30 contratos firmados pela estatal para a realização das obras do complexo de refinarias. Eles somam R$ 21,8 bilhões.
De acordo com o relatório, o Comperj vai custar pelo menos R$ 28 bilhões, somando apenas os contratos acima de R$ 1 milhão. O gigantesco projeto, que ocupa uma área de 45 km² em Itaboraí, no Norte fluminense, também atrasou. A terraplanagem começou em 2008, e a previsão era de que tudo ficaria pronto em 2013. Mas a unidade considerada essencial, a de Geração de Hidrogênio (UGH), só ficará pronta em meados de 2016, atrasando o restante.

Ela, porém, não foi a única unidade a perder o prazo. Em outras três, o prazo foi estendido por aditivos e já supera todo o tempo da obra especificado.

SEM PROJETO BÁSICO

Em nove dos 30 contratos analisados pela comissão, foram identificadas sucessivas revisões de estimativa de custos e preços após a abertura das propostas, com justificativas inconsistentes.

De acordo com a comissão, as contratações feitas nem sempre seguiam o cronograma da obra. Muitas licitações foram realizadas antes mesmo dos projetos básicos. Além disso, com a justificativa de ampliar o leque de fornecedores, foram incluídas empresas sem capacidade para entregar o serviço. Um dos exemplos é a construtora Delta, que liderou o Consórcio Itaboraí, teve nota 2,1 no certame — muito abaixo da mínima exigida pela Petrobras, que é de 6,5 — e que teve que ter o contrato rescindido por baixo desempenho.