As mudanças climáticas são muitas vezes percebidas como um problema para a natureza do planeta. Nada mais ilusório. É verdade que a natureza do nosso tempo, a biodiversidade e os ecossistemas de hoje serão profundamente modificados e degradados pelo aquecimento global.

Mas, no tempo próprio da Natureza, contado aos milhões de anos, o planeta já foi mais quente, mais frio e já passou por cataclismos e extinções muito além das forças da Humanidade. A Natureza pode ser frágil no tempo curto, mas é extremamente resiliente no tempo longo.

As mudanças climáticas são um enorme desafio social, econômico e civilizatório. Dessa última dimensão trataremos em um próximo artigo.

A dimensão social é evidente. Os impactos se abatem sobre todos, mas não de forma isonômica. São as populações pobres, contadas às centenas de milhões, que vivem nas regiões mais vulneráveis (geralmente mais baratas) e têm menos recursos para se defender. Como afirmou o Banco Mundial em documento recente, as mudanças climáticas ameaçam os ganhos das últimas duas décadas na luta contra a pobreza.

A dimensão econômica é menos óbvia. Geralmente é pensada pelos impactos físicos nas condições de funcionamento dos setores produtivos e pelos custos decorrentes das perdas de infra-estrutura e patrimônio. Esses são problemas de trilhões de dólares. A questão econômica, contudo, é muito mais complexa.

O custo de aquecer o planeta emitindo gases de efeito estufa está presente em todos os processos de produção e consumo. A única maneira de emitir para o mercado o devido sinal dos preços para tentar evitar os piores cenários das mudanças climáticas é precificar esse custo na estrutura de preços relativos da economia de mercado global.

Ocorre que a intensidade de carbono por unidade de produto varia muito entre tecnologias, países, empresas, materiais, opções de logística etc. Como o custo adicional não é pequeno, irá provocar grandes alterações no valor e no ritmo de depreciação dos ativos, na taxa de retorno dos projetos de longo prazo e nas competitividades relativas entre setores, empresas e países.

Um excelente exemplo da importância de visão estratégica sobre a transição para economias de baixo carbono é o ocorrido no país com a exploração do pré-sal. Os preços atuais refletem os preços do passado. Mas sabemos que no futuro serão alterados em profundidade e que a mais previsível dessas mudanças é a redução do valor dos fósseis (mais de 70% das reservas existentes jamais poderão ser utilizadas sob pena de cenários inaceitáveis de mudanças climáticas ), ao ponto de muitos já falarem em “bolha de carbono”.

Em vez de focarmos na aceleração dos investimentos estimulando o mercado a agir rápido, perdemos tempo precioso com a mudança do modelo e outras questões. Com isso, perdemos também dezenas de bilhões de dólares e competitividade relativa com outras fontes de energia.

Sérgio Besserman Vianna é economista