A reação das construtoras, depois que o Ministério Público Federal (MPF) apresentou as denúncias à Justiça sobre o esquema de corrupção na Petrobras, foi uma combinação de crítica à condução das investigações e silêncio absoluto sobre as acusações. O GLOBO procurou ontem as seis empreiteiras que tiveram executivos e funcionários denunciados. As manifestações foram breves e protocolares.

A Camargo Corrêa, que teve três dirigentes denunciados nessa fase da Operação Lava-Jato, entre eles, o presidente Dalton dos Santos Avancini, informou, em nota, que, agora, executivos terão a chance de tomar conhecimento dos processos para se defenderem.

"A Construtora Camargo Corrêa esclarece que, pela primeira vez, seus executivos terão a oportunidade de conhecer todos os elementos do referido processo e apresentar sua defesa com a expectativa de um julgamento justo e equilibrado", diz a nota.

Advogado fala em excessos

O advogado da construtora Mendes Junior, Marcelo Leonardo, disse que o Ministério Público cometeu "excessos". A empresa tem cinco pessoas acusadas, entre elas, o vice-presidente Sérgio Mendes.

- Pelo que vi pela entrevista dos procuradores da República pela televisão, deu para perceber que houve um inequívoco excesso por parte do Ministério Público. Por ora é o que temos a dizer, que houve excesso tanto quanto às pessoas como quanto às empresas envolvidas - disse o advogado.

Ele afirmou ainda que não poderia comentar a acusação por desconhecê-la.

O mesmo argumento usou a OAS, que teve o maior número de funcionários e dirigentes denunciados (seis). "A OAS ainda não foi formalmente notificada do oferecimento da denúncia pelo MPF e não pode se manifestar", diz nota.

A Engevix, com quatro denunciados, informou que a defesa de seus funcionários será feita na Justiça e que, por enquanto, não prestará esclarecimentos nem fará comentários sobre as acusações.

A construtora Galvão Engenharia, também com quatro pessoas acusadas no esquema na Petrobras, informou que não comentaria as denúncias.

A UTC, com três executivos denunciados, não retornou ao telefonema da reportagem.

Procurado pelo GLOBO, o advogado do doleiro Alberto Youssef, Antônio Figueredo Basto, disse que seu cliente só vai se manifestar após o pronunciamento da Justiça sobre o caso:

-Não li a denúncia. Só vamos falar após o juiz decidir se receberá ou não a denúncia. Não conheço o teor. Precisamos analisar. Sequer cheguei a ler a denúncia - disse Basto.

Já assessoria de Márcio Bonilho se manifestou por meio de nota e negou que ele tenha cometido qualquer ato ilícito: "Nada comentaremos porque ainda não tivemos acesso ao teor da denúncia feita hoje pelo Ministério Público Federal. No entanto, adiantamos e garantimos que, conforme afirmado e reiterado desde o início das investigações, com as quais colaboramos, não foram praticados atos ilícitos, o que será comprovado pela nossa defesa na Justiça."

A defesa de João Procópio de Almeida Prado afirmou que "ainda não teve conhecimento formal de nenhuma acusação".

Waldomiro de Oliveira e Jaime de Oliveira Filho não comentaram a decisão até o fechamento desta edição. Procurados, Erivaldo Quadrado, Adarico Negromonte, Paulo Roberto Costa e Carlos Alberto Pereira não foram localizados.

 

 

Cartel para fraudar licitações será alvo de outra denúncia

O Globo - 12/12/2014

Empresas se organizavam como um clube; licitações eram informadas por funcionários da Petrobras

SÃO PAULO

Na denúncia apresentada ao juiz da 13ª Vara Federal do Paraná, os procuradores destacam que as acusações sobre a formação de cartel por parte das empreiteiras para fraudar as licitações da Petrobras serão apresentadas em outra oportunidade.

"Registra-se que a imputação dos crimes mencionados de cartel, contra as licitações e tributários, será realizada em denúncia autônoma", escreveram os procuradores da República no documento.

As investigações da Polícia Federal constaram que as empreiteiras se organizavam como um "clube". O apelido foi dado pelos próprios executivos. Havia um coordenador, Ricardo Pessoa, da UTC. As empresas gigantes do setor (Camargo Corrêa, UTC, OAS, Odebrecht e Andrade Gutierrez) eram classificadas internamente como "VIP".

Segundo o executivo Julio Camargo, da Toyo Setal, um dos delatores do esquema, esse grupo, que se reunia de forma periódica, tinha poder sobre os demais integrantes do cartel. Nos encontros, eram levantadas as licitações que iriam acontecer, informadas antecipadamente por funcionários da estatal. As empresas, então, manifestavam interesse em obter os contratos. As demais construtoras entravam na concorrência para simular que houve disputa, mas o portador da melhor proposta já havia sido definido antecipadamente. O sobrepreço nos contratos chegava a 20%.

As 16 empresas do cartel, de acordo com o MPF, são: Odebrecht, Galvão Engenharia, UTC, Camargo Corrêa, Techint, Andrade Gutierrez, Mendes Junior Trading, Promon, MPE Equipamentos, Shanska, Queiroz Galvão, Iesa, Engevix, Setal, OAS e GDK. O cartel atuava na diretoria de Abastecimento, sob comando de Paulo Roberto Costa, que está entre os 36 denunciados ontem, e de Serviços, que tinha como titular Renato Duque.

"Embora sejam mencionados ao longo da denúncia, para efeitos de contextualização, não serão objeto desta denúncia, mas de peça acusatória autônoma, os crimes de corrupção e correlatos relativos a Renato de Souza Duque", escrevem os procuradores.