Mesmo tendo seguido a carreira do pai, Deltan Dallagnol, que encabeça a força-tarefa da Operação Lava-Jato, deixa claro no Twitter que não foi apenas a influência paterna que o levou ao Ministério Público Federal. Na rede social, ele conta ser "procurador da República por vocação". Aos 34 anos, diz ainda ser "seguidor de Jesus - frequenta a Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba -, marido e pai apaixonado". No Facebook, onde é chamado pelos amigos de Delta, chegou a explicar aos seguidores o que era a PEC 37 depois de postar ser contrário à sua aprovação. É lá também que sua mãe, Vilse Dallagnol, declara "Filhão, você tem sido especial sempre, em tudo! Tua postura ética muito nos orgulha!".

O mais novo dos nove procuradores que ontem ofereceram denúncia contra 36 pessoas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras, Diogo Castor de Mattos, de 28 anos, também seguiu a carreira do pai, Delivar Tadeu de Mattos, já falecido.

Tendo entre 28 e 50 anos, os nove - Dallagnol, Mattos, Antonio Carlos Welter, de 46 anos, Athayde Ribeiro Costa, de 34, Januário Paludo, de 49, Orlando Martello Júnior, de 42, Paulo Roberto Galvão, de 36, Roberson Henrique Pozzobon, de 30, e Carlos Fernando dos Santos Lima, de 50 - são representantes de uma nova face do MP. Trabalham em conjunto, são especialistas em diferentes áreas - de improbidade administrativa a atividade policial, passando por colaboração jurídica internacional - e a maioria já concluiu o mestrado. Dallagnol estudou em Havard, e Lima, em Cornell, nos EUA. Welter passou pela Universidade de Coimbra, em Portugal, e Galvão, pela London School of Economics, na Inglaterra. Eles ainda costumam dar cursos na Escola Superior do Ministério Público e escrever livros e artigos.

Juntos também fizeram uso da delação premiada para obter provas que viriam a embasar a denúncia. Sabiam que precisavam evitar o que aconteceu na Operação Castelo de Areia, de 2009, que teve provas anuladas. Assim, ainda durante as investigações, Mattos e Lima escreveram um artigo para a "Folha de S. Paulo" defendendo a delação. Além disso, essa não foi a primeira vez que parte do grupo usou o mecanismo. Martello, Dallagnol e Lima participaram da força-tarefa do Banestado, que, em 2002, investigou remessas ilegais de dinheiro.

- Essa nova geração do MP, que é formada por homens e mulheres do seu tempo, tem uma pauta de valores mais clara. Eles já não estão tão ligados à ideologia. Por isso, digo que essa juventude não é revolucionária, mas evolucionista. Esses novos procuradores têm consciência do poder do Ministério Público. Sabem que, com um pouco de boa vontade e destemor, podem operar contra a impunidade - disse o procurador Edilson Mougenot Bonfim, que costuma dar palestras no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) sobre a nova geração do MP:

- Muitos cresceram acompanhando as expectativas dos pais sobre o Brasil e agora podem corresponder a isso, trabalhando pelo fim da impunidade, pela igualdade de direitos e de aspirações. Se veem assim na incumbência histórica de levar à frente essas ações. Sabem que a vontade de termos uma sociedade melhor sempre existiu, mas veem que agora é o momento, que não dá mais para postergar.

"imprensa é aliada nessa guerra"

Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aproveitou ontem a coletiva para enaltecer o trabalho dos procuradores e reafirmar a responsabilidade do MP:

- Não tenham dúvidas de que a responsabilidade institucional do Ministério Público é sentida por todos os meus colegas, do procurador-geral ao procurador que iniciou na carreira.

Também durante a coletiva, Dallagnol mostrou não concordar com a opinião da presidente Dilma Rousseff, que havia declarado, em setembro, depois de Janot ter negado acesso ao depoimento do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, que "não é função da imprensa fazer investigação e sim divulgar informação". Para o procurador, a "imprensa é uma aliada" para divulgar as investigações feitas pelo Poder Judiciário:

- Nós estamos em uma guerra contra a impunidade e a corrupção. E a imprensa é uma aliada nessa guerra. Hoje, nós conversamos com aliados. A imprensa nos auxilia não só na investigação dos fatos e levando o conhecimento dos fatos apurados até as pessoas, mas a imprensa também veicula a voz da sociedade, que clama por Saúde, por Educação, e por Saneamento Básico, que são direitos fundamentais violados por cada ato corrupto.