Uma empresa americana de manutenção de motores de aeronaves admitiu à Justiça dos Estados Unidos que pagou propina à Força Aérea Brasileira (FAB) e ao gabinete do ex-governador de Roraima José de Anchieta Júnior (PSDB). Um comunicado do Departamento de Justiça dos EUA publicado na quarta-feira informou que a Dallas Airmotive pagará US$ 14 milhões de sanção penal por descumprir a lei que pune empresas do país que praticam corrupção no exterior, segundo informou o site G1.

A assessoria da Força Aérea Brasileira informou que apenas tomou conhecimento do comunicado do Departamento de Justiça dos Estados Unidos no início da noite. A Aeronáutica somente se manifestará após ser comunicada da denúncia. A expectativa no órgão é que seja divulgada hoje uma nota à imprensa sobre o assunto. Em nota, a Dallas Airmotive confirmou o pagamento de suborno e atribuiu as ilegalidades a funcionários que já estão fora da empresa.

De acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a Dallas detalhou que, entre 2008 e 2012, subornou funcionários da FAB e do gabinete do governo estadual de Roraima, na época sob administração de Anchieta Júnior.

Entre os mecanismos usados pela empresa para o pagamento da propina estavam acordos com empresas de fachada, pagamentos a terceiros e oferecimento de presentes aos funcionários, como pagamento de viagens de férias a funcionários públicos estrangeiros, diz o comunicado.

Segundo o "Wall Street Journal", que publicou a notícia ontem, no documento de informação criminal em que a empresa assume o ocorrido, os promotores acusam a Dallas Airmotive de conspiração e de violar as disposições antissuborno da Foreing Corrupt Practices Act — lei americana de 1977 que proíbe o pagamentos a funcionários de governos estrangeiros para obter ou manter negócios.

De acordo com o documento americano, um escritório da Dallas Airmotive em Belo Horizonte realizava os contratos de serviços da empresa com clientes comerciais e governos da América Latina.

"Não vou declarar nada, porque vou me inteirar da notícia primeiro. Eu não vou me declarar enquanto eu não apurar isso direito. Eu não tenho conhecimento, não me lembro. Vou apurar isso aí. Vou me inteirar disso e só me pronuncio depois", disse, por telefone, o ex-governador José de Anchieta Júnior ao ser procurado pelo G1.

Em nota, um porta-voz da empresa Dallas Airmotive disse que a ética e a governança são valores da empresa e atribuiu as irregularidades a "um número limitado" de empregados terceirizados e funcionários que atuavam na América do Sul no período investigado — e que não formam mais parte dos quadros da empresa.

Também informa que foi trocada a chefia de operações da empresa na América do Sul e que o Departamento de Justiça americano reconheceu a cooperação da Dallas Airmotive com as investigações e as melhorias em programas de governança e controle, e no compromisso da empresa para futuros aprimoramentos.

"O objetivo da ação (que incluia a propina) era conquistar e manter serviços de manutenção, reparo e supervisão para a Dallas Airmotive Internacinal e Dallas Airmotive do Brasil de clientes de governos latino-americanos, incluindo a Força Aérea Brasileira, a Força Aérea do Peru, o gabinete do governador de Roraima e do governador da província de San Juan (Argentina), pagando propinas a funcionários desses clientes", diz a nota do Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Além de ter corrompido brasileiros, a Dallas Airmotive também admitiu ter subornado a Força Aérea peruana e o gabinete do governador de San Juan, na Argentina.