O que mais chama atenção na Ata do Copom é a ausência de prazo para a inflação voltar ao centro da meta. A última vez que o IPCA esteve em 4,5% foi em agosto de 2010, ainda na gestão Henrique Meirelles no Banco Central. Só se sabe que os preços estarão em convergência a partir de 2016, mas ainda acima do centro no terceiro trimestre. O ano que vem está perdido, com a alta do dólar e dos preços administrados.

As ambições da atual diretoria do Banco Central são baixas, desde a posse em janeiro de 2011. Os prazos são sempre para “um período suficientemente prolongado”, que parece que nunca chegam. Dizer que a inflação estará em convergência para a meta a partir de 2016 é muito pouco. Qualquer variação para baixo da taxa em 12 meses significa convergir. Sair de 6,5% para 6%, por exemplo, é convergência.

O BC indica que nem depois das Olimpíadas do Rio, em agosto de 2016, os brasileiros terão refresco com os preços nos supermercados, lojas e nos mais variados tipos de serviços. É verdade que a nova equipe que assumirá o Ministério da Fazenda não deve atrapalhar tanto quanto o time atual, que aumentou gastos, deu subsídios e fez transferências bilionárias ao BNDES, limitando a eficácia da política monetária. Joaquim Levy quer recuperar o superávit primário e isso vai ajudar a diminuir a demanda agregada, e portanto, a inflação. A maior fonte de esperança, hoje, vem da atuação da Fazenda.

A preocupação do mercado financeiro ontem foi tentar decifrar se haverá mais uma ou duas altas da Selic, de 0,25 ponto ou de 0,5 ponto. Tarefa que está cada vez mais difícil, levando-se em conta o excesso de pronunciamentos do presidente do Banco e de seus diretores. Como mostrou reportagem ontem do “Valor”, em cerca de 15 dias o BC fez três indicações diferentes. Depois da Ata, o economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, apostava em um único aumento de 0,25 p.p. Já o Departamento Econômico do Bradesco estima mais uma alta de 0,5 p.p. e outra de 0,25 p.p.

Duas pressões inflacionárias já estão contratadas para 2015. Uma, da alta do dólar, que ontem bateu o maior nível em nove anos. Outra, do aumento dos preços administrados, como a energia elétrica. Com a inflação rondando o teto da meta, restará ao país torcer para que nada fora do planejado ocorra. Nos últimos anos, a torcida não tem sido suficiente para evitar estouros.

Dólar expõe fragilidades

A alta do dólar expõe várias fragilidades da economia brasileira. O país tem forte déficit em conta-corrente, alto déficit nominal, PIB estagnado e inflação acima do teto da meta. A combinação desses quatro fatores torna muito confortável para o mercado apostar contra a moeda brasileira. Se o Banco Central subir juros para conter a inflação e atrair capital especulativo, corre o risco de esfriar ainda mais a economia. Se não subir juros, terá que queimar reservas ou intensificar o programa de swap cambial, o que aumenta o risco fiscal da operação. É a famosa sinuca de bico: seja qual for a tacada do BC, haverá uma bola pelo caminho.

Petróleo: dois brasis a mais nos EUA

Em apenas oito anos, os EUA aumentaram a produção de petróleo em 4,39 milhões de barris por dia. O volume é mais que o dobro da média brasileira do ano passado, cerca de 2,11 milhões de barris diários. Como mostra o gráfico, em 2013, os americanos produziram 11,72 milhões de barris, quase seis vezes a produção brasileira. Por aqui, desde a descoberta do pré-sal, em 2006, só se perdeu tempo. Foram anos sem rodadas de licitação e muita negociação no Congresso para a mudança do marco regulatório, de concessão para partilha. Por lá, houve uma revolução tecnológica nesse período.