A senhora sabia?

A Venina nunca fez nenhuma denúncia usando as palavras conluio, cartel, corrupção, fraude, lavagem de dinheiro. A Venina nunca fez nenhuma denúncia na diretoria sobre essas questões, nunca falou desta forma para a diretoria e não falou para a Graça. (Eram) e-mails cifrados, truncados. Isso foi em outubro de 2011, quando eu já sabia que seria presidente da Petrobras. Uns dias depois que eu estava já presidente, ela pediu para falar comigo e conversamos de novo. Sobre os desafios que tínhamos, foi uma conversa da necessidade que a gente tinha de ajustar a forma. Do e-mail de outubro de 2011, ela falava que tinha muitas sugestões para o Abastecimento. A gente conversou muito sobre isso.

Mas ela não levou as irregularidades para você nesse encontro?

Não. Conversamos sobre futuro da companhia. Nunca essa palavra corrupção, lavagem de dinheiro, eu escutei tudo isso das delações premiadas. A diretoria da Petrobras não foi comunicada disso pela Venina. Se ela sabia, ela não disse. E não trouxe provas.

 

 

Como a senhora responde a críticas de que foi omissa?

Eu não fui omissa, definitivamente eu não fui omissa. Tenho feito mudanças sucessivas na companhia junto com diretores na busca de melhores controles. Definitivamente não fui omissa. Os diretores (Almir) Barbassa, eu, Formigli, não somos omissos. Aliás, pagamos duro pela dureza que nós temos empreendido na companhia.

No email de 2011 ela denunciou que havia superfaturamento?

A gente focou naquilo que eu estaria fazendo. Ela não fez denúncias. Ela não colou essa palavra. Ela entendia que muitas melhorias deviam ser feitas, e muitas dessas melhorias eu concordo, mas a Venina já estava afastada das atividades, porque 2007 ela apresentou o plano de aceleração da refinaria, que foi uma grande marca nas atividades da Rnest (RefinariaAbreu e Lima).

A Venina disse na entrevista que toda a diretoria da Petrobras sabia, inclusive a senhora.

Ela nunca disse para a diretoria que vocês estão cometendo superfaturamento, que estão sendo corrompidos ou corrompendo. Ela disse que comunicou à diretoria, que a diretoria sabia das irregularidades. Não era explícita.

Objetivamente, você sabia ou não sabia antes que tinha cartel, superfaturamento?

Se cartel era discutido, era fora daqui. Irregularidades, era fora daqui, conluio, era fora daqui. Não consigo imaginar como a Venina poderia saber. Ela não medisse que havia e não me disse como ela sabia. O que ela tem dito é que tem informações que vem organizando há anos e que entendo que será positivo para a Petrobras. Ao organizar documentos e mostrar que não tem nenhuma responsabilidade nas não conformidades, ela vai estar fazendo um bem para a Petrobras. Esse é o entendimento da Comissão Interna de Apuração. Quando ela mostrar tudo isso, estará fazendo um bem enorme à Petrobras.

A senhora tomou conhecimento em 2009 sobre as irregularidades que estavam acontecendo na Petrobras?

Nós estivemos juntas algumas poucas vezes nesse período de e-mails que ela passou para mim. Naquele primeiro email de abril de 2009, ela me procurou. Eu era diretora de Gás e Energia e foi ali que eu vi a Venina extremamente emocionada, muito triste e havia uma ruptura entre ela e o Paulo Roberto (então diretor de Abastecimento). Eles tinham brigado. conversamos.

O que a senhora fez em relação a esse caso?

Eu disse que era um assunto do Abastecimento, com Paulo Roberto. E ela disse que queria deixar uns papéis comigo. Ela deixou e era literalmente da área de comunicação. Eu olhei, folheei e entreguei na mão do Paulo Roberto. Eu disse que ela estava muito triste e soube até que ela estaria indo para Cingapura. O Paulo disse que nunca tinha ouvido falar nisso, pegou o pacote e ali dentro o que tinha era informações sobre a área de comunicação.

Você conhecia a Venina há muito tempo?

Ela trabalhava com o Paulo Roberto desde 1999, trabalhou com ele no Gás e Energia, onde eu também trabalhei. Eu sentava no meu canto. Eu via ela lá na ponta, no elevador oi-oi. E depois ela me procurou nessa questão do Geovani.

Então a senhora não era próxima da Venina como ela disse?

Não, nem de nada. A gente nunca teve problemas, nunca trabalhou juntas em nenhum projetos. Não éramos próximas, tínhamos talvez respeito. Os emails que ela escreveu para mim são muito respeitosos, e eu sempre a respeitei. Ali de longe vi e olhava aquela pessoa que trabalhava muito e era muito determinada. Eu era gerente técnica, mas via o prestígio que ela tinha com o Paulo Roberto.

Houve alguma resistência da Petrobras de investigar o caso na área de comunicação?

Eu não participei de nada. Soube desse assunto numa conversa mais superficial que soube na diretora. Muitas comissões internas acontecem na Petrobras e asoutras áreas não ficam sabendo.

Foi o Paulo Roberto que enviou Venina para Cingapura pela primeira vez?

Lógico, porque o escritório de Cingapura é ligado ao Abastecimento. O tempo todo que ficou aqui a Venina continuou ligada a ele.

Quando ela voltou para lá?

Nosso gerente-geral saiu e o Cosenza (diretor de Abastecimento) me disse que a Venina pediu para ir para Cingapura. O salário total dela foi de R$ 167.342,00, o que é muito mais do que eu ganho. Ela pediu para voltar para Cingapura, fez um bom trabalho e ganhava essa remuneração. Em setembro ela pediu prorrogação por mais um ano no escritório. Como ela estava muito bem, eu autorizei.

Então quando ela pediu para voltar para o Brasil?

Poucos dias antes dela perder o cargo (início de novembro) de gerente-executiva, ela fez um contato com o diretor Cosenza dizendo que precisava voltar este ano porque estava com problemas com uma das meninas. Eu falei para o Cosenza, traz logo, nessa ocasião ainda não tinha resultado das comissões internas.

E a primeira vez que ela foi para Cingapura, ela teria sido exilada como disse ?

Não existe isso exilado. Eu não sei se sofreu assédio. Não sei quais foram as circunstâncias da primeira transferência dela para Cingapura. Só sei que ela foi estudar. mas ninguém ó obrigado a nada, o dia que alguém fizer alguma coisa nesta empresa obrigado.Não conheço esse assédio, eu a vi entristecida, preocupada com a questão do rapaz, do Giovani. Ela estava muito abalada e eu falei com o Paulo. Ela disse que ia para mim que ia para Cingapura que estava preocupada com a entrevista com orientador, essas coisas. Ela voltou uma profissional certamente com uma formação melhor, voltou para ser diretora-presidente da empresa (em Cingapura) porque pediu. Ela foi pela segunda vez para Cingapura de 1° de junho de 2012 a 19 de novembro de 2014.

Mas então depois do e-mail em 2009, você recebeu outros contatos da Venina?

No meio dos e-mails teve dois emails dela. Um de feliz aniversário, em agosto de 2011, e outro sobre parabéns pela minha posse, em 2012.

A informação de que ela entregou um dossiê ao MPF lhe traz incômodo?

Nenhum incômodo, só acho que tudo que a Venina entregou ao Ministério Público Federal é bem vindo, porque o que a gente mais quer é virar essa página. E, se a Venina vai ajudar a Petrobras a virar essa página, ótimo.

O que vai acontecer com a Venina na Petrobras?

Ela vai continuar trabalhando nessa área que a espera. Não sei quando volta, ela tem a área dela, a função dela, a baia dela, assim espero. Ela já tem o que fazer hoje.

A presidente disse inclusive que ia mudar o conselho.

É? Acho que ela faz bem. Faz bem mudar.

A Petrobras criou dificuldades para ela voltar?

Negativo, a Petrobras fez tudo que a Venina pediu, tudo que foi pedido foi checado, cuidamos da vinda dela do jeito que ela quis