A oposição aumentou ontem a cobrança para que a presidente Dilma Rousseff afaste a presidente da Petrobras, Graça Foster , depois que, em entrevista ao "Fantástico ", da TV Globo, Venina Velosa da Fonseca, ex-gerente da empresa, afirmou que avisou Graça pessoalmente , e não só por e-mail, sobre irregularidades em contratos. Integrantes do PSDB e do DEM também reagiram duramente às declarações da presidente em entrevista a setoristas do Planalto e classificaram como "inusitada" e "bipolar" a sua decisão de consultar o Ministério Público antes de anunciar seu novo Ministério . Tucanos também consideraram "surrealista" a discussão se Dilma e Graça Foster tinham ou não conhecimento do esquema de desvio de dinheiro na Petrobras.

Mesmo no PT, reservadamente, há quem defenda o afastamento de Graça como resposta à crise. A avaliação desses petistas é que a presidente da Petrobras perdeu as condições políticas de permanecer no cargo e não teria mais respaldo nem do corpo técnico da empresa. — Dilma sofre de bipolaridade. Ao mesmo tempo que diz que está tudo bem na Petrobras, afirma que vai consultar a mesma Procuradoria Geral da República que denunciou irregularidades na empresa na hora de montar seu Ministério- reagiu o líder da minoria no Congresso, deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). Caiado disse que após os elogios de Dilma a Graça, a presidente puxou para si a responsabilidade pelo que aconteceu de errado na Petrobras: — Não temos mais nada a cobrar da presidente da Petrobras. Dilma atestou e puxou para si todas as denúncias e fatos de corrupção na Petrobras. Consequentemente, tudo que é feito de errado tem as bênçãos de Dilma. Todos os crimes descobertos têm agora que ser respondidos diretamente pela presidente Dilma.

"DISCUSSÃO SURREALISTA"

Em discurso na tribuna do Senado, Álvaro Dias (PSDB-PR) criticou Dilma por manter Graça Foster na presidência da Petrobras. Para ele, não há como as duas terem sido surpreendidas agora com as irregularidades na empresa, já que, ainda de acordo com ele, essas denúncias foram investigadas pela CPI da Petrobras realizada em 2009. — Essa discussão atual causa espanto: sabia a presidente Dilma ou não sabia do esquema de super faturamento na Petrobras? Sabia a presidente da Petrobras, Graça Foster , ou não sabia? O ex-presidente Lula não sabia? É surrealista essa discussão. A presidente Dilma diz que não há razão para demissão de Graça Foster . Talvez seja constrangimento. Graça foi informada, mas a presidente Dilma também foi. Álvaro Dias também afirmou que o MP não é um órgão auxiliar do Poder Executivo: — Essa é outra política inusitada, não vimos tudo nesse país, a cada dia nos surpreendemos.

O Poder Executivo tem mecanismos próprios para verificação e avaliação de nomes. O Ministério Público não é um órgão auxiliar do Poder Executivo, é uma instituição independente . Pega mal para a presidente esse procedimento. O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), cobrou a substituição não só de Graça, mas de toda a diretoria da Petrobras, para resgatar a credibilidade da empresa: —Acho que a presidente da Petrobras perdeu todas as condições de ficar a frente da empresa. Cabe à presidente substituí-la e vai fazer isso no tempo. Talvez o estilo da presidente seja esse de tentar até o último minuto manter aquilo que a meu ver é impossível de ser mantido. Hoje não há capacidade da atual direção da empresa, eu me refiro a toda ela, de garantir o resgate da credibilidade para que a Petrobras estabeleça um novo portfólio de investimentos .

"INTERESSES ESCUSOS"

Petistas saíram em defesa da presidente da Petrobras e colocaram em dúvida as declarações de Venina. O líder do PT na Câmara, deputado Vicentinho (SP), cobrou provas e disse que pode haver interesses escusos por trás das denúncias: — Tem que ter provas concretas, a Petrobras não é qualquer empresa. Além das denúncias, que têm que ser apuradas, pode haver interesses escusos. Não podemos tomar decisões precipitadas. Eu defendo a presidente Graça Foster, que é uma mulher sincera, competente e que tem amor à Petrobras. O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), candidato à Presidência da Câmara, disse que a ex-gerente da empresa ter á que provar o que disse: — Cada um pode dizer o que quiser, mas a essa altura do campeonato, com delação premiada, ela vai ter que provar o que fala. Ninguém sabe quem tem razão.