Com o comércio e o investimento entre os países membros do Mercosul em queda livre, a Argentina presidiu semana passada a última reunião do Conselho do Mercosul em 2014. O fato mais importante da reunião foi o anúncio do restabelecimento das relações diplomáticas entre os EUA e Cuba. O Brasil, em meio a dificuldades econômicas e politicas, assumirá a presidência do grupo a partir de 1º de janeiro.

O Mercosul continua paralisado e sem qualquer estratégia. Politizado pela ação do Brasil, da Argentina e da Venezuela, o bloco está em situação de quase total isolamento. O processo de adesão da Bolívia está paralisado no Brasil e no Paraguai. E o novo governo uruguaio fala em reconsiderar a relação com o Mercosul para possibilitar aos pequenos países negociarem acordos com países de fora da região.

A presidência brasileira do Mercosul poderia abrir oportunidade para o governo Dilma apresentar uma agenda mais propositiva para os próximos seis meses. Se houvesse disposição política, não faltariam na área comercial questões importantes para serem discutidas. Entre elas, as medidas restritivas crescentes ilegais da Argentina (agora também afetando o livre trânsito na Hidrovia Paraná-Paraguai e prejudicando o escoamento de produtos brasileiros); o funcionamento dos órgãos do Mercosul visando ao aperfeiçoamento dos mecanismos de liberalização do comércio; uma agenda de negociações comerciais que vá além da América do Sul, mas não se limite apenas ao Líbano, à Tunísia e à União Euroasiática de Nações, o que, convenhamos, é muito pouco. Nada disso deverá acontecer pela inação da política externa e comercial do governo brasileiro, apesar de referências nesse sentido feitas por Dilma.

O único entendimento importante em curso é a negociação do grupo com a União Europeia. Representantes do Mercosul e da União Europeia analisaram no início de dezembro a situação atual do processo de negociação do acordo de livre comércio. Segundo se noticiou, não foi possível estabelecer uma data para a troca de propostas porque "a Comissão Europeia ainda não concluiu o processo de consulta com os países membros para harmonizar sua proposta".

Com a dificuldade de avançar a integração comercial — em 2014 o volume do intercâmbio dentro do bloco continuará a cair (queda de 13%) — o Brasil deveria dar prioridade à integração física na América do Sul, de modo a abrir corredores de nossas exportações para o mercado asiático e para aproximar as economias da região.

O futuro ministro do Desenvolvimento, da Indústria e do Comércio Exterior, Armando Monteiro, manifestou interesse em ampliar acordos comerciais e concluir o acordo com a União Europeia. Esperemos que nos próximos seis meses o governo possa mover-se nessa direção e, no âmbito do Mercosul, possa convencer nossos parceiros a promover as mudanças necessárias de modo a que o Brasil não continue prejudicado pela paralisia do grupo.

Rubens Barbosa é presidente do Conselho de Comércio Exterior da Fiesp