Título: Violência toma conta da Grécia
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Fonte: Correio Braziliense, 29/06/2011, Economia, p. 11

As pressões sobre o Parlamento grego aumentaram ontem, depois que a população paralisou a maioria dos serviços públicos por meio de uma greve geral de 48 horas. Multidões tomaram as ruas para protestar contra o corte de mais de 28 bilhões de euros nos gastos públicos até 2015 e a privatização de estatais no valor de 50 bilhões de euros.

Além de enfrentar a violência, o governo grego recebeu um ultimato da Comunidade Europeia para que deputados e senadores não rejeitem, em votação hoje, as medidas de austeridade fiscal, pois isso significará para os credores do país que se optou por um calote na dívida.

O comissário da União Europeia (UE) para assuntos econômicos, Olli Rehn, deixou claro que a ratificação do plano pelos congressistas é a única forma de evitar que a Grécia deixe de honrar suas obrigações.

Ele desmentiu a informação de que o governo da Bélgica estaria trabalhando em alternativas para manter o país solvente. "A única forma de evitar uma moratória imediata é o Parlamento endossar o arrocho fiscal. Para aqueles que especulam sobre outras opções, deixe-me dizer claramente: não há plano B para evitar a moratória grega", disse.

Rehn lembrou ainda que a liberação imediata da parcela de 12 bilhões de euros em auxílio ao país, via Fundo Monetário Internacional (FMI), depende da aprovação do plano. O próprio governo já anunciou que, sem os recursos, ficará sem dinheiro para honrar suas dívidas em poucas semanas.

Além da venda de estatais, o plano emergencial da Grécia prevê a demissão de 150 mil servidores públicos, corte nas aposentadorias, aumento de impostos e elevação da carga semanal de trabalho para 40 horas.

Também serão estipulados novos contratos com salário mínimo de 500 euros. As determinações perversas previstas no pacote fiscal motivaram a onda de tumultos e depredações. Cinco mil policiais enfrentaram os manifestantes, confronto que deixou 24 feridos.

Apesar da ameaça pública da UE e da apreensão de todo o mundo, autoridades do próprio bloco estimam ser improvável que os estados da Zona do Euro permitam a quebradeira generalizada da dívida grega, mesmo que o Parlamento do país diga não à proposta do governo. O governo de Nicolas Sarcozy já deu aos bancos franceses duas opções de restruturação da dívida grega. Na primeira, as instituições poderiam bancar um financiamento de 30 anos, via compra de novos bônus do país em crise. Outro meio seria utilizar os recursos obtidos no resgate dos atuais títulos para arrematar papéis com vencimento de cinco anos, a juros de 5,5% anuais.