Em reunião de três horas com parlamentares da Comissão Mista do Orçamento, o futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy, reforçou que é preciso cortar gastos e fazer escolhas nas despesas públicas para o governo atingir a meta fiscal em 2015 e não descartou o aumento de impostos. Mas destacou que esse recurso não pode ser exagerado, pois há risco de "matar a economia", e deveria ser usado para aumentar a poupança pública, não para custear gastos do governo.

Levy repetiu várias vezes que é preciso ter "previsibilidade" nos gastos e não mudar as regras do jogo. Segundo parlamentares, ele disse que a partir de agora "as regras serão fixadas e cumpridas", reforçando que o governo abandonará a contabilidade criativa.

- Temos que fixar as regras do jogo e segui-las - disse Levy, segundo relatos de deputados, como Pauderney Avelino (DEM-AM) e Felipe Maia (DEM-RN).

O futuro ministro da Fazenda definiu o cenário nacional e mundial como "difícil" no ano que vem, mas avaliou que está afastado, por enquanto, o risco de um rebaixamento da avaliação do Brasil pelas agências de classificação de risco, o que melhora o cenário para a equipe econômica trabalhar. Ao lado do futuro ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, disse que a equipe econômica está adotando um "cenário realista". E lembrou que as medidas anticíclicas internacionais estão acabando.

- Esse cenário torna a meta (de superávit) impossível? Acho que não. A meta já foi pensada considerando essa dinâmica, uma dinâmica mais difícil. Não chegaria a dizer que é desfavorável, mas difícil. Vai exigir um esforço, uma adaptação no gasto? Acho que sim. O cenário internacional já está incorporado na nossa meta. Mesmo num cenário mais difícil, o Brasil tem condições de crescer. Mesmo quando a economia mundial está fraca, a gente tem como crescer.

Levy e Barbosa não explicaram as medidas que serão adotadas pelo governo, mas foram cobrados sobre a criação de novos impostos e a volta de contribuições como a CPMF. Na avaliação dos parlamentares, eles foram diplomáticos, sem descartar essas saídas. Justificaram que as medidas estão sendo analisadas e que ainda não assumiram seus cargos.

- Acho que tem uma consciência muito clara de que, se exagerar nos impostos, acaba matando a economia. Então, tem que ser cuidadoso. Acho que o que a gente tem que fazer hoje é aumentar nossa poupança pública. Ela é extremamente baixa, caiu para 13% do PIB. Como vai fazer para investir 20% do PIB com uma poupança de 13%, vai ficar tomando dinheiro emprestado? De quem? A que juros? A gente não pode querer viver só de dinheiro emprestado. Esse equilíbrio com os impostos tem que levar a isso - disse Levy.

O relator-geral do Orçamento da União de 2015, senador Romero Jucá (PMDB-RR), disse que o recado ficou claro sobre a necessidade de novas medidas para cumprir as metas fiscais em 2015:

- Ele disse que 1,2% do PIB é uma meta suficiente para o superávit, mas que é preciso adotar medidas para cumpri-la. E claro que Levy disse que criar imposto não é bom. Não anunciaram medida e nem poderiam, porque ainda não são ministros.