Sem saber quanto tempo vai levar para que se tenha conhecimento do real impacto da corrupção no balanço da companhia, a Petrobras vai pisar no freio em 2015. A estatal admitiu ontem que os investimentos serão menores em relação aos deste ano por uma série de motivos: os escândalos envolvendo a Operação Lava-Jato; a queda do preço do barril de petróleo, de US$ 110 para cerca de US$ 60; e a valorização do dólar frente ao real, que atingiu o maior patamar desde 2005.

Graça Foster, presidente da estatal, disse ontem que não há a menor segurança para se dizer em quanto tempo será possível determinar os valores das baixas contábeis a serem lançados no balanço como reflexo das propinas pagas. A empresa ainda não conseguiu publicar o balanço não auditado do seu terceiro trimestre deste ano, por não ter tido acesso aos depoimentos de todos os executivos envolvidos no escândalo.

- Não há a menor segurança de que em 45, 90, 180, 365 ou 700 dias virão todas essas informações em sua plenitude. Nós vamos acompanhar todos os depoimentos e todas as delações premiadas. Estou ansiosa para ter acesso à colaboração (depoimento à Justiça Federal) do Barusco (Pedro Barusco, ex-gerente da área de Engenharia), mas não saberei se ela é completa. Estamos trabalhando para que se possa fazer essa avaliação do real valor do ativo - disse Graça.

Enquanto isso, Graça disse que a companhia está "trabalhando num procedimento" para permitir a publicação do balanço não auditado até o fim de janeiro. Ela disse apenas que o procedimento é aceito pelo mercado. O balanço deveria ter sido publicado em 14 de novembro.

- Economia, economia e economia. Gasta menos e faz mais. E isso é extremamente importante, porque estamos nesse trabalho de ter nosso balanço fechado para que a gente possa aproveitar no mercado as oportunidades que vierem no que se refere a captações eventuais que possam ser feitas - disse Graça.

Produção não será afetada

Ao falar sobre as reduções dos investimentos para 2015, José Formigli, diretor de Exploração e Produção da estatal, disse que a meta de produção não será afetada no curto prazo (no próximo ano). Hoje, ela está em cerca de 2 milhões de barris por dia. O diretor destacou que a preocupação é justamente como financiar os projetos a longo prazo.

- Os efeitos dessa diminuição eventual que a gente faça nos investimentos não tendem a ter impacto significativo imediato. Estamos quantificando com bastante cuidado. Com relação ao longo prazo, estamos olhando a financiabilidade e a capacidade do mercado de nos atender. O que hoje é público e notório é que algumas consequências da Lava-Jato trazem algumas incertezas sobre alguns importantes players da indústria - afirmou Formigli.

José Antônio Figueiredo, diretor de Engenharia da Petrobras, destacou que a prioridade atual é dar prosseguimento aos contratos já assinados com fornecedores. Segundo ele, o esforço é que as obras continuem em andamento até março de 2015. Vários estaleiros no país, com encomendas bilionárias de navios e plataformas da Petrobras, fazem parte das empresas que estão sendo investigadas pela PF.

- Temos estaleiros que estão operando com 10 mil trabalhadores. E essa operação (a Lava-Jato) precisa de uma solução, porque essas empresas precisam de fluxo de caixa, para pagar os fornecedores e pagar as obras. A grande atenção hoje é fazer essas obras andarem do jeito que está planejado. Não é uma tarefa simples.

Preocupação com empresas

Segundo Figueiredo, "várias empresas estão com dificuldade de acesso ao mercado de capitais":

- Essas empresas fizeram grandes investimentos em instalações, estaleiros, e estavam aguardando retorno de investimentos de fundos. E agora o esforço é fazer acontecer dezembro, janeiro, fevereiro e março. Aí, passada essa fase, é ver como essas empresas serão tratadas, pois, como está hoje, não sabemos como tratar para poderem voltar ao mercado.