A política, ou estratégia, industrial seguida pela presidente Dilma em seu primeiro governo foi um monumento ao intervencionismo estatal. E por isso não deu certo, como de resto toda sua política econômica, chamada de "nova matriz"," também contaminada pelo mesmo viés ideológico.

Não é pequena a queda da participação da indústria no PIB: de cerca de 25% no período da ditadura militar para os atuais 12%. Um corte pela metade. A tendência de encolhimento relativo da indústria não é uma peculiaridade brasileira. Segue um curso mundial, em que as manufaturas têm menos peso na produção total, enquanto crescem de importância as atividades de serviços. Este é o perfil das economias mais desenvolvidas, e a brasileira não escapa à tendência.

O problema industrial do Brasil é que o setor encolhe também por erros de política governamental, agravados a partir da eclosão da crise financeira mundial, em fins de 2008. Ali, com Dilma Rousseff já como poderosa ministra-chefe da Casa Civil, e Guido Mantega no Ministério da Fazenda, velhas teses dirigistas acolhidas há tempos no PT começaram a ser postas em prática.

O que, num primeiro momento, fazia sentido, por ser emergencial — a transferência de recursos do Tesouro para bancos oficiais, BNDES à frente —, tornou-se norma e foi inclusive aprofundado com a vitória da ministra nas eleições presidenciais de 2010. O BNDES desengavetou velho programa do governo militar de Ernesto Geisel, e passou a escolher "campeões nacionais", empresas que teriam de ser grandes em escala internacional. Não deu certo àquela época e não funcionaria agora.

Como na ditadura, foram erguidas barreiras protecionistas como parte de programas de incentivos creditícios à produção interna. A reserva de mercado garantiria rentabilidade, e, assim, atrairia investimentos. Ao lado disso, uma política fiscal expansionista aqueceria o consumo interno, outro fator de atração do empresariado.

O protecionismo — à parte vulnerabilizar o país na OMC, caso das montadoras de veículos —, impede uma conexão maior da indústria brasileira com grandes cadeias globais de produção. Dessa forma, barra a absorção de tecnologias de ponta, prejudica, portanto, a formação mais apurada da mão de obra, e assim por diante. A todo este quadro, adicione-se outro erro, o do preconceito contra a iniciativa privada participar de projetos de infraestrutura, equívoco só revisto na parte final do governo. Mas, parece, sem grandes convicções.

As deficiências de infraestrutura e logística passaram a atravancar também a indústria. O resultado é que o PIB industrial, em outubro, havia retrocedido 3,4%, em bases anuais. E, como previsto, o mercado de trabalho passou a se estreitar: outubro foi o sétimo mês com corte de vagas.

Se, no novo governo, as políticas fiscal e monetária serão outras, o mesmo precisa acontecer com o setor industrial. O país precisa se abrir mais e se integrar às cadeias produtivas globais.