Um pacote balanceado em que haja mais cortes de gastos do que aumento de impostos, mas tudo dentro de um projeto de elevação da taxa de poupança. Combater a inflação, mas evitar preços artificiais, o que significa que eles subirão a curto prazo. Ajuste de olho na situação internacional, que piorou nos últimos dias. Uma visão confiante. Essa é a receita com a qual trabalha Joaquim Levy.

Em entrevista que me concedeu, Levy admitiu aumento de impostos, não negou que a Cide, o imposto sobre combustíveis, esteja em consideração, mas o que ele quis deixar claro é que primeiro ele e o ministro Nelson Barbosa olham os gastos:

— A prioridade é olhar os gastos, os diversos que já foram feitos. Estancar alguns, reduzir outros. Na medida do necessário, considerar alguns ajustes de impostos, olhando o objetivo de aumentar a poupança. É muito importante o Brasil poupar mais e investir mais e estar preparado para este mundo que, nos últimos dias, está claro que está mais turbulento.

O ministro indicado falava da disparada do dólar aqui, mas principalmente na Rússia, que enfrenta tremores que são sentidos em todos os emergentes. O Brasil tem seus próprios epicentros, mas a queda livre do rublo é uma complicação a mais.

Levy acha que a sociedade brasileira, desde o ano passado, vem defendendo mudanças, e ele entende essa demanda, na área dele, como a de uma reorientação para mais consistência fiscal, mais fortalecimento da economia. Mas, a curto prazo, ele sabe que tem vários problemas. Um deles, a dona — sempre ela — inflação:

— Janeiro é tradicionalmente de inflação mais alta porque tem muitas correções. Dada a situação hídrica, este ano será acionado o mecanismo das bandeirinhas. O custo adicional das térmicas tem que estar nas contas, primeiro para não acumular um passivo, segundo, porque na hora que se ajustam os preços, as pessoas sentem e ajustam o consumo. O poder dos preços de orientar as decisões é muito forte.

O que o ministro quis dizer com isso é muito importante. Durante um tempo, principalmente em 2013, houve um represamento forte das tarifas e uma redução do preço da energia que foi ficando cada vez mais irreal ao longo de 2014 pelo uso intenso das térmicas. O sistema de bandeiras começaria no começo do ano e foi adiado para 2015. Prevê que, quando se usa mais térmica, os preços sobem; e quando há mais água nos reservatórios e as térmicas não são usadas os preços podem cair. Mas o que ele está defendendo nessa resposta é o realismo tarifário. O preço baixo incentiva a demanda de um bem, como água, que está escassa. Não no dia da entrevista, na verdade, quando desabou um temporal em Brasília.

Quando perguntei se o Tesouro pode socorrer a Petrobras, o ministro disse indiretamente que não pensa nisso. Afirmou que “a capacidade de reação da Petrobras e das empresas de petróleo, em geral, é muito forte”. Sobre o dólar, acha que a tendência é de alta, pela economia americana mais forte, e a queda do preço do petróleo, que está tendo várias consequências na economia internacional.

Sobre crescimento, Joaquim Levy acha que quando se faz um ajuste “forte e equilibrado”, quando são tomadas “as medidas necessárias”, o crescimento vem mais rapidamente. Quando disse que ele era um estranho no ninho, cercado de pessoas que pensam diferente, ele não passou recibo e disse que existe um “núcleo comum de ideias” e que “as pessoas sabem o que precisa ser feito”. Quando perguntei se estava otimista, ele respondeu que via as coisas com “uma certa confiança”. Ou seja, Levy sabe que é passo após passo e há muito trabalho.