Caiu de 6,9% para 3,2%, em 10 anos, o número de lares com insegurança alimentar grave. Mas ainda havia 7,2 milhões de pessoas que passavam fome em 2013, mostrou o IBGE. E 22% dos lares estavam vulneráveis à falta de comida. A parcela dos brasileiros com risco de passar fome caiu nos últimos dez anos. O aumento da renda, a redução do tamanho das famílias e a queda dos preços de alimentos - com exceção dos últimos anos - reduziram de 34,9% para 22,6% a fatia de lares onde as pessoas se consideram vulneráveis à falta de alimentos, mostra o Suplemento de Segurança Alimentar, elaborado pelo IBGE com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013.


Houve queda em todos os níveis de insegurança alimentar, medida em três categorias: leve, moderada e grave, que vão desde a preocupação com a falta de alimentos no futuro até a sua efetiva restrição. Ainda assim, 3,2% dos lares ou 7,2 milhões de pessoas passaram fome em 2013, com comprometimento de qualidade e quantidade de alimentos, inclusive os fornecidos para crianças em formação. Em 2004, esse grupo correspondia a 6,9% dos lares. Na outra ponta, o grupo de casas com moradores que se sentem confortáveis quanto ao acesso à alimentação subiu de 65,1% do total do país para 77,4% no mesmo período, somando 65,3 milhões de domicílios.


MISÉRIA PAROU DE CAIR


O IBGE utilizou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) para identificar e classificar os domicílios de acordo com o grau de acesso a alimentos. A escala prevê quatro categorias. Além da segurança, o domicílio pode ser classificado em três níveis de insegurança. É considerada leve quando em um lar há preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro e a qualidade é considerada inadequada. No caso da insegurança moderada, verifica-se a redução quantitativa de alimentos entre adultos. Já a grave é constatada com a redução quantitativa de alimentos entre crianças e há fome.


Neste ano, o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que utiliza outros critérios, informou que o percentual de brasileiros em situação de insegurança alimentar aguda chegou a 1,7%, nível considerado erradicação. No entanto, a miséria parou de cair no país. Os números oficiais mostraram que, depois de dez anos de recuo consecutivo, o percentual de miseráveis subiu de 3,6% em 2012 para 4% no ano passado, na conta que considera brasileiros com renda per capita inferior a R$ 70 por mês (linha do programa Brasil Sem Miséria).


Segundo o IBGE, a incidência da fome é maior no campo, onde 13,9% dos lares estão em situação de insegurança grave ou moderada. Entre 2009 e 2013, houve aumento de domicílios na condição de insegurança grave - de 19,5% para 21,4% -, enquanto na área urbana, a proporção de domicílios nessa situação baixou de 4,6% para 2,8%.


O IBGE utilizou amostras diferentes nas comparações entre os anos 2004, 2009 e 2013. As delimitações de domicílios rurais e urbanos nas pesquisas também variaram segundo os censos. Ou seja, uma área considerada rural de um município pode ter sido alçada a urbana de um censo para outro.


O professor da Unicamp e da Esalq-USP Rodolfo Hoffmann relativiza o aumento da fome no campo porque a renda urbana cresceu mais que a rural. E lembra que o problema pode ser medido por outras dimensões que não apenas o rendimento.
- Com o aumento da renda no Brasil, não esperaria resultado diferente, mas existem outras maneiras de medir a fome, como pelo desenvolvimento de crianças - afirmou.


A pesquisa mostra que as distorções regionais eram grandes. O Nordeste experimentou o maior avanço entre 2004 e 2013, mas ainda detinha os piores indicadores quanto ao acesso a alimentos. No Maranhão, 60,9% dos lares tinham algum tipo de insegurança alimentar, enquanto a média do Nordeste era de 38,1%. Em situação grave, estavam 9,8% dos domicílios maranhenses. No Piauí, 55,6% dos lares tinham algum tipo de insegurança. No Amazonas, 42,9%. Já o Espírito Santo tinha a situação mais confortável do país, com apenas 10,4% dos lares com algum grau de insegurança.


IMPACTO DA EDUCAÇÃO


Para Sonia Rocha, estudiosa de desigualdade e pobreza do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), as dificuldades no combate à insegurança alimentar também passam pela má gestão dos recursos familiares, fruto da baixa escolaridade. Isso acaba resultando em escolhas de alimentos pouco saudáveis, o que não é captado pela pesquisa. Prova disso, diz Sonia, é que entre as famílias com a mesma renda per capita - até um quarto de salário mínimo - as disparidades regionais permanecem.


- Sabemos que a família come, mas não sabemos se vai comer direito. Se a mãe for educada, vai saber lidar melhor com uma alimentação equilibrada. Teríamos que focar muito mais na educação do que fazemos hoje - afirma.


Uma alimentação menos saudável é o que prevê Monique Carmo da Silva, de 27 anos. Desempregada desde novembro, teve um alívio momentâneo com a concessão do seguro-desemprego, mas teme não conseguir colocar comida na mesa nos próximos meses sem o salário de R$ 945 que ganhava. Ela sustenta a filha de quatro anos e recebe pensão de R$ 500 do ex-marido.


- Com o seguro- desemprego, dá para comer, não tão bem, mas tem o essencial. Não vai te dar o melhor, mas você não passa fome - admite Monique, que mora no Morro da Formiga, na Zona Norte do Rio, e cursa o segundo período da faculdade de farmácia.
Colaborou Marcello Corrêa

Caiu de 6,9% para 3,2%, em 10 anos, o número de lares com insegurança alimentar grave. Mas ainda havia 7,2 milhões de pessoas que passavam fome em 2013, mostrou o IBGE. E 22% dos lares estavam vulneráveis à falta de comida. A parcela dos brasileiros com risco de passar fome caiu nos últimos dez anos. O aumento da renda, a redução do tamanho das famílias e a queda dos preços de alimentos - com exceção dos últimos anos - reduziram de 34,9% para 22,6% a fatia de lares onde as pessoas se consideram vulneráveis à falta de alimentos, mostra o Suplemento de Segurança Alimentar, elaborado pelo IBGE com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2013.


Houve queda em todos os níveis de insegurança alimentar, medida em três categorias: leve, moderada e grave, que vão desde a preocupação com a falta de alimentos no futuro até a sua efetiva restrição. Ainda assim, 3,2% dos lares ou 7,2 milhões de pessoas passaram fome em 2013, com comprometimento de qualidade e quantidade de alimentos, inclusive os fornecidos para crianças em formação. Em 2004, esse grupo correspondia a 6,9% dos lares. Na outra ponta, o grupo de casas com moradores que se sentem confortáveis quanto ao acesso à alimentação subiu de 65,1% do total do país para 77,4% no mesmo período, somando 65,3 milhões de domicílios.


MISÉRIA PAROU DE CAIR


O IBGE utilizou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia) para identificar e classificar os domicílios de acordo com o grau de acesso a alimentos. A escala prevê quatro categorias. Além da segurança, o domicílio pode ser classificado em três níveis de insegurança. É considerada leve quando em um lar há preocupação ou incerteza quanto ao acesso aos alimentos no futuro e a qualidade é considerada inadequada. No caso da insegurança moderada, verifica-se a redução quantitativa de alimentos entre adultos. Já a grave é constatada com a redução quantitativa de alimentos entre crianças e há fome.


Neste ano, o Fundo das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que utiliza outros critérios, informou que o percentual de brasileiros em situação de insegurança alimentar aguda chegou a 1,7%, nível considerado erradicação. No entanto, a miséria parou de cair no país. Os números oficiais mostraram que, depois de dez anos de recuo consecutivo, o percentual de miseráveis subiu de 3,6% em 2012 para 4% no ano passado, na conta que considera brasileiros com renda per capita inferior a R$ 70 por mês (linha do programa Brasil Sem Miséria).


Segundo o IBGE, a incidência da fome é maior no campo, onde 13,9% dos lares estão em situação de insegurança grave ou moderada. Entre 2009 e 2013, houve aumento de domicílios na condição de insegurança grave - de 19,5% para 21,4% -, enquanto na área urbana, a proporção de domicílios nessa situação baixou de 4,6% para 2,8%.


O IBGE utilizou amostras diferentes nas comparações entre os anos 2004, 2009 e 2013. As delimitações de domicílios rurais e urbanos nas pesquisas também variaram segundo os censos. Ou seja, uma área considerada rural de um município pode ter sido alçada a urbana de um censo para outro.


O professor da Unicamp e da Esalq-USP Rodolfo Hoffmann relativiza o aumento da fome no campo porque a renda urbana cresceu mais que a rural. E lembra que o problema pode ser medido por outras dimensões que não apenas o rendimento.
- Com o aumento da renda no Brasil, não esperaria resultado diferente, mas existem outras maneiras de medir a fome, como pelo desenvolvimento de crianças - afirmou.


A pesquisa mostra que as distorções regionais eram grandes. O Nordeste experimentou o maior avanço entre 2004 e 2013, mas ainda detinha os piores indicadores quanto ao acesso a alimentos. No Maranhão, 60,9% dos lares tinham algum tipo de insegurança alimentar, enquanto a média do Nordeste era de 38,1%. Em situação grave, estavam 9,8% dos domicílios maranhenses. No Piauí, 55,6% dos lares tinham algum tipo de insegurança. No Amazonas, 42,9%. Já o Espírito Santo tinha a situação mais confortável do país, com apenas 10,4% dos lares com algum grau de insegurança.


IMPACTO DA EDUCAÇÃO


Para Sonia Rocha, estudiosa de desigualdade e pobreza do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), as dificuldades no combate à insegurança alimentar também passam pela má gestão dos recursos familiares, fruto da baixa escolaridade. Isso acaba resultando em escolhas de alimentos pouco saudáveis, o que não é captado pela pesquisa. Prova disso, diz Sonia, é que entre as famílias com a mesma renda per capita - até um quarto de salário mínimo - as disparidades regionais permanecem.


- Sabemos que a família come, mas não sabemos se vai comer direito. Se a mãe for educada, vai saber lidar melhor com uma alimentação equilibrada. Teríamos que focar muito mais na educação do que fazemos hoje - afirma.


Uma alimentação menos saudável é o que prevê Monique Carmo da Silva, de 27 anos. Desempregada desde novembro, teve um alívio momentâneo com a concessão do seguro-desemprego, mas teme não conseguir colocar comida na mesa nos próximos meses sem o salário de R$ 945 que ganhava. Ela sustenta a filha de quatro anos e recebe pensão de R$ 500 do ex-marido.


- Com o seguro- desemprego, dá para comer, não tão bem, mas tem o essencial. Não vai te dar o melhor, mas você não passa fome - admite Monique, que mora no Morro da Formiga, na Zona Norte do Rio, e cursa o segundo período da faculdade de farmácia.
Colaborou Marcello Corrêa