O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, está visivelmente mais relaxado com a esperança de que a política fiscal fortaleça a política monetária. Numa entrevista que me concedeu ontem, ele disse novamente, mas com um tom mais persuasivo, que “nós faremos o que for necessário para que haja um cenário benigno de inflação”. Ele, diversas vezes, repetiu que a meta é 4,5%.

Muita gente no primeiro mandato na área econômica achava que 6,5% estava bom. O que o presidente Tombini diz agora é que desta vez o compromisso de chegar à meta será perseguido tendo ainda a ajuda da política fiscal:

— As políticas fiscal e monetária são independentes, mas complementares. Uma política de ajuste de gastos torna o processo de trazer a inflação a 4,5% mais fácil.

Perguntei se ele se sentia mais otimista com a nova orientação de política fiscal, e ele respondeu que sim:

— As palavras dos ministros escolhidos agora estão apontando na direção da consolidação fiscal, políticas que favorecem a trajetória da inflação para a meta.

Mas o curto prazo será mais difícil. Tombini disse que o país fechará o ano abaixo do limite superior da meta, mas que logo depois, em janeiro, a taxa subirá pelo efeito conjugado de reajustes desta época do ano, sazonalidade ruim nos produtos in natura, e a introdução do mecanismos de bandeiras, que elevará a energia quando forem utilizadas as térmicas:

— O pico da inflação em 12 meses é no primeiro trimestre de 2015. A partir daí, começa um longo período de declínio da inflação em 12 meses até chegar à meta. Temos que olhar através desse período do início do ano, por isso a política monetária vem sendo ajustada.

Entre os fatores que vão elevar a inflação, mas são positivos, Tombini cita o realinhamento dos preços administrados. Esses itens, que o governo controla, haviam ficado em 1,5% em 2013, foram para 6% em 2014, e ele acha que podem ficar acima disso. Um fator que torna mais difícil derrubar a inflação é a alta do dólar, e ele diz que é uma tendência, ditada pela mudança na economia americana.

Sobre a queda no preço das commodities e o momento de crise, como a da Rússia, Tombini diz que todas as moedas têm sido afetadas. Chegou para a conversa de olho no movimento do mercado, que ontem era impactado pela longa entrevista de Vladimir Putin, e terminou a conversa e foi conferir as cotações. Sabe que esse é um momento de volatilidade. Mas diz que o Brasil está preparado para isso:

— A queda do petróleo nem os especialistas previram. Em junho e julho, estava em US$ 110 o barril do brent, e agora, US$ 60. Isso afeta empresas, países mais dependentes do petróleo e os mercados emergentes. Em relação às moedas, há um momento de trepidação. Como ainda somos importadores líquidos de petróleo, haverá um ganho para o Brasil de US$ 5 bilhões a US$ 10 bi. O país está ajustando a política monetária, a política fiscal está sendo reforçada e temos um colchão de reservas para enfrentar esse surto de volatilidade.

Ele indica que o dólar continuará subindo porque reflete o movimento internacional de fortalecimento da economia americana. Por isso, disse que continuará com a política de swaps, operações financeiras no futuro de dólar, que o BC tem usado há mais de um ano para conter o excesso de alta da moeda americana:

— O quanto o dólar vai subir vai depender das condições de mercado e da situação internacional. Nós acumulamos US$ 375 bilhões, e do ponto de vista da administração das reservas faz sentido manter as operações de swap que são também uma proteção desse ativo. É um nível significativo de proteção.

Perguntei quando o Brasil vai retomar o crescimento e ele listou uma série de pontos positivos, como a taxa de desemprego. Falou da necessidade de investir em educação para melhorar os recursos humanos, para retomar o crescimento. Disse que o país investe de 16% a 19% do PIB, mas que nos últimos trimestres o investimento privado tem caído. Acha que isso muda com uma percepção mais positiva da economia:

— Aumentando a confiança dos empresários, o país poderá crescer mais.

Disse que o BC está fazendo um esforço extra de educação financeira, que acha fundamental depois da ampliação do crédito. Quando perguntei se ele estava otimista em relação ao próximo período, usou a mesma palavra que ouvi de Joaquim Levy. Disse que está “confiante”, mesmo com o “cenário desafiador lá fora”.