O dinheiro de propina que o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco se comprometeu a devolver aos cofres públicos - US$ 100 milhões (R$ 267 milhões) - é o triplo do orçamento anual de custeio (descontada a folha de pessoal) da Controladoria Geral da União (CGU), órgão da Presidência da República responsável pela fiscalização dos recursos federais e pelo controle externo de estatais como a Petrobras.

A observação é do próprio ministro-chefe da CGU, Jorge Hage, que se despede do cargo em quatro dias, após 12 anos em funções de chefia no órgão. Em entrevista ao GLOBO, Hage apontou as dificuldades enfrentadas pela pasta nos dois últimos anos do primeiro mandato da presidente Dilma.

- Tivemos dificuldade em 2013 e em 2014, por contas das restrições orçamentárias. Suspendemos atividades e reduzimos a fiscalização das prefeituras (que recebem recursos públicos federais). Para fazermos as fiscalizações, foi necessário fazer um remanejamento de pessoal - disse o ministro.

A comparação feita por Hage se refere ao maior montante já acertado até agora nos acordos de delação premiada da Operação Lava-Jato. Barusco era subordinado a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras. Duque, indicado pelo PT para a diretoria, chegou a ser preso na última etapa da Lava-Jato, em novembro. Nunca houve acordo para se devolver, de uma só vez e de uma única pessoa, US$ 100 milhões provenientes de um esquema de pagamento de propinas. Do total, US$ 20 milhões estão depositados na Suíça.

O custeio dos programas da CGU, sem o pagamento de pessoal, é de R$ 80 milhões por ano, segundo o ministro. Hage sustentou que é necessário dobrar esse orçamento para a manutenção das fiscalizações "com o grau de alcance atual". Ele também defendeu a reposição de um déficit de 350 auditores no órgão. O ministro negou que sua saída da pasta tenha relação com os cortes de orçamento feitos pelo governo Dilma nos últimos dois anos.

- O problema de 2013 e 2014 não foi determinante de forma alguma. O que ocorreu foi a passagem do tempo. Já são 12 anos, é preciso ceder espaço a outro - disse Hage, que será substituído em 1º de janeiro pelo atual secretário-executivo da Casa Civil, Valdir Simão.

Barusco é um dos investigados em processos administrativos abertos pela CGU para apurar pagamento de propina pela empresa holandesa SBM Offshore, contratada da Petrobras para a construção de plataformas de petróleo. O órgão investiga o aumento do patrimônio de Barusco, de Duque, dos ex-diretores Nestor Cerveró e Jorge Zelada e de mais nove empregados e ex-empregados da estatal.