Descolada dos demais indicadores de atividade, a taxa de desemprego continua em queda, mesmo quando submetida a metodologias diferentes da adotada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), atualmente o indicador oficial. No segundo trimestre de 2014, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que abrange 3,5 mil municípios, o indicador chegou a 6,8%, ante 7,1% nos três primeiros meses de 2014 e 7,4% em igual período do ano passado.

Diante da relativa estabilidade da força de trabalho - cenário diferente daquele apresentado pela PME, que tem mostrado de maneira reiterada a diminuição da população economicamente ativa -, a geração de emprego foi a principal contribuição para a redução da taxa. No confronto com o segundo trimestre de 2013, a ocupação avançou 1,7%, enquanto a taxa de atividade - a proporção de indivíduos em idade de trabalhar que estão de fato empregados ou em busca de uma vaga - passou de 61,5% para 61,1%. Nessa comparação, o Nordeste criou quase dois terços do total de vagas abertas - em números absolutos, cerca de um milhão de postos.

Para Bruno Campos, da LCA Consultores, os números reiteram a avaliação de que o único ponto comum entre a Pnad Contínua e a PME, que deve ser substituída pela primeira no próximo ano, é a trajetória descendente da taxa de desocupação. "Esse movimento comum, na verdade, é uma coincidência, já que se dá por razões totalmente diferentes em cada uma das pesquisas. Na Pnad Contínua, pelo aumento da ocupação, e na PME, pela redução da população economicamente ativa", diz.

Apesar de ter uma série ainda curta, com início no primeiro trimestre de 2012, a Pnad Contínua mostra um mercado de trabalho mais dinâmico do que aquele das seis regiões metropolitanas da PME, afirma o economista, mas que também está desacelerando, como mostram os demais indicadores de emprego. Entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, o aumento da população ocupada passou de 2% para 1,7% em relação a iguais períodos de 2013.

A estabilidade da taxa de atividade, afirma Priscilla Burity, do banco Brasil Plural, é "a principal mensagem" que a Pnad Contínua tem passado. Ela aponta que o movimento de saída de pessoas do mercado de trabalho desde o fim do ano passado, apontado como principal razão para a redução da taxa de desemprego na leitura da PME - que passou de 5,4% para 4,9% entre setembro do ano passado e o mesmo mês deste ano -, não vale para todo o país.

Isso acontece, segundo Priscilla, porque o Sudeste é "sobrerrepresentado" na pesquisa oficial, que não inclui o Norte e o Centro-Oeste, onde a ocupação cresceu 2,4% e 2,5%, na comparação com o segundo trimestre de 2013, e o desemprego caiu de 8,3% para 7,2% e de 6% para 5,6%, respectivamente.

No Sudeste o no Sul, segundo a Pnad Contínua, o número de ocupados avançou 0,2% e 0,5%, no mesmo confronto. A taxa de desemprego, por sua vez, passou de 7,2% para 6,9% e de 4,3% para 4,1%, nessa ordem.

O coordenador de trabalho e rendimento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Cimar Azeredo, reiterou a dificuldade de examinar as duas pesquisas. "Não se pode comparar uma com a outra. São levantamentos com amostras, abrangências e metodologias completamente diferentes. Por isso, os indicadores não são comparáveis", afirmou.

 

Dados sobre renda só virão em 2015

 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou ontem que a Pesquisa por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua será divulgada com dados de rendimento a partir do dia 6 de janeiro, quando serão conhecidos os números referentes do quarto trimestre de 2014. Técnicos do instituto ainda fazem estudos que possibilitem à Pnad Contínua divulgar mensalmente dados de rendimento, taxa de desemprego e nível de ocupação. Os estudos ainda não estão concluídos, mas o objetivo do IBGE é que em fevereiro os dados mensais já comecem a ser publicados. Dadas as incertezas sobre a Pnad Contínua divulgar dados mensais já no início do próximo ano, existe a possibilidade de a Pesquisa Mensal de Emprego (PME) continuar a ser divulgada em 2015, disse o coordenador de trabalho e rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. Mais uma vez, ele disse que a PME só sairá de campo quando a Pnad Contínua for capaz de produzir dados mensais. "A pesquisa não foi desenhada para isso [produzir dados mensais]. Estão em curso estudos que adaptem a amostra da pesquisa para a divulgação mensal. Houve uma solicitação forte da iniciativa privada, universidades, consulto ria e governo. Estamos correndo para que aconteça [a divulgação mensal em fevereiro, tendo janeiro como referência]. Isso está previsto, mas pode ser que não aconteça", afirmou Azeredo. Originalmente, os dados da Pnad Contínua referentes ao segundo trimestre deveriam ter sido divulgados em agosto. Mas, devido à greve de 79 dias de parte de funcionários reivindicando melhores condições de trabalho e aumento salarial, a direção do IBGE adiou a publicação. A paralisação, iniciada em maio e terminada em agosto, afetou a coleta de dados nos Estados do Amapá, Ceará, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal. Pelo mesmo motivo, o instituto reprogramou a divulgação da Pnad Contínua do terceiro trimestre de novembro, para 9 de dezembro.