O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva antecipou-se ontem à presidente Dilma Rousseff e reuniu-se em São Paulo com a bancada do PT no Senado para definir a estratégia a ser seguida contra a oposição e os rumos do segundo mandato de sua sucessora. No encontro, Lula salientou que tão importante quando indicar o novo ministro da Fazenda e a nova equipe econômica, é definir o articulador político do governo, para desde já manter a base petista e a base aliada como um todo afinada com o Planalto. Lula e o presidente do PT, Rui Falcão - que participou da reunião com os senadores -, gostam de Ricardo Berzoini no comando das Relações Institucionais e defendem que ele se mantenha no cargo. Mas se Dilma optar por remanejá-lo, defendem que o sucessor seja empoderado para resolver os problemas, a fim de que não sofra o mesmo que seus antecessores. Esvaziados de poderes, faziam com que os políticos governistas acorressem à Casa Civil. Na reunião de cerca de quatro horas, em um hotel na capital paulista, Lula demonstrou que se mantém influente sobre o governo federal e pediu novas conversas com os senadores. O encontro aconteceu dois depois de Lula ter sinalizado que participará ativamente da articulação política do segundo mandato de Dilma. Em conversa de mais de seis horas na terça-feira, na Granja do Torto, em Brasília, o ex-presidente e sua sucessora trataram da nomeação de ministros, como o da Fazenda, e de governabilidade. Ontem, Lula recomendou aos senadores que ocupem espaços no Congresso e não deixem nenhum discurso da oposição sem resposta. O ex-presidente defendeu "mais unidade" e "mais disposição para o enfrentamento" no Senado, especialmente contra o candidato derrotado à Presidência, Aécio Neves (PSDB). Segundo o líder do PT no Senado, Humberto Costa, Lula está preocupado com o fortalecimento da oposição na Casa, com parlamentares como José Serra (PSDB-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) a partir de 2015. "Do ponto de vista quantitativo não houve grandes mudanças. Continuamos a ter um número maior de senadores mais ligados ao governo. Mas tivemos maior qualificação da bancada. Sabemos que isso pode tornar o debate mais duro", disse. Os parlamentares queixam-se da falta de diálogo com a presidente e veem Lula como um interlocutor. O quórum da reunião foi alto: dos 13 senadores da bancada, estavam presentes 12, com exceção de Jorge Viana (AC). Os senadores eleitos Paulo Rocha (PA) e Fátima Bezerra (RN) também participaram, além de Maria Regina Sousa, suplente do senador Wellington Dias (PI), que foi eleito governador do Piauí. No segundo mandato de Dilma, a articulação de Lula com a base de apoio tende a ser diferente do que foi no início da gestão de sua sucessora. Em maio de 2011, Lula foi a Brasília para negociar com os senadores petistas e da base aliada, que estavam descontentes com a atuação da presidente e do então ministro da Casa Civil, Antonio Palocci. O ex-presidente participou de encontros nas casas da senadora e ex-ministra Gleisi Hoffmann (PR) e do então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Diferentemente dessas conversas, a reunião de ontem teve aval de Dilma. A presidente resolveu marcar uma confraternização com senadores, deputados e governadores eleitos pelo PT no mesmo dia da reunião de Lula e deu trabalho à bancada do Senado, que teve de fazer um bate-e-volta entre Brasília e São Paulo no mesmo dia. O encontro com o ex-presidente já estava agendado há mais de uma semana, mas a reunião com Dilma foi definida na última hora, na terça-feira. Isso obrigou Lula a antecipar, da tarde para a manhã, a reunião com os senadores, para que pudessem voltar a Brasília. Já a bancada do PT na Câmara reuniu-se em Brasília antes do encontro com Dilma. Uma das lideranças da bancada disse ao Valor que há expectativa de melhora no relacionamento com a presidente no segundo mandato. Primeiro porque os ministeriáveis de seu entorno - o governador da Bahia, Jaques Wagner, o ministro Berzoini e o ministro Miguel Rossetto - têm bom trânsito no partido e sintonia fina com os parlamentares. Em segundo lugar, porque Dilma vai se relacionar com uma base mais "apertada", disse o deputado. Ele lembra que até então, a presidente tem uma base "larga", mas infiel e sem compromissos. Avalia que agora, sobretudo com a oposição declarada do PMDB na Câmara, ela vai se empenhar em manter uma relação melhor com a Câmara. Em duas horas de coquetel, regado a vinho, refrigerantes e salgadinhos, Dilma não discursou, mas distribuiu sorrisos e fez selfies. Os ministros Aloizio Mercadante, Ricardo Berzoini, Gilberto Carvalho e José Eduardo Cardozo, e até o chefe de gabinete, Beto Vasconcelos, entretinham uns grupos, enquanto Dilma falava com outros. Um dos participantes disse ao Valor que o encontro foi significativo para afinar o relacionamento de Dilma com o partido. Numa provocação, comentou que "até Mercadante estava simpático". O deputado José Guimarães (PT-CE) resumiu o acontecimento: "Foi um gesto alvissareiro".

 

PT decide entrar na disputa pela presidência da Câmara

 

 

A bancada do PT na Câmara dos Deputados decidiu ontem lançar candidatura própria à presidência da Casa, num contraponto à postulação do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ). O líder da bancada petista, Vicentinho (SP), criticou o comportamento do PMDB que, embora seja governo, exerceria "mais oposição" do que o PSDB e o DEM. "Teremos um nome para a presidência. Para isso, vamos procurar um diálogo com os partidos. Com os da base, mas com outros também. Queremos fazer uma coisa bem republicana", afirmou Vicentinho, após a reunião da bancada.
 
O petista deixou claro que há um veto ao líder pemedebista. "Jamais vamos concordar com uma candidatura que signifique uma postura de oposição. Como vamos ter uma candidatura que tem atitude contrária à sua orientação partidária?", indagou.
 
Vicentinho anunciou que a bancada criou uma comissão para analisar a questão da presidência, composta por ele, pelos ex-presidentes da Casa Marco Maia (RS) e Arlindo Chinaglia (SP) e pelos deputados Geraldo Magela (DF) e José Guimarães (CE). O PT contará com 70 deputados na próxima legislatura.
 
O impasse entre a candidatura de Cunha e um nome do PT deve pulverizar a disputa pela mesa diretora da Câmara e estimula o crescimento de azarões. Durante o jantar de dirigentes pemedebistas na residência oficial do vice-presidente Michel Temer, na terça-feira, Cunha foi alertado sobre essa possibilidade, caso se cristalizasse a disposição do Palácio do Planalto em derrotá-lo. A avaliação é que o governo não tem força para eleger um nome do PT, mas conta com poder de fogo suficiente para retirar de Cunha a unanimidade dentro do PMDB. O parlamentar já consolidou uma aliança com o PTB, PR, PSC e SD, integrantes do chamado "blocão", que juntos com o PMDB reúnem 152 parlamentares. Deve procurar na próxima semana o PSDB e o DEM, que somarão 76 parlamentares.
 
"Isto embola o jogo", comentou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), que em 2013 teve 167 votos ao disputar e perder a eleição da mesa diretora para o atual presidente, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN). Delgado deve se apresentar novamente como candidato, mas ainda enfrenta dificuldades para unificar seu próprio partido. Na primeira reunião dos 34 deputados federais eleitos este ano convocada pela cúpula do partido, 25 compareceram. Uma ala minoritária do PSB está contra a decisão partidária de se manter na oposição ao governo federal.
 
A largada inicial de Delgado será com um bloco entre o PSB, o PPS e o PV, que juntos representam 43 deputados. O parlamentar tentará se aproximar de outro bloco que está se articulando, formado por PDT, Pros e PCdoB, com 49 deputados. Mas a posição em relação ao Planalto deve ser um obstáculo.
 
"Nosso apoio a Dilma será incondicional", disse o presidente nacional do PDT, o ex-ministro Carlos Lupi, que deve reunir a Executiva da sigla no dia 12 para discutir a sucessão da Câmara e formalizar a proposta de bloco de centro-esquerda. Por ora, o pedetista descarta apenas o apoio do PMDB. "O Eduardo Cunha não nos representa", disse.