A presidente Dilma Rousseff não tem pressa para anunciar o nome do novo ministro da Fazenda, segundo fontes oficiais, apesar de seu antecessor e principal cabo eleitoral, Luiz Inácio Lula da Silva, recomendar que a escolha seja feita o mais breve possível, de preferência já na próxima semana. O ex-presidente está de acordo com os mercados e governadores eleitos, segundo os quais há urgência em saber quem vai comandar a economia - a escolha do nome vai dizer muito do que o novo governo pretende fazer -, para que tanto os empresários quanto os chefes de executivo eleitos em outubro possam planejar o ano de 2015.

Em encontro que reuniu por mais de seis horas a presidente e o antecessor, na noite da última terça-feira, Lula insistiu no nome do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e do ex-secretário-executivo da Fazenda Nelson Barbosa. Os dois faziam parte de uma lista tríplice apresentada por Lula a Dilma logo depois da eleição, relação que tinha também o presidente do Bradesco, Luiz Trabuco. Segundo fontes do PT, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também é candidato ao cargo de Guido Mantega na Esplanada dos Ministérios, mas enfrenta resistências dentro do próprio PT.

Apesar de longa, a reunião não foi conclusiva em relação ao nome do futuro ministro da Fazenda. A própria presidente, numa tumultuada conversa ontem com jornalistas, tratou de jogar um balde de água fria nas expectativas: "Ainda não", respondeu Dilma, ao ser questionada sobre a escolha do novo comandante da economia. A presidente acrescentou que só fará o anúncio depois de sua participação na reunião de cúpula do G-20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo), entre os dias 15 e 16 de novembro na Austrália. Fontes credenciadas falam num dia em torno de 10 de dezembro.

Mercadante não constava da lista original sugerida por Lula a Dilma, com Meirelles, Trabuco e Barbosa. O ministro nega que queria trocar de lugar na Esplanada, mas fontes do PT asseguraram ao Valor que o petista luta pela vaga de Mantega. Ao participar da abertura, ontem, do Encontro Nacional da Indústria (Enai), Mercadante defendeu cortes de gastos públicos, mas não de forma drástica, exatamente nos termos que fez Dilma na campanha. Meirelles, em conversa com senadores, disse que não foi convidado, mas também não descartou a hipótese de voltar ao governo no comando da economia.

Além de Dilma e Lula, participaram da conversa na Granja do Torto Mercadante e o presidente do PT, Rui Falcão. A ida de Falcão sinaliza disposição da presidente de ouvir o PT tanto sobre a economia quanto sobre a composição do governo. Os quatro fizeram um balanço das eleições, discutiram a relação do governo com o Congresso e, de acordo com fontes petistas, a Petrobras.

O Valor apurou que Dilma vai trocar o comando da Petrobras, mas quer fazer um "soft landing", ou seja, uma aterrissagem suave na substituição de Graça Foster na presidência da estatal. A avaliação no PT e no governo é que a corporação se voltou contra a sua presidente e a mudança é necessária para que a empresa normalize suas atividades. Há sugestões para que a presidente indique um político com habilidade para fazer a transição na empresa, mas também quem defenda a "meritocracia", um nome saído da própria empresa. O perfil do político apontado é o do governador da Bahia, Jaques Wagner, mas a presidente o quer por perto, fazendo parte do núcleo decisório do governo. Wagner é forte candidato para a Casa Civil, sobretudo se Mercadante for deslocado para outro ministério.

Em seu primeiro ato público após a reeleição, Dilma reafirmou compromisso com as "mudanças" prometidas ao longo da campanha, e destacou, entre as principais, o acirramento ao combate à inflação e a aceleração da economia. O Palácio do Planalto armou o palco de modo a expressar a força política da presidente reeleita: no ato em que o PSD reafirmou seu apoio a Dilma, ela ressurgiu ao lado do ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini.

Após o ato político, Dilma conversou rapidamente com os jornalistas. Foi nessa rápida troca de palavras à distância que disse ainda não ter escolhido o novo ministro da Fazenda. Ela disse que anunciará os nomes "por partes", conforme adiantou o Valor.

"Farei as mudanças que todos nós escutamos ao longo da campanha eleitoral", comprometeu-se, no segundo pronunciamento público após a reeleição. "Em termos de metas é a aceleração do crescimento, combate à inflação, preservação da responsabilidade fiscal, continuidade da expansão do emprego e da renda, e da inclusão social", enumerou.

Dilma disse contar com o PSD neste projeto, bem como para realizar a reforma política. A presidente também espera o apoio do PSD para se contrapor à candidatura do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) a presidente da Câmara. Embora o PMDB integre a base de apoio do governo no Congresso, a atuação do líder Cunha é classificada de oposição no Planalto.

Foi nesse contexto que Dilma exaltou a relevância do Congresso e a necessidade de manter um amplo diálogo com o Parlamento. "O Congresso é um espaço privilegiado de articulação política", um "espaço principal de diálogo", classificou. O espaço onde, segundo Dilma, "basicamente" se dá a relação entre o governo e os partidos.

O presidente do PSD e candidato derrotado ao Senado em São Paulo, Gilberto Kassab, desejou "boa sorte" a Dilma. Ele afirmou que o PSD "se sente muito feliz" com a vitória da petista e estará ao seu lado para "contribuir com êxito para mais esse governo", para orgulhar-se de seu "legado" em quatro anos. Kassab será ministro no segundo mandato de Dilma, mas a presidente ainda não definiu onde acomodá-lo. Nos bastidores, a sigla reivindica o Ministério das Cidades, numa disputa silenciosa com o PT.

Na presença das principais lideranças do PSD - inclusive de políticos que fizeram oposição a ela na campanha - Dilma falou em "desmontar palanques. "A atitude do ganhador não pode ser de soberba nem de pretensão de ser o último grito em matéria de visão política", afirmou. "Apesar de não ter apoiado aqui em Brasília a eleição de Vossa Excelência, nós comungamos daquilo que a senhora falou, governo eleito é governo de todos", disse o vice-governador eleito do Distrito Federal, Renato Santana (PSD-DF), que pediu votos para Aécio Neves (PSDB).

À tarde, a presidente comandou a entrega da Ordem do Mérito Cultural no Palácio do Planalto, ao lado da ministra da Cultura, Marta Suplicy, que está de saída do cargo. A relação de Marta com Dilma desgastou-se a partir do início do ano, quando ela despontou como uma das lideranças do movimento "Volta, Lula".

Aos jornalistas, Marta admitiu ter conversado com Dilma sobre seu retorno ao Senado. Não há data para a saída definitiva de Marta. O mais cotado para substituí-la é o ex-titular da pasta e atual secretário de Cultura Municipal de São Paulo, Juca Ferreira, que coordenou o programa de cultura da campanha de Dilma à reeleição.

A 20ª edição da Ordem do Mérito Cultural agraciou 26 personalidades e quatro instituições. A pintora Djanira e a arquiteta Lina Bo Bardi foram homenageadas desta edição. "As obras da Djanira tornam o meu gabinete mais humano", declarou a presidente. "Ela interpretou a alma, as cores, a natureza do nosso país, tenho preferência clara pelo retrato dos pescadores", completou.

Dilma exaltou políticas culturais de seu governo, como o Vale Cultura, no qual o governo investe R$ 5 bilhões, e o Brasil de Todas as Telas, de fomento ao audiovisual brasileiro, que concentra investimentos de R$ 1,2 bilhão.