A surpreendente decisão do Banco do Japão, na semana passada, de ampliar suas compras de ativos de 60 a 70 trilhões de ienes (US$ 699 bilhões) para 80 trilhões de ienes ao ano fez com que as atenções passassem, agora, para os esforços de compra de títulos pelo Banco Central Europeu (BCE), às vésperas de sua reunião de política monetária.

Poucos dias depois de o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) ter suspenso sua versão de flexibilização quantitativa, o BoJ mandou um surpreendente recado aos investidores, de que outros bancos centrais continuam em modo de "alívio quantitativo".

A decisão do Fed de destoar de seus equivalentes no Japão e na zona do euro após anos de afrouxamento monetário agressivo já ajudou os formuladores de políticas do BCE, desvalorizando o euro e baixando a moeda para a sua mínima em dois anos, a US$ 1,25, na segunda-feira.

Mas uma inesperada queda no núcleo da inflação na zona do euro - um indicador que exclui itens mais voláteis, como preços de alimentos e energia -, reforçou as exortações para que o BCE siga o exemplo de Tóquio e atue com ousadia mediante a compra de títulos soberanos de longo prazo.

A maioria dos analistas que acompanha as ações do BCE acredita ser improvável que o Conselho Diretor do banco central tome alguma decisão importante nesta quinta-feira. As autoridades monetárias provavelmente preferirão avaliar o impacto das iniciativas já adotadas para evitar a estagnação econômica, inclusive compras de títulos do setor privado, antes de tomar os próximos passos.

O BCE comprou, até agora, o equivalente a € 4,8 bilhões em "covered bonds" e na semana passada encarregou quatro gestoras de ativos de adquirir, a partir deste mês, pacotes de empréstimos securitizados na forma de títulos lastreados em ativos. Em dezembro, o BCE vai também realizar outro leilão de empréstimos baratos com maturação de quatro anos, e as autoridades estão confiantes de que a adesão será maior do que no leilão de setembro.

Por outro lado, a divergência entre o guardião da política monetária da zona do euro e dos EUA deve elevar a inflação do seu atual nível de 0,4% devido ao fortalecimento do dólar e ao aumento dos preços de importação.

Mas, com a inflação muito aquém da meta do BCE - pouco abaixo de 2% -, os investidores seguem preocupados que o atual pacote de políticas do BCE não consiga evitar uma década perdida, como a vivida pelo Japão - de fraco crescimento e preços em queda.

Alguns acreditam que a reação eufórica dos mercados convencerá as autoridades do BCE a agir. Isso acalmaria as preocupações com que a compra de títulos soberanos em larga escala produza pequeno impacto quando os rendimentos da dívida pública já estão tão baixos quanto na zona do euro e no Japão.

Mas, embora a compra de títulos soberanos possa elevar as ações de empresas europeias e enfraquecer o euro, as autoridades do BCE parecem não estar convencidas de que até mesmo um estímulo monetário mais agressivo possa impulsionar o crescimento, caso os governos permaneçam relutantes em reformar suas economias.

Mario Draghi, o presidente do BCE, disse em Washington no mês passado que uma flexibilização quantitativa em larga escala não poderia, por si só, produzir uma recuperação sustentável. A experiência do BoJ, que teve de incrementar sua compra de títulos em face de um crescimento decepcionante, apoia seu ceticismo.

"Algumas pessoas estão abraçando muito rapidamente a conclusão de que [a decisão do BoJ] torna intervenções do BCE mais prováveis", disse Krishna Guha, da Evercore ISI. "É uma faca de dois gumes: a reação do mercado é uma resposta convincente para aqueles que argumentam que o alívio quantitativo (QE, em inglês) não é eficaz quando os rendimentos já estão baixos. Mas também revela que o QE do BoJ não produz muitos resultados", disse. "

As autoridades em Frankfurt não se disporiam a comprar títulos na quantidade prometida por Tóquio, tendo as aquisições anuais do BoJ somado o equivalente a 15% da renda nacional japonesa. Até mesmo a perspectiva de compras em pequena escala provoca arrepios nos mais conservadores do Conselho do BCE.

E embora Haruhiko Kuroda, presidente do BoJ, possa ter decidido ampliar o QE com base em uma votação de 5 a 4, a configuração política da zona do euro exige que Draghi, antes de agir, obtenha consenso em torno da necessidade de começar a comprar títulos do governo.

"A história japonesa nos diz ser muito difícil sair da deflação. Essa é uma razão importante pela qual os formuladores de políticas na zona do euro devem agir agora, e não mais tarde: deixar para depois a compra de grandes montantes de dívida soberana será mais difícil para o BCE do que para o BoJ", disse Guntram Wolff, diretor da Bruegel, um think-tank com sede em Bruxelas."