A presidente e o vice ainda não conseguiram afinar o discurso sobre o espaço do PMDB na Esplanada dos Ministérios (Bruno Peres/CB/D.A Press - 10/6/14 )
A presidente e o vice ainda não conseguiram afinar o discurso sobre o espaço do PMDB na Esplanada dos Ministérios

As três principais legendas citadas como beneficiárias do esquema de corrupção na Petrobras desvendado na Operação Lava-Jato têm também a situação indefinida na reforma ministerial. Se a presidente Dilma Rousseff, que celebrou ontem 67 anos em Porto Alegre, precisará decidir se demite ou não a atual diretoria da Petrobras, ainda terá como missão montar o quebra-cabeça do espaço do PMDB na Esplanada, responder ao PP se ele continuará ou não com o Ministério das Cidades e acalmar o PT. A legenda declarou fidelidade à presidente mas reclama pelos cantos a posse de pastas mais estratégicas e ainda monta, com o auxílio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quase um gabinete paralelo.

Dilma segue sem conseguir acertar o compasso com o principal aliado na coalizão governista. Existe a expectativa, ainda não confirmada, de que a presidente sente hoje com o vice-presidente Michel Temer para tentar organizar a bagunça, algo que ainda não ocorreu. Ela já conversou na semana passada com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para tentar definir aos menos as três indicações do Senado. Não conseguiu.

Indefinição

O PMDB terá um ministério a mais do que os cinco que ocupa atualmente. Mas Dilma jamais deixou claro, nem mesmo para Renan, qual seria a pasta agregada ao portfólio peemedebista. Especula-se que seja a Secretaria dos Portos, comandada hoje por César Borges. Mas ainda é apenas uma especulação. Com isso, o xadrez segue emperrado. Na prática, confirmados estão apenas a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), que toma posse hoje na Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e Moreira Franco, que permanecerá na Secretaria de Aviação Civil. Todo o resto segue em aberto.

Eliseu Padilha, que não foi reeleito para a Câmara, mas preside a Fundação Ulysses Guimarães, está com a indicação bem encaminhada. Mesmo assim, é um malabarismo de Temer, já que Padilha é próximo a ele, e alguns integrantes da bancada defendiam que a cota da Câmara deveria ser ocupada apenas por deputados eleitos. “Padilha é bem articulado. Quando foi ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso mostrou, que atende bem os deputados e tem experiência política, algo que a presidente Dilma precisará muito daqui para frente”, disse um aliado do vice-presidente.

A terceira vaga é destinada ao presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que estará ao relento a partir de 1º de fevereiro, já que foi derrotado na disputa pelo governo potiguar. Nesse caso, não há problemas em se obter o apoio dos deputados. Há resistências, sim, do próprio Henrique, cotado para o Ministério da Previdência — que ficará vago com a saída do senador Garibaldi Alves. Henrique não quer assumir uma pasta com pouca visibilidade política. Prefere a Integração Nacional, mas parece que está reservada aos clã Cid e Ciro Gomes, que mantém na pasta o pupilo Francisco Teixeira.

O endereço muda da Câmara para o Senado, mas o impasse continua. Além da confirmada Kátia Abreu, está praticamente fechada a indicação de Eduardo Braga, atual líder do governo no Senado, para o Ministério de Minas e Energia. Isso abre espaço em um cargo estratégico para o Planalto, cobiçada por Romero Jucá (PMDB-RR) e Eunício Oliveira (PMDB-CE). O peemedebista cearense é cotado para o Ministério da Integração Nacional, mas tem dado sinais de que prefere continuar na Casa para suceder Renan daqui a dois anos.

O PP, que teria entrado no esquema denunciado pela Operação Lava-Jato por intermédio do falecido deputado José Janene, torce para que Dilma mantenha a legenda no Ministério das Cidades, um dos que têm o orçamento mais robusto na Esplanada — média de R$ 8 bilhões anuais — e responsável por projetos de visibilidade política e eleitoral, como o Minha Casa, Minha Vida e os projetos de saneamento e mobilidade urbana. “Se levarem em conta a Lava-Jato, têm partidos bem mais envolvidos que nós, como o PMDB e o PT. Não queiram fulanizar o debate e jogar isso na discussão sobre a Esplanada”, ameaçou um cacique petista.

Como se não bastassem a Petrobras e a reforma ministerial, Dilma ainda precisará administrar o Congresso. O Planalto conseguiu aprovar com extrema dificuldade as mudanças nas regras do superavit primário. Tem ainda, pela frente, a batalha de aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2015. Já está praticamente definido que o orçamento do primeiro ano do segundo mandato da presidente só será aprovado no ano que vem. E ainda enfrentará a provável eleição de Eduardo Cunha para a presidência da Câmara em fevereiro do ano que vem.

Marina também cobra demissões
Terceira colocada na disputa presidencial, a ex-senadora Marina Silva (PSB-AC) cobrou a demissão da diretoria da Petrobras. “Essa diretoria foi mantida durante todos esses anos e não teve a competência para evitar o que foi feito”,
disse ao programa Roberto D'Avila, da GloboNews. Ela também criticou as decisões recentes da presidente Dilma na área econômica. “A questão é que fizemos uma escolha: não queríamos fazer um discurso na hora de ganhar e uma outra coisa na hora de governar. É preciso que o país, cada vez mais, possa entender que as lideranças políticas têm de participar das campanhas políticas falando a verdade. E falar a verdade tem um preço”, disse. A ex-senadora acrescentou que pagou um preço muito alto por ter adiantado o programa de governo e ressaltou que prefere “perder ganhando que ganhar perdendo”.
Dança das cadeiras

PT
» Situação atual: 17 ministérios
» Situação futura: resiste a entregar alguma pasta e ainda quer abocanhar o Ministério das Cidades

PMDB
» Situação atual: cinco ministérios (Previdência, Agricultura, Turismo, Minas e Energia, Aviação Civil)
» Situação futura: ganhará mais uma pasta, mas não consegue chegar a um acordo de quem vai para onde

PP
» Situação atual: um ministério (Cidades)
» Situação futura: quer manter a pasta, mas sabe que PMDB, PT e o PSD de Gilberto Kassab estão de olho nela