Título: Com o pé no freio e o olho no exterior
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 30/06/2011, Política, p. 6

O relator do Código Florestal na Comissão de Meio Ambiente do Senado quer debate mais racional e ajustes para evitar danos à imagem do país

O senador Jorge Viana (PT-AC), relator da matéria que mais polêmica provocou no primeiro semestre da Câmara dos Deputados ¿ o Código Florestal ¿, pede ao Senado que esfrie a temperatura do debate. Mas acha que o texto precisa ser modificado para que o país não "fique mal posicionado diante de si mesmo e do mundo". Segundo o petista, o projeto resolve questões do passado, como a necessidade de segurança jurídica aos pequenos produtores e representantes do agronegócio. "Mas nós não podemos fazer isso rompendo alguns critérios e regras estabelecidos em lei, pondo em risco a proteção do meio ambiente e os recursos naturais", completou.

Em entrevista ao Correio, Viana critica o PT dizendo que o partido foi um mau exemplo neste primeiro semestre ao demonstrar falta de unidade. Não poupou o Planalto, dizendo que Dilma errou na relação com os aliados no primeiro semestre mas acredita em mudanças a partir de agora. "A política não está apenas em um escaninho do Palácio do Planalto, ela está colocada em todos os andares e bem posicionada dentro do gabinete da presidente". E deixou 2014 em aberto: "O PT é o maior partido do Brasil, tem as duas maiores lideranças para 2014, que são a presidente Dilma e o presidente Lula. Só precisamos ver na hora certa quem vamos escalar".

Depois do estresse na Câmara com a votação do Código , como está o clima deste debate no Senado? O primeiro desafio é esfriar a temperatura que o Código gerou na Câmara. É uma matéria do maior interesse do país e que está contaminada com um forte enfrentamento, que não é bom para o país. O que está em jogo é o modelo de economia produtiva que você quer para o setor. Temos que buscar um entendimento para que este Código não deixe o Brasil mal posicionado diante de si e do mundo.

Qual é o risco do texto aprovado pelos deputados? O problema é que o texto, legitimamente, busca resolver uma questão do passado, o passivo ambiental que nós temos. Os representantes da pecuária, do agronegócio, precisam ter uma segurança jurídica para seguir produzindo. Mas nós não podemos fazer isso rompendo alguns critérios e regras estabelecidos em lei, pondo em risco a proteção do meio ambiente e os recursos naturais.

O país aproveita mal seus recursos naturais? O Brasil é uma potência do ponto de vista ambiental, mas responde apenas com 4% do PIB Florestal. Nem começamos ainda a ganhar dinheiro com nossas florestas e perdemos tempo discutindo o quanto a gente destrói.

A votação do Código Florestal gerou uma das grandes crises políticas entre o PT e o PMDB. É possível agora um debate mais civilizado? O nosso governo, nos primeiros meses, não acertou na coordenação política. A própria presidente reconheceu que estava tendo problemas na interlocução. Houve uma mudança de concepção do governo. A política agora não está apenas em um escaninho do Palácio do Planalto, ela está colocada em todos os andares e bem posicionada dentro do gabinete da presidente.

O PT está com dificuldades para lidar com o governo? Estamos tendo alguns problemas, alguns desentendimentos que ocorreram e seguem ocorrendo. O PT precisa deixar a disputa para a Presidência da Câmara para trás. A vitória do presidente Marco Maia (PT-RS) deixou consequências para o PT, para o próprio governo e para a articulação. O partido da presidente Dilma não pode ser mau exemplo. Nós não temos o direito de ser mau exemplo de falta de articulação e unidade. E nós fomos isso nesse início de mandato.

No auge da crise, o ex-presidente Lula desembarcou em Brasília para atuar como interlocutor. Como Lula pode atuar sem melindrar a presidente Dilma? A reunião com o presidente Lula foi um pedido da nossa bancada para conversar sobre reforma política. Nesse caso, foi uma infeliz coincidência, ficou parecendo que ele veio aqui socorrer a presidente.

O PT está sem rumo? Outro dia eu disse que o PT tinha que tomar juízo. O PT é o maior partido do Brasil, tem as duas maiores lideranças para 2014, que são a presidente Dilma e o presidente Lula. Os outros estão atrás. Só precisamos ver na hora certa quem vamos escalar.

Lula será candidato em 2014? O pior que pode acontecer é a presidente Dilma dar qualquer sinal de que não será candidata em 2014. Se acontecer isso, é o princípio do fim do governo. É o tipo de assunto que deve ser proibido de ser tratado agora. Quem vai decidir isso não é o presidente Lula, é a presidente Dilma e o calendário adequado é o começo de 2014. Não caberá ao PT e aos partidos aliados. É Dilma quem deverá dizer se disputará a reeleição ou se o seu candidato será Lula.

Como fica o PMDB nesse contexto? Nos casamos com o PMDB. Casamento feito no cartório com a Dilma e o Temer e colocado em referendo popular para ver se aprovava ou não. Nós começamos o governo com um casamento de papel passado e queremos continuar levando vida de solteiro. Não dá.

O senhor está sendo processado pela Procuradoria da República no Acre acusado de ter fraudado uma licitação em 2005 para a compra de material destinado ao Sistema de Inteligência do Acre... Não sou ordenador de despesa. Quem deve responder sobre esse assunto é o antigo secretário de Segurança Pública do Acre (Antônio Monteiro Neto).