Depois de promessas feitas pelo ministro da Fazenda indicado, Joaquim Levy, o Banco Central colocou suas fichas na futura equipe econômica e na expectativa de que não terá mais de trabalhar sozinho contra a inflação. Na ata da última reunião de 2014 do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, a instituição disse que, se Levy entregar o combinado – economizar o equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e reduzir subsídios –, a política fiscal pode deixar de ser combustível para o custo de vida.

Diante da expectativa de ajuda, a instituição sinalizou que a alta de juros será usada com “parcimônia” e que, mesmo prevendo um 2015 difícil, com preços em alta, a estratégia combinada entre Fazenda e Banco Central deve surtir efeito.

O entendimento é de que, ainda no próximo ano, o IPCA entre “em longo período de declínio” e, apenas em 2016, alcance o centro da meta, definida em 4,5%. O presidente do BC, Alexandre Tombini, disse em audiência no Congresso, na terça-feira, que a inflação próxima de 4,5% pode, inclusive, ter caráter permanente.

Com a inclusão desse cenário na ata, no entanto, o BC reforça a necessidade dessas medidas para corrigir desequilíbrios econômicos. Essa também não é a primeira vez que a autoridade monetária, na gestão de Tombini, projeta que a inflação deve ceder e alcançar o centro da meta – previsão que nunca se concretizou. A última vez que o IPCA esteve em 4,5% ou menos foi em dezembro de 2009, quando atingiu 4,31%.

Preocupação

A ata do Copom de dezembro traz um cenário bem mais preocupante para a inflação do que o documento de outubro, quando alguns diretores votaram pela manutenção da Selic. Nela, a diretoria do Banco Central considera, inclusive, a possibilidade de elevação dos preços no curto prazo. O documento aponta o dólar e a alta dos preços administrados como as principais catapultas para a inflação.

 

Discurso

Tombini reforça que BC fará o necessário para reduzir inflação

 

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse ontem que o BC fará “o que for necessário” para viabilizar um cenário de inflação mais benigno no período de 2015 e 2016, reforçando a mensagem de combate à alta de preços. Em almoço de fim de ano da associação dos bancos, Febraban, Tombini reafirmou os prognósticos que aparecem na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Tombini voltou a dizer que a política monetária restritiva é um eficiente instrumento no controle dos preços, acrescentando que uma política fiscal é um complemento a esse trabalho. “Diversos fatores apoiam esse meu entendimento a respeito da trajetória futura da inflação. O mais importante deles, naturalmente, são os efeitos cumulativos e defasados das ações de política monetária adotadas pelo BC.”

Em relação às contas externas, ele ressaltou que as perspectivas para 2015 são favoráveis, sustentadas por maior crescimento mundial, depreciação do real e ampliação da produção interna de petróleo. “No próximo ano, o balanço de pagamentos brasileiro permanecerá integralmente financiado pelos fluxos de capitais de longo prazo, principalmente IED (Investimento Estrangeiro Direto).”

 

'Parcimônia' é aposta no prometido controle fiscal e de subsídios

ANÁLISE: José Paulo Kupfer

 

 

Os termos da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada permitem concluir que o aumento de 0,5 ponto porcentual na taxa básica de juros então decidido foi mais uma forma de atender às expectativas do mercado do que uma necessidade da política de controle da inflação. Pelas justificativas da ata, a "parcimônia" nas próximas elevações dos juros, anunciada no comunicado emitido ao final do encontro de quarta-feira e que desconcertou os analistas, poderia ter sido adotada já naquela ocasião.

 

Depois da divulgação da ata, sem grandes novidades em sua essência, os analistas continuaram divididos em três grupos. Um deles, menor, passou a esperar apenas mais uma alta de 0,25 ponto, em janeiro, com o atual ciclo de alta nos juros se encerrando com a taxa em 12% ao ano. Outro, intermediário, aposta em três altas de 0,25 ponto, com o fim do ciclo em abril. O mais numeroso deles prevê mais duas elevações - 0,5 ponto, em janeiro, e 0,25 ponto, em março -, fechando o ciclo com juros a 12,5%.

 

Fica tão claro quanto possível, em se tratando de uma ata do Copom, que o Banco Central conta com uma ação mais ativa do novo governo no controle da política fiscal e de subsídios ao crédito (leia-se BNDES) para aliviar a política monetária e efetivar a controversa "parcimônia" nas futuras elevações dos juros básicos. Não só o fim dos repasses do Tesouro para o BNDES, que provocam impacto na dívida pública e ameaçam o grau de investimento, mas também a elevação da taxa de juros de longo prazo (TJLP), reduzindo os subsídios do Tesouro na concessão dos empréstimos, estão nessa conta.

 

As incertezas em relação ao comportamento futuro da taxa de câmbio sugerem uma atitude de cautela em relação à parcimônia da ação do BC. Afinal, como ele mesmo reconhece na ata, a inflação só deve começar a convergir para o centro da meta em meados de 2016, mantendo-se até então próxima ao teto, depois de voltar a superá-lo no começo de 2015.